Thursday, May 24, 2007


As Regras da Vida


Eu gosto muito de alguns livros de auto-ajuda. Chama-se assim à literatura cujo objectivo principal é, como o próprio nome indica, alguém se ajudar a si próprio por via de estratégias pessoais de várias categorias: combate ao stress, alimentação, relações interpessoais, etc. Os livros aconselham, às vezes com alguma graça, a voltar a tomar as rédeas da própria vida. A questão que se coloca é: de que adiantam estas leituras? Pelo menos algumas divertem. Das que tenho feito nestes últimos anos, e confesso que sou uma consumidora do género, gosto daquelas menos light, mais pesadas, que estudam a interacção da mente com o corpo, obras escritas por médicos, psiquiatras, psicólogos. As leituras ligadas à secção da espiritualidade são mais complicadas de seleccionar porque se encontra de tudo: o mau, o banal, o trivial até ao budismo mais elaborado, reiki, chacras, vidas passadas, ressurreição.
Enquanto ser humano, não posso dizer que tudo isso não me interessa, acho imensa piada a tudo aquilo que nem consigo imaginar mas que gostaria que acontecesse, como a vida para além da morte, adoro a interpretação de sonhos, embora não lhes encontre sentido nenhum e por aí fora. No fundo, sou uma céptica que gostaria de ser crente.
Encontrei ontem aqui na Universidade um livro que me interessou, muito simples, francamente simples, mas sem ser banal. Para além disso, divertido ao máximo. Chama-se «As Regras da Vida», tendo como mensagem principal, claro está «Para ser uma pessoa mais feliz, mais tranquila e mais realizada». Foi escrito por um profissional em auto-ajuda, isto é, alguém que fala só a partir da experiência própria, portanto é um livro light, não tem fundamentações críticas e científicas de maior, nem faz pretensão de as ter. A Patrícia já está a amaldiçoar-me com a frase «Mais valia teres-me dado o dinheiro a mim!». Mas o livro vale pelas bejardas doces que atira para o ar, que ficam entre o conselho e a boca foleira, do género «Deves pensar que és esperto e que não te acontece nada, não?».
Em primeiro lugar, o que têm de comum todos estes livros? Um, ajudarem só quem os percebe (e quer ser ajudado). Dois, dizerem sempre que tudo faz sentido neste puzzle estranho e desaustinado que é a vida. Amigos, acreditem. Eu quero mesmo que tudo faça sentido. Sou dessas pessoas impulsivas que é capaz de partir as peças do puzzle só para as peças caberem noutro sítio qualquer…não aconselho a ninguém. Então, enquanto eu lia o livro no comboio pensei uma coisa, quem sabe também faça sentido: pensei escrever o que aprendi. Pronto, em trinta anos uma pessoa aprende imenso, mas…será que sim? Se há coisa de que me convenço é que não aprendi nada sozinha. Sozinha estava predisposta a aprender. Por isso, e se tudo fizer sentido, houve lições de vida que consegui aprender e outras que me passaram ao lado com toda a rapidez do mundo.
Eis algumas de que Richard Templar fala que me parecem muito importantes. Cito apenas as minhas favoritas:

“ A sabedoria não consiste em não cometer erros, mas em aprender a escapar depois de os cometermos com a nossa dignidade e sanidade intactas “.

“ Fracassar é aceitável. Visar um objectivo de segunda não é. “

“ Não é possível saber de que parte dos nossos esforços resulta a melhor recompensa “

“ A dignidade tem a ver com o auto-respeito e uma auto-estima discreta “

“ Manter a fé é algo que se faz. Ser bonzinho é tentar converter os outros. “

“ A base é onde estávamos antes de nos perdermos “

“ O estabelecimento de fronteiras pessoais significa que deixará de ter de recear as outras pessoas “

“ Atirar dinheiro para cima do problema não o resolve, apenas o adia. “

“ Sentirmo-nos culpados é um bom sinal “

Acho-as todas frases magníficas, porque mesmo quando parecem do mais simples do mundo, exigem o melhor de nós.

Wednesday, May 16, 2007

Desaparecimentos

Hoje deu-me para fazer investigação policial. Aliás, era carreira que muito gostava de ter seguido na vida, vá-se lá saber porquê, mas quando se é míope, muito míope, encontramos caminhos vedados logo à partida. Há uma amiga minha míope que andou na aviação e me disse que os miopes encontram estratégias magníficas para tudo. Do último lugar na lista na prova de tiro passou para o topo depois de encontrar uma estratégia que lhe permitisse nunca falhar o alvo. A maior parte das pessoas determinadas é assim, encontra uma estratégia de salvação para fazer o que realmente quer. Todavia, encontrei nos livros aquilo que procurava e não fiz carreira na investigação policial, faço só na investigação científica.
Sempre achei que teria de haver pelo menos duas qualidades nas pessoas que fazem investigação policial: força de vontade e um carácter incorruptível.
Ontem via o programa da Fátima Campos Ferreira, que detesto – o formato do programa e a própria apresentadora, que fala como se o mundo desabasse sobre a cabeça de todos nós a cada segundo – programa que falava em crianças desaparecidas. O enfoque dado ao caso da menina desaparecida no Algarve extrapolou para outros casos portugueses não resolvidos. Os desaparecimentos são, tanto quanto sei, raros em Portugal e as nossas redes de pedofilia estão montadas em consonância com as estrangeiras, caso contrário seriam facilmente desmontadas, visto que os pedófilos por aqui parecem formar uma espécie de associação de tarados que se conhecem todos uns aos outros.
Então apareceu o caso que sempre me chamou mais a atenção, não só pelos estranhos contornos mas, e acima de tudo, pelo sofrimento da mãe do rapaz, a Filomena Teixeira, que tentou tudo e mais alguma coisa para recuperar o filho. Hoje fui ler tudo o que havia nos jornais sobre a notícia e fiquei chocada com a quantidade de pistas, aparentemente negligenciadas pela PJ, que surgiram logo no início do caso. E a questão é mesmo essa: as primeiras horas são cruciais na resolução destes casos. E não só passaram essas horas, como passaram meses até aparecer uma foto do rapaz na Caras e um vídeo pornográfico em que era espancado. Em ambas, a mãe reconheceu o filho, hoje não com onze anos, mas vinte, apesar de a foto que circula ser a de uma criança e não a de um adulto.
Filomena Teixeira é daquelas pessoas que apetece ajudar, não só por solidariedade, mas pela compaixão mais profunda do que é ser mãe. Quer dizer, eu não sou mãe. Mas suponho que, se um filho me fosse, ainda criança, roubado daquela maneira, seria como ela própria se auto-descreveu «uma pessoa revoltada». Há nove anos não se falava tanto em desaparecimentos e talvez a PJ nem tivesse meios suficientes para seguir pistas como tem hoje. A família investiu tudo o que tinha na descoberta de Rui Pedro, sobretudo o avô, que o Correio da Manhã descreve como «pessoa de posses». Eu pergunto se é mesmo preciso ser-se «pessoa de posses» para alguém fazer alguma coisa por nós e nos prestar a ajuda mínima, em caso de doença, acidente, crime. Quando vou para o hospital só sou atendida se tiver posses? A história das posses irrita-me. Todavia, nem mesmo assim Filomena Teixeira e o pai conseguiram as pistas certas que os levassem ao rapaz e ainda hoje permanece o mistério: onde está ele? Com tanta mediatização e reconhecimento poderá ter acontecido o inevitável, alguém o ter morto. Mas será que uma mãe não prefere saber, seja lá o que for que tenha acontecido ao filho?
Outros casos de desaparecimento existem por este país fora sem resolução, e outros com tristes resoluções. Lembro-me bem do gang do Multibanco, assim se chamava ao conjunto de cinco (acho) elementos, também com uma mulher pelo meio, que raptava mulheres sozinhas que estas iam às compras. Metiam-nas na bagageira, extorquiam o código Multibanco, por vezes amarravam-nas e violavam-nas. Uma coisa do outro mundo aqui mesmo ao lado, na Costa da Caparica. Aconteceu há uns anos atrás. Uma jovem de vinte e poucos anos desapareceu num jipe durante quatro anos. Chamava-se Ana Cristina e não lhe esqueci mais o rosto e o sorriso. Depois de os pais e a polícia seguirem dezenas de falsas pistas, sobretudo em Espanha, apareceu o corpo da jovem, enterrado ali perto. Nunca tinha saído dali da Costa. A história foi que um dos assaltantes era seu conhecido da escola e isso definiu o seu triste e fatal destino. O pai, completamente abalado, disse que embora tivesse perdido a filha, tinha ganho uma certeza: a da sua morte. Do gang do Multibanco, um elemento suicidou-se e dois foram linchados na prisão.
No outro dia lia um daqueles jornais grátis, o Destak ou o Metro e deparei-me com um colunista que dizia, e muito bem: na escala de sofrimento, onde fica o desaparecimento de um filho? Provavelmente acima de um terramoto…
Filomena Teixeira é o rosto da determinação, mas também do abatimento e da tristeza, com uma juventude e beleza roubadas pelas circunstâncias atrozes da vida. Pergunto-me muitas, mas muitas vezes: Deus escreve mesmo direito por linhas tortas?

A Bela e o Mestre – o fim e a vitória

Eu disse que anunciaria aqui no blogue as belas e os mestres que ganhassem e aqui vai: em terceiro lugar o Gil e a Sandra, em segundo Jaime e Vera e em primeiro a Marina e o Lipari. Com o tempo, aprendi-lhes o nome de cor, graças ao facto de ficar acordada até mais tarde aos Domingos. Ontem ali fiquei, a ver quem seria o vencedor. Tendo em conta os objectivos do programa, é capaz de ter sido uma vitória justa. A tal Marina, que ninguém sabe mas é miss Portugal, levou a água ao seu moinho, mostrou ser esperta e saber jogar e rematou com um apontamento emotivo delicioso, quando lhe perguntaram o que faria com o dinheiro, prontificou-se a dá-lo ao pai, uma vez que este «precisava mais do que ela». Muito bem! O público gosta e fica sempre bem dizer que não vai viajar para as Caraíbas mas sim ajudar o pai, a avó, o filho deficiente ou o irmão moribundo. São histórias destas que levam o público ao rubro. Os outros concorrentes seguiram-na, mas sem sucesso. À excepção dos rapazes, que me pareceram honestos, as mulheres soaram a falso, excepto Sandra, que disse «o dinheiro é para começar a minha vida». Egoísta, mas sincera.
De resto, nada de novo, excepto aquela prova em que a bela tem de reconhecer o seu mestre de uma forma peculiar: pisoteando os rapazes todos vendada. Em primeiro lugar, achei muito perigoso para eles, porque há partes do corpo mais expostas, e passo a citar: pénis e testículos, que foram quase pisoteados sem necessidade nenhuma. Uma delas identificou o seu par porque este «tinha borbulhas no peito», o que o apresentador considerou nojento e ofensivo mas que, tendo em conta o jogo que era, até me pareceu boa estratégia ir lá pelas borbulhas.
As provas de música e dança também não foram o forte do pessoal. Quando Jaime e Vera cantaram o apresentador saiu-se com esta «Duas palavras para vos definir: que medo!». E realmente todos eles metiam medo ao susto. As perguntas não saíram do tom do costume, oscilaram entre cultura geral e verniz de unhas.
Finalmente, a apresentadora, toda de vermelho, pediu ao júri uma apreciação final do programa, da sua participação e dos seus favoritos. Desta vez a Bobone pareceu-me a mais sábia, porque não fugiu à questão, como a Marisa Cruz, e respondeu achar que Marina e Lipari deveriam vencer, mas que o público não os escolheria, reiterando que tinha direito à sua opinião. Mas pelos vistos acertou em cheio. Depois da célebre frase «os sem-abrigo deviam assumir a sua condição» ou «os pobres assaltam e os ricos são assaltados», a Bobone não deixa saudades… De resto, o argentino e o Zink não deram uma para a caixa, sendo que o tal Carlos continua a falar um dialecto imperceptível ao comum dos mortais portugueses. O Zink também deveria perceber que a crise dos 40 é, supostamente, passageira, quer dizer, deixa sequelas, como a menopausa, mas não há necessidade de gritar aos quatro cantos que se está naquele estado. E ele continua a gritar e a fazer piroetas. Mais uma diferença entre homens e mulheres: olha se nos lembrássemos de berrar «fiquei sem menstruação, mas continuo uma mulher!».
Gostei quando ele disse que o programa mais não era do que «terapia ocupacional», termo normalmente utilizado para pessoas a recuperar de doenças mentais ou para velhos internados em lares da 3ª idade.
Por outro lado, achei que a apresentadora, a tal Iva Domingues que era Iva Pamela, foi discreta, saiu-se bem, se bem que ao longo das galas explicasse as coisas quinhentas vezes, despediu-se com a descrição com que entrou. Só o Zé Pedro estava mesmo desejoso da final, até lhe escapou um célebre «Bom caminho para as vossas casas!». E a Marina e o Lipari lá foram ajudar os pais e salvar as baleias com cem mil euros…Parabéns?

Os puzzles da vida

No outro dia, na minha milionésima conversa marital acerca do sentido da vida, entrei novamente em confronto com a teoria pessimista que o meu marido tem do universo. Não que eu alguma vez tenha sido uma optimista, porque sei que nunca fui, mas não sou de ficar parada a olhar, isso nunca. Tudo se muda com atitudes e palavras e essa sempre foi a minha filosofia. Como diria a minha amiga Diana, quando alguma coisa não está bem para mim, ao menos esperneio. Não sou de desistir, embora, quando estou desmotivada, desista em definitivo das coisas, dos projectos, das pessoas. Preciso de motivação para chegar às pessoas, estar com as pessoas, começar um trabalho. Sei que há sempre uma altura de desmotivação, mas sou obrigada a encará-la como passageira. Feliz ou infelizmente, acho que há coisas que deixei para trás há muito tempo, e outras acho mesmo que deveria deixar, mas não consigo. É sempre assim, suponho eu.
Condeno-me muito pelas minhas fraquezas. Não me condeno excessivamente por estar triste ou descontente com a vida. Condeno-me por deixar que sejam os outros a definirem esse meu estado de espírito. Há pessoas que são como as enchentes, arrastam-nos para uma maré de pessimismo. O seu espírito, a sua energia perturbam-me porque são suicidários. É como se as pessoas se estivessem a suicidar lentamente, mas estivessem tristes porque não arrastam os outros com elas. Claro que do lado de lá a coisa não é bem vista assim. Do lado de lá é sempre «só há esta maneira de viver, vive-a para estares connosco». E não é nada verdade. Não há só maneiras tristes de se viver. E também não temos de ser arrastados para o negativismo, embora às vezes custe.
Enquanto o Pedro acha que não há justiça divina, eu procuro uma solução de compromisso. Para mim tem de haver, senão eu construo-a com as próprias mãos. Não se trata de vingança, trata-se de remeter as pessoas ao lugar que merecem, doa o que doer. Trata-se de dizer o que se pensa. E depois agir em conformidade com isso. Não é tão simples como descrevo, mas eu vejo a minha vida como um puzzle: as peças estão misturadas, são imensas, mas tem de haver uma arquitectura. Se realmente não houver, como diz o Pedro, faço-a eu.
Uma das maneiras que eu tenho de viver a vida é pensá-la como um tabuleiro de xadrez com três tipos de peças: brancas, negras e cinzentas. As brancas são as peças que me permitem avançar, e a estratégia de jogo é rodear-me delas para ganhar, fortalecendo-me e fortalecendo os outros jogadores: são os amigos, naturalmente. As peças pretas são as pessoas que não me permitem avançar. Delas fazem parte uma panóplia de gente que brinca com a minha honestidade e tenta atrapalhá-la. Não têm de ser pessoas más, podem ser só pessoas depressivas a beber veneno que querem que eu vá beber do mesmo cálice. Podem ser familiares desesperados por atenção que não me deixam respirar. Podem ser alunos mal educados. Podem ser patrões desonestos. Podem ser pessoas injustas que simplesmente me distinguem por motivos subjectivos, como ser mulher. Depois há as peças cinzentas. São as pessoas de transição. As que eu não sei bem se me ajudam ou desajudam, mas que muitas vezes representam um perigo potencial, ou, ao contrário, as que já deixaram de ser perigosas porque fugi delas, já não me atingem nem magoam, nem perturbam mais o caminho. O jogo é sempre ludibriar as pretas, rodear-me de brancas, ter cuidado com as cinzentas. Um jogo fez-se para ser ganho, não para perder.
Ontem fiz uma coisa que queria fazer há muitos anos: comprei um puzzle gigantesco de mil peças. Escolhi a companhia de centenas de bonecos da Disney, entre eles o Mickey, a Minnie, a Pequena Sereia, o Winnie, The Pooth, a Cinderela, a Branca de Neve e os Sete Anões, a Dama e o Vagabundo, etc. Adoro-os. O Walt Disney dizia que amava mais o Mickey do que poderia amar qualquer pessoa. É um bocado doentio, mas se pensarmos no Schultz e o Charlie Brown percebemos isso. Schultz deixou de desenhar os bonecos quando se despediu da vida. Aquilo era a vida dele. Amava-os profundamente.
Levei a minha infância a ler o Pateta e o Mickey, a odiar o Bafo de Onça, a sonhar uma história como a da Cinderela (que me fez odiar madrastas, mesmo sem saber que um dia ia tê-las), a achar todos estes bonecos lindos por preconizarem o a preto-e-branco que já não temos na vida comum, de todos os dias. Estes bonecos pareciam saber distinguir o bem do mal melhor do que qualquer ser humano.
De ontem para hoje percebi que o stress se desvanecia mais facilmente construindo um puzzle do que indo ao Pilates. Não desculpa as minhas faltas ao Pilates, bem pelo contrário, estou sempre dobrada sobre a mesa e sobre mil peças, o que não me faz nada bem. Só que adoro. Adoro escolher peças, tentar encaixá-las, fazer os bonecos. Tão bom como pintar anões com acrílico. Mói um bocado e torna-se uma obsessão fazer aquilo, mas ali estão a figuras da Disney, partidas em mil pedaços, quase a falarem comigo, quase a pedirem para serem reconstruídas. Lentamente, elas vão aparecendo. A família dos Dálmatas foi a primeira a aparecer. Quem dera que a vida fosse assim, que lentamente percebêssemos onde colocar cada peça para poder tudo fazer sentido…



O cepticismo

O que separa a minha antiga percepção do mundo da de agora é uma coisa bastante simples: o cepticismo. Eu dantes acreditava que era céptica, mas não era, e hoje sou mesmo, em todo o seu esplendor. Simplesmente não acredito. Não acredito em Deus, em milagres, na Virgem Maria, na Bíblia, nos políticos, nas pessoas em geral. Estamos todos tão conformados na desgraça, na tristeza, na conquista de dinheiro que nos permita tirar férias e comprar uma casa nova, que não percebemos isso mesmo: que nos tornámos estúpidos. E cépticos. Acho que uma criança liberta muito, no sentido em que nos ensina como era o mundo antes de sermos estúpidos. Para além disso, uma criança desafia, o que eu acho fantástico, significa que nascemos com esse espírito aventureiro e destemido, mas que depois, com a estupidez, perdê-mo-lo pura e simplesmente, sem dó nem piedade.
Não gosto muito de me vitimizar, mas acho que, em alguns aspectos da minha vida, sou muito azarada, mais do que o comum das pessoas. E acho que é porque sou muito céptica, ou então o contrário, porque sou azarada tornei-me céptica – no meu caso, claro, porque há azarados muito optimistas. Não sou nada optimista. E não me refiro à poluição, à guerra mundial, ao desemprego, à política, ao consumismo desenfreado ou à obesidade. Refiro-me mesmo ao ser humano, ao interior, ao que somos, como pessoas, e como nos mostramos. Há muitos anos que para mim sentir alegria é raro. É raro e quando sinto alegria fico com a sensação de que me estou a trair desenfreadamente, porque nunca estou alegre e, se procurar bem, não há muitos motivos, e os que há são destronados pelas peças cruéis do jogo em volta.
Não posso dizer que tenha recuperado da morte da minha mãe. Poderei vir a recuperar. Mas hoje não recuperei, essencialmente porque poderia ter aprendido muito mais e melhor, nomeadamente a desacreditar as pessoas de princípio, a não acreditar nelas. Só que a esperança faz parte da humanidade e do ser humano, e cá dentro sempre houve essa semente plantada. Podem dizer-me que estou a ser cruel em não acreditar em quase nada, mas um dia uma amiga minha disse-me «Acreditas em ti própria e já não é nada mau». Muitas vezes também não acredito. Acho que as pessoas têm muita tendência para abusar de mim e sei-me culpada, porque realmente os outros só vão até onde deixamos. Por muito que eu esperneie e responda mal (se é que faço isso a tempo e horas) eles continuam com um sorriso a olhar para mim, como se eu fosse louca e devesse levar um tiro na cabeça pela minha loucura. Ser bem educado saiu de moda há muito tempo e eu nem dei conta…
Um dia entrei numa casa pior do que aquela em que sempre vivi e vi isso: ali, ser mal educado é que é bom, é que conta. Pode não ser correcto, mas é o que funciona para não haver problemas: a agressividade. Por isso, para mim, que sempre acreditei que um ambiente harmonioso exige discussão mas não agressividade, «aquilo» é o meu oposto, e com opostos não se brinca, bane-se mesmo da vida. Lentamente, vou aprender a banir o que não me interessa e a ficar calada porque nada tenho para dizer. Também acabo por dar graças pelo facto de as pessoas na minha família não serem assim tão azedas e cruéis e, uma vez que são minha família, ter a liberdade total para as mandar calar, desligar o telefone na cara, dizer coisas à bruta, dar-lhes safanões, afastar-me, não me ligarem nenhuma e vice-versa, bater com as portas, ralhar com as insistências supérfluas em coisas ridículas, desfazer idealismos com uma só palavra, não ouvir queixinhas e berrar logo, em suma, ser fria. Este género aparente de «violência» é preciso, é necessário quando as pessoas nos dominam e estrafegam. Mas se as pessoas que o fizerem não forem da nossa família, a porra está toda aí: não podemos fazer o mesmo, ou melhor podemos, mas somos obrigados a pesar os prós e os contras. E é uma pena. Porque é o que apetece. Ignorar não chega. Apetece espezinhar como nos espezinham a nós, com a mesmo falta de elegância e de doçura, com a mesma crueza e até burrice, porque como eu digo sempre, um arrogante é alguém fraco que não se sabe defender, mas, do meu ponto de vista, é uma pessoa sem desculpa, visto que todos sofremos – e às vezes mais do que aparentamos – e não somos todos assim.
Quantas pessoas que andam todos os dias nos transportes não perderam os pais, os filhos, os irmãos, a casa, o dinheiro, se calhar mais do que uma vez? E não andam por aí a ver se estrangulam as pessoas…a diferença entre um bom e um mau ser humano está aí: na transformação a que estamos dispostos – ou não – a fazer dentro de nós. Estão a ver o meu cepticismo? Não ando por aí a ver pessoas disposta a evoluir muito. A evolução das pessoas passa muito pelo dinheiro, pelo domínio do outro, pela manipulação, pelo facilitismo. Desculpem a sinceridade, mas isso não tem desculpa. Não tem. Palavra.
A história do perdão e da condescendência é importante, mas tem limites, como todas as histórias. Não somos sacos do lixo dos outros, nem sacos de pancada. Se as pessoas querem gastar energia, então arranjem um desporto ou uma actividade desgastante qualquer. Mas não chateiem com coisas mesquinhas, com obsessões e possessões estranhas, com o intuito de assumir o comando da vida dos outros. Eu não faço isso, e quem me dera que algumas pessoas abrissem um olhinho só para ver o que eu vejo. Todavia, não ando por aí a gritar aos sete cantos que «eu é que sei o que é bom para os outros», porque sou esperta e sei que não vale a pena. Se um gajo gosta de uma namorada pérfida com cara de boa pessoa (para ele!), paciência, é deixá-la levá-lo nesse percurso sinuoso chamado «dependência». Uns dependem do álcool, outras da droga, e outros…de pessoas. Juro que vai dar ao mesmo, são os psicólogos que dizem. Uma pessoa que diz que outra faz dela uma pessoa de verdade que nunca foi é um doente. É como uma pessoa que se encharca em vinho dizer que não é bêbeda e sabe-se controlar muito bem quando bebe. Ó amigos, vão mentir para outro lado…
Pior do que tudo isto: porque é que a merda do dinheiro tem sempre tanta importância para estas pessoas, mas nunca fazem nada de jeito com ele sem ser tentar comprar os outros sem dó nem piedade?
O que faz as boas relações entre os seres humanos é uma coisa chamada reconhecimento. Reconhecermo-nos no outro é sabermos que, numa situação em que sejamos postos à prova nos nossos valores profundos, a resposta será a mesma: a honestidade e a verdade ou a desonestidade e a mentira. Há linhas cinzentas, caminhos menos directos, mas o geral vai dar ao mesmo. O que tenho visto é que comigo identificam-se as pessoas que dão as mesmas respostas que eu às questões mais complexas e também às mais simples. O que significa que há pessoas que preferia mil vezes não encontrar no meu caminho, mas que, por ordem cósmica (ou kármica) elas estão ali, muitas vezes para desajudar, outras vezes para nos ajudar a chegar à nossa lição de aprendizagem. Em relação às lições de aprendizagem, não sou tão céptica assim. Acho que um dia vou aprendê-las. Mas em relação às pessoas, predomina o meu cepticismo, puro e duro. Que lição pode aprender quem nunca quis aprender?

Sunday, May 06, 2007

Dia da Mãe

É um daqueles dias…gratos e ingratos. É um dia excelente para as mães. Um dia bom para os filhos. Um dia péssimo para quem não tem mãe…nem filhos. Tenho de ser franca, acima de tudo é um dia comercial, como o dia do pai, dos namorados, etc. Até o Natal, para mim, é demasiado comercial.
Depois da minha conversa acerca de famílias e de mães, assumo o meu cepticismo na totalidade. Há mães de se trazer por casa. Mesmo aquelas que aparecem nas revistas me parecem mães um bocado abimbalhadas. Quem lhes disse a elas que os filhos um dia vão gostar de aparecer em revistas do género? Não se pode ser diferente? Outras mães, como a Britney Spears são um autêntico desperdício… a mulher mente ao mundo a dizer que é virgem, pede desculpa pela mentira, depois tem filhos, anda com eles no banco na frente sem cinto, enche-se de comida de plástico, rapa o cabelo, bebe que nem uma esponja…ó amigos! A mulher nem devia ter vagina, quanto mais ser mãe. Ao menos a Paris Hilton não lhe deu para isso (ainda!). Até a Cicciolina (que este ano nos faz nova visitinha na feira porno) tem um filho. Coitado…Aquele horror de mulher, que depois de tantos anos não arranjou ainda um consultor de imagem que lhe diga que maquilhar-se como uma palhaça não é necessário para uma «actriz» porno, visto que a atenção das pessoas se centra noutros locais do corpo dela. Dantes circulava uma anedota muito engraçada sobre ela. O que é que o joelho esquerdo da Cicciolina diz ao direito quando ela morre e a metem no caixão? «Olá, afinal estavas aí…». Fechar as pernas seria, aliás, uma bênção para muitas mulheres e até para a humanidade.
Vá, venham com a conversinha parva de que todos somos iguais, temos os mesmos direitos, estamos no mundo com um propósito qualquer, etc. Eu não vou concordar. Raios que há mulheres que não deviam mesmo ser mães, e que…há outras que deviam mesmo ser, por uma questão simples: merecimento de carácter. Sabem o que é? É quando uma mulher «nasceu» para isso mas a natureza não lhe deu oportunidade, tempo, dinheiro, homem de jeito…e é uma pena. Depois vemos por aí mães arrependidas de serem mães e ainda uma outra versão dos acontecimentos: mães vocacionadas para falharem, que são aquelas que projectam nos filhos os seus desejos sem terem em conta o essencial: filhos são pessoas, não objectos, não sacos para transportar sonhos, frustrações e lixo emocional dos pais. Devemos sonhar duas coisas para os filhos: saúde e busca pessoal de felicidade. Mais que isso é exagero e transtorno. Preferem um filho médico que seja uma pessoa ruim, ou um filho talhante com bom coração?
Este é o tipo de mãe sem auto-estima. Depois há o contrário: a mãe narcisista. A mãe que tem filhos para lhe afagarem o ego e que os mima com o único intuito de os mostrar ao mundo «perfeitos», tipo focas amestradas. São as mães da aparência. Compram e vestem as coisas mais caras aos miúdos, que nunca se podem sujar nem dizer ou fazer asneiras. Estes filhos apresentam elevadas taxas de suicídio. Ou isso, ou se tornam mesmo focas amestradas, produtos fabricados por pais fúteis e sem valores de fundo.
Por toda esta negatividade que vos apresento, eu sei uma coisa: é difícil ser mãe. Mas mesmo mesmo difícil é ser boa mãe. É, como diz a Júlia Pinheiro, ensinar um filho a não precisar da mãe, todavia é amá-lo incondicionalmente, defendê-lo, mas saber também qual é o espaço dele. No fundo, a mãe é a figura que melhor tem de harmonizar dois opostos: um, ensinar que o mundo é um lugar perigoso no qual a mãe estará presente, muitas vezes, só nos bastidores, dois, que é obrigatório viver nesse mundo com valores, mesmo quando à nossa volta ninguém os tem. Talvez a minha mãe tenha sido mesmo mesmo boa mãe.

Antagonismos

Na Bíblia ensina-se que os outros podem ser cruéis mas que, se esses cruéis forem os pais, os irmãos, os primos, os tios, os sogros e cunhados (que vêm agarrados à família, sem nada podermos fazer, tipo pega-monstros), então a crueldade suporta-se bem, porque a família tem de viver em harmonia. Digam isso à Oprah, que em pequena foi violada pelo padrasto, digam isso a todos os que foram abusados física e psicologicamente por pais ou pessoas próximas dos pais. Não existe maior forma de violência do que a sexual, sobretudo numa altura da vida em que «sexualidade» é só uma palavra distante, que distante deve ficar. Aos dez anos, que sabemos acerca de nós mesmos? Muito pouco. Quanto mais recuarmos nas gerações, mais pessoas ignorantes encontramos. A minha avó teve um filho aos vinte anos, o meu pai, e nem sabia de onde vinham os bebés, pensava que era a cegonha que os trazia.
Todavia, a família parece ser a fonte da maior parte dos nossos problemas existenciais, das nossas maiores frustrações, dos nossos sonhos gorados. Queimamos anos da nossa vida a aturar mães manipuladoras, pais cruéis, irmãos viperinos e, anos mais tarde casamos e recomeça tudo de novo, vêm os anexos (sogros e cunhados) ou, como diz a Patrícia e muito bem, os «danos colaterais». Pois. Deviam ser. Mas nem sempre são. Porque os estilhaços de guerra nos atingem e magoam muito quem está do nosso lado e depois a nós. Só magoam se houver estima e amor. Sem isso não tocam sequer. Os filtros que supostamente deveríamos ter arranjado na nossa família são agora requisitados novamente, quando afinal deveríamos, mais do que nunca, guardar as armas e deixar o campo de batalha vazio.
Tenho de ser franca, odeio a vida familiar em muitos aspectos. Mostra o pior que o mundo tem, mas está ali, no nosso cosmos, que deveria ser preservado incólume. É mais triste ainda quando deparamos com casos de pessoas que deixaram simplesmente de se importar com a diferença entre o bem e o mal, neutralizando os efeitos de ambos. Vivem no cinzento, na amargura, na depressão. A família provoca isso muitas vezes: o descrédito no outro.
Se formos pensar bem, deveria ser ao contrário. Tudo o que é revista cor-de-rosa mostra as famílias sorridentes, com casas maravilhosas, profissões bem pagas e pessoas com cara de quem nunca teve problema nenhum em conviver com um filho-da-puta de um pai tirano, de uma mãe postiça, de um irmão sacana, de uma avó maldosa, sei lá…Eu sei que nem tudo é como se vê. Visto à lupa, são pessoas como nós. Ou então disfarçam. E é nos disfarces que as coisas começam e se prolongam toda a vida. Quando temos de enfrentar os piores disfarces, os mais cruéis, somos adultos e pais de família. Fará sentido?
Evidentemente que acredito na teoria que diz que as pessoas com uma família equilibrada são equilibradas. Tudo me leva a crer que sim. Vejo amigas minhas com famílias estupendas e isso reflecte-se no rosto, na vida e nas decisões delas. Estruturam as suas famílias sob esse exemplo, sob essa tutela. Pais fixes, avós fixes, filhos porreiros. Mas e quando não é assim? Há sempre variantes na equação: há pessoas com bons pais que se revelam uma boa merda, assim como há pessoas com pais palermas que são inteligentes. É a velha regra: não julgues ninguém pelos pais que tem.
A casa onde vivemos, as pessoas que nos acolhem sob a premissa que a minha amiga Rita, filha de pais separados, sempre me dizia «não pedi para nascer», deveriam ser um cosmos do qual nos orgulharíamos toda a vida. Um cosmos harmonioso, onde há lugar para brincar, discutir, teorizar, contrariar, reflectir, e acima de tudo, amar. Evidentemente, todos temos expectativas acerca dos outros, expectativas essas que se acentuam com aqueles que nos estão mais próximos. É normal esperarmos muitos dos filhos. Mas nunca nos podemos esquecer, quando somos pais, que quanto mais esperamos dos filhos, mais eles esperam de nós. Estaremos, por isso, a enredar-nos num emaranhado muito complexo de vivências emocionais. Como esperar um filho «perfeito» se nós não o somos? Em pequenos não tínhamos defeitos? Em adolescentes não contrariámos os pais? Em adultos não discordámos deles? Se não o fizemos, então estamos mal. Porque os pais esperarão de nós o impossível, aquilo que muitas vezes não lhes podemos dar, que é sermos deles, melhor, sermos como eles, ou parte deles.
É curioso como a educação e a forma como sempre fomos tratados tem tanta influência na nossa personalidade, mas também é curioso como duas pessoas, na mesma situação, se desembaraçam de uma forma completamente diferente.
Costumo dizer que o meu cosmos dito «organizado» (que já não era muito) ruiu com a morte da minha mãe. Mas no fundo, quem ruiu se não eu própria, a minha personalidade, a minha expectativa elevada sobre o outro? Como todos os seres humanos, eu queria a minha mãe eterna e invencível. Eu queria a minha mãe como ela se mostrava ao mundo e a mim. Como eu a via. Vi muitas vezes a minha mãe «perdida» no caos tremendo que era a sua vida, e que hoje compreendo melhor do que nunca, por viver situações similares. Possivelmente a minha mãe foi a porta aberta dessas mesmas situações: eu tinha e tenho de passar por elas para crescer. Essa é a maior descoberta do «eu»: eu não sou ela, nem parte dela, nem como ela. Se perdermos a mãe pequenos, temos um choque: perdemos a super-mulher (ou o super-homem, o pai), mas melhor ou pior adaptamo-nos, vamos procurar incessantemente compensações para o nosso desequilíbrio afectivo. Mas se perdermos o pai ou a mãe muito mais tarde – e eu perdi aos 24 anos – então o choque é avassalador, porque descobrimos uma miríade de coisas que dantes não víamos. Melhor, eu fiz esse exercício, ou porque sou assim e é a minha personalidade ou porque tive condicionantes de vida que me obrigaram a isso. Acredito que muitas pessoas, na minha situação, não se pusessem sequer em «posição» de aprender com o erro de nos identificarmos com as pessoas de quem gostamos. Eu sou eu. Não sou «nós», não sou «vós», não sou «ele», não sou «ela». Se fosse, o pronome pessoal na primeira pessoa não existia. A língua faz parte da compreensão humana e muitas vezes explica-a.
Se anularmos a falta de antagonismo com o mundo, anulamo-nos a nós próprios, porque amputamos o principal: aquilo que nos distingue das outras pessoas. Durante anos batalhei para descobrir o que é que eu tinha diferente das outras pessoas, porque eu queria ser eu. Era a escrita? Era a percepção do mundo? Eram os meus pais, os meus amigos? Era a minha vida? Mas é tudo isso e não é tudo isso. Porque se eu tivesse outra família, outros amigos, outras experiências mais neutras, mais fáceis, sem me achar por exemplo uma pessoa tão distinta dos meus pais e avós, ou sem ter de passar por um luto tão doloroso, talvez eu fosse como sou, podia ser que até mantivesse um espírito pessimista como aquele que tenho hoje.
Sou uma céptica em relação às pessoas. Acho que a maior parte das pessoas gere a vida do mesmo modo que um cão: salivando por um bocado de comida. Para umas pessoas é a companhia, para outras é o dinheiro, para outras a possibilidade de subirem na carreira, para outras é ficarem bem vistas, para outras é simplesmente chamar a atenção sobre si mesmas. Há muito pouco de «sincero» nas pessoas. Sinceridade é um bebé na rua nos sorrir sem propósito nenhum, só porque gostou da nossa cara. Com algumas pessoas conseguimos essa espécie de empatia instantânea, a vulgar mas sempre honesta «simpatia».
A família pode ser a prova dos nove, a prova de que a vida é muito difícil. Pode ser maravilhosa ou amputadora da nossa auto-estima. Pode ser harmoniosa ou o primeiro de muitos campos de guerra onde temos de combater. Pode mesmo ser a prova dos nove: será que nós conseguimos ser nós mesmos quando «eles» não querem? Será que nós podemos ser felizes à nossa maneira, mesmo quando eles pré-definiram e nos pré-programaram para sermos «felizes» à maneira deles? Uma coisa eu sei. Estamos bem connosco quando já não é um desafio provarmos aos outros, sobretudo família, quem somos como pessoas e o que valemos. Isso é ouro.

Wednesday, May 02, 2007

A Bela e o Mestre – Parte 2

Está quase a acabar, podemos bem suspirar de alívio, graças a Deus ou à TVI este programa já só tem quatro casais na casa (depois de um ter sido expulso no decorrer da semana, eu sei porque estive de férias e vi tudo no Goucha). Não sei se já repararam, mas tudo o que é mau prolonga-se. É igual às doenças coronárias, à diabetes, aos joanetes, à caspa que não sai com Linic, às dores menstruais que não passam de modo nenhum. É mau, pronto. Fica ali a moer.

Antes de mais, só apanhei um episódio domingueiro, isto é, uma gala, depois de a Clara Pinto Correia sair da sua função de júri. Não vejo uma pessoa como ela ali, mas parece que primava pela arrogância. Substituíram-na por alguém pedante, uma espécie de madame da casa da luz vermelha, Paula Bobone de seu nome. Qual é a profissão dela? Nenhuma. Escreve livros sobre etiqueta. Uns livros medonhos em que ela aparece na capa com umas luvas brancas e uma roupa ditas «finas», mas que a mim só me lembra uma coisa: prostituição. Deve ser, porque o nome Bobone ela herdou do marido, provavelmente o tal dinheiro que lhe concede «status» também. Mas mesmo que já fosse para o casamento rica, nada deixa a desejar como pessoa. A mim parece-me sempre que ela finge aquela arrogância de forma torpe, para enganar o comum dos mortais. Aparentemente, nem se mostra incomodada com o cheiro a suor do Zink, as suas maneiras bruscas, as suas interrupções pueris e nulas, nem pelo argentino chamado Carlos, que fala castelhano deturpado e que custa ver porque, sendo uma pessoa bem disposta, não está ali a fazer nada. Com quem dormiu ele para ser júri? E a Marisa. A Marisa Cruz Pinto, que me parece nada dever à inteligência, mas que também não é pretensiosa, e está bem ali, foi misse e é casada com o João Pinto, duas opções que lhe concedem o estatuto ideal para ser «bela», ou «estúpida», porque ali corresponde exactamente ao mesmo.

A questão é: como é que pessoas tão estúpidas avaliam pessoas ainda mais estúpidas? Pronto. O programa é para a palhaçada, claro que é. Só pode ser. O Zink tem mais responsabilidades: é professor universitário e vai para ali babar-se cada vez que uma mulher aparece de saltos e mamas proeminentes esmagadas num decote profundo. Aquilo parece um desfile de fruta, daquela fruta boa de se ver e uma merda para se comer, daquela fruta que sabe a sabonete, mas é gira, tem um invólucro fantástico e delicioso, palavras da Bobone, que se farta de avaliar os sapatos das meninas. Eu vou ser franca: o bom do programa é as meninas serem bonitas e as vestirem bem, realmente, porque de resto…é tudo mau, é tudo, como diria a profª drª Vitalina Leal de Matos nos seus exames de Estudos Camoneanos, sofrível. Aquilo parece retirado de um sonho erótico do Zink, que deve ser o homem com mais erecções por minuto.

Passa uma menina e vem o assobio, o piropo, a boca foleira. E o que é que a menina vai fazer? Vai ser avaliada. Portanto, há muito de envolvência porno erótica naquilo tudo. A menina é chamada ao quadro. Faz contas de minissaia e saltos altos. Demora a raciocinar porque é burrinha e no fim dá saltinhos para as mamas baloiçarem e os homens vibrarem e a Paula Bobone dizer «gostei dos sapatos». É o sonho de qualquer professor de meia idade como o Zink, que nada tem para dar e à mostra só está uma barriga proeminente. Mostra-se chanfradinho, tolo, senta-se ao lado delas a ver se suspiram, mas ninguém suspira…nem a Bobone.

O que é que aprendemos com o programa? A não sermos parvos ao ponto de ver «aquilo» e mudarmos de canal logo no genérico. Só isso, porque cultura geral não há, inteligência não há. Ali avalia-se se as pessoas sabem a que artéria foi operado o Eusébio na última semana, e onde foi a actriz Margarida Villanova passar férias. Cultura geral. Ai ficamos a saber que tivemos uma ministra da educação chamada «Ana Paula Leite» (bem melhor do que Manuela Ferreira Leite) e um grande actor chamado «Soldado», pai da «Joana Soldado» (nem o parentesco a bela acertou, porque quem ouve Jesus é a filha Alexandra, não a neta Joana). Quando o apresentador, outro cromo triste, tentou ajudar dizendo à bela «troca o d pelo n» a rapariga ficou confusa. E a Bobone a rir e o Zink «é um actor que não chega a general», como se isso ajudasse…Outra muito boa foi a rapariga que tinha de adivinhar quem era o Koffie Anan, e o apresentador «como se diz café em inglês?» e ela nada. Melhor foi ainda o Anthony Hopkins, vai o apresentador, todo bondoso, a ajudar, «como se diz pele em inglês? Você sabe que estuda para esteticista», e a bela «mas eu estudo francês, e nunca soube como se diz pele em inglês». Era «skin». Já agora…ajudava alguma coisa ela saber? Eu ajudo: Hopkins= Hope+Skin. Raciocínio do apresentador, não meu. Uma única fotografia foi bem identificada: Marilyn Monroe. Porque será? Graaaande actriz, de maravilhosas pernas e decotes, como não saber? À Edite Estrela coitada, chamaram-lhe tudo: Elisabete Estrela, Ana Estrela…

A outra parte, a das contas, a da matemática, também me impressionou. Não são «elas», as belas, coitadas, que estão mal, é a sociedade que está a dar relevo a uma coisa triste: as pessoas não sabem somar, subtrair, dividir, multiplicar…nem que seja por dez. Lembram-se da conversinha dos nossos pais e professores: uma vírgula para trás, outra para a frente? Esqueçam, elas nem isso sabem…Como diria a Bobone «ai que espectáculo triste e divertido ao mesmo tempo!». O merceeiro onde eu ia com a minha avó não devia achar…E os problemas de matemática? Poder-se-ão chamar assim? Acho que não. «As belas foram comprar uma camisa de 450 euros ao Rui Zink. Quanto pagou cada uma?». E não é que a rapariga se engana…por uma vírgula? E O Zink na hora da votação diz-lhe «olha, querida, toma 2 valores, não, 20, é a diferença de uma vírgula. Dou-te 20 valores porque nunca recebi uma camisa de 450 euros, tá?». Portanto, o programa é pedagógico. Se não sabe, leva castiguinho, mas como teve graça, sai do castiguinho. Melhor ainda foi aquela conta que deu 9,6 rebuçados a cada bela. O que é 9,6 rebuçados? Cada uma recebeu um rebuçado e metade de outro comido pelo Zink? Não sei…

Também gostei muito de uma prova física de capoeira executada pelos rapazes. Não vi, mas gostei na mesma por causa dos comentários que a prova suscitou. A Bobone, cultíssima, não sabia a origem da capoeira, e o Zink, o professor, explicou «Era uma arte marcial praticada pelos escravos, mas como era proibida disfarçava-se em dança». Acho que ele inventou um bocado e depois extrapolou para a cultura geral, sim, porque o programa assim o exige. «O maior exportador de escravos era, era Port…Port…» e a Bobone completou orgulhosa «BRASIL!». Parecia o velho programa da amiga Olga (UAU!). Ficámos a saber que Portugal exportava escravos (cá para mim era intermediário, a África é que exportava, mas tudo bem) e que Brasil se escreve com «P». Depois, dizia o Zink para completar a questão, o importante é saber que o Brasil é melhor que Portugal em tudo: no tempo, na alegria de viver, nas mulheres…ah pois! É isso mesmo! Gajas! Gajas! E vem o apresentador Zé Pedro, ex da Rueff, «Mas aqui não precisamos de guarda-costas e temos mulheres muito bonitas!». E a Bobone, cultíssima: «Mas Zé Pedro, você é pobre. Os pobres no Brasil não são assaltados, são assaltantes». Pois é. Quando eu achava que os comentários não podiam descer mais, aí está um comentário que me irrita: a assimetria social. Ela vive bem e nós não. Ela tem os dentes arranjados e nós, os pobres, temos os dentes podres. Ela pode andar na moda, mas nós, gajas depauperadas que nem a Floribella, andamos a carregar sacos das compras (frase da Bobone há uns anos atrás). Ela vive em Cascais e dá um beijinho ao de leve (segundo a própria disse ao apresentador, «sem cuspo, que enoja»), nós moramos em Barcarena e Queluz de Baixo e damos dois beijinhos molhados. Ai que horror! Ai que nojo! Como é que ela fez os filhos dela? De luvas e com beijinhos secos? É que só pode…

Este apresentador-emplastro, o Zé Pedro, está mal ali: interrompe convidados, júris (não é por nada, eles não dizem nada de importante, mas é falta de educação), dá a sua opinião, ajuda umas belas e não outras. Ele não é bom actor. Não gosta de fazer aquilo e nota-se. Há uns anos atrás o Vergílio Castela apresentou o «Isto só Vídeo». Questionado numa entrevista se gostou desse trabalho, ele respondeu com sinceridade «Não, mas sou bom actor e fingi o melhor possível. Era a minha função». Está claro que um actor, um bom actor, não faz nada na apresentação de programas parvos. O Vergílio tinha mesmo de entrevistar as pessoas que ganhavam o concurso, e uma das vezes ganhou um senhor que tinha deixado cair a placa no bolo de anos enquanto cantava os parabéns a você. Eu acho que até o Vergílio Castela ficou enojado, mas lá foi ele perguntando a medo se o senhor já tinha a placa fixa (não fosse a dita cuja cair ali). Para o José Pedro deveria ser assim também: não gosta mas tem de comer. É o contrato. Só que ali anda ele às avessas, com ar de quem odeia aquilo, perdido no meio de tanta mama, tanto comentário triste, tanto barulho.

A Iva Domingues (dantes Iva Pamela, ó nome mai lindo!) vai melhor, vai na onda: para já usa decote, e lá se ouve às vezes no público um burgesso «gaja boa! Ai se fosses minha!», e todos riem, o Zink baba-se e o Zé Pedro com aquele ar de «despachem-se! Quero ir para casa!». A Bobone compõe a écharpe com modos «educados», mas faz parte daquele circo triste e desonroso até para ela, que já é avó.

Estou ansiosa pelo final do programa. Não sei se é bom se é mau, porque a seguir deve vir um pior. Agradeço a quem inventou a TVCabo, são ciganos, mas salvam-nos desta torpeza de carácter. Ganhará a Sandra e o Gil, que o Zink apelida de «a bela e o totó»? A Marina e o Lipari, que parece retirado da série «Fame»? Os novatos Paulo e Maria? Ou os veteranos Jaime e Vera que, segundo a Bobone «evidenciam uma clara desarmonia física, ela alta e ele baixo». Eu não sabia. Não sabia que as pessoas para «evidenciarem harmonia» tinham de medir o mesmo. Anda aí muito casal enganado…Fico à espera do vencedor e depois conto tudo.

Perguntas de uma gaja

1) Porque é que o homem é um bicho que não chegou ainda ao paleolítico?

2) Porque é que os bichos mais parecidos com os sogros são os pega-monstros, uma vez colados à nossa vida não saem mais?

3) Porque é que o conceito de «pergunta estúpida» muda completamente com o casamento? Muitas vezes ouvimos «É mesmo preciso limpar isto? Mas nem estava sujo…» (esterco a cair do tecto) ou «Tenho nódoas?» (blusa com as cores disfarçadas pelas nódoas) ou «Porque não ter as cuecas rotas? Não se vêem sequer…» (inimaginável).

4) Porque é que os direitos são desiguais entre homens e mulheres casados: eles podem ser carecas e gordos e nós não?

5) Porque é que um homem acha sempre que sabe tudo mas nunca resolve nada?

6) Porque é que as pessoas malcriadas acham que têm sempre razão/justificação?

7) Porque é que a graxa não se usa só nos sapatos?

8) Porque é que há pessoas que não ligam aos espelhos que têm em casa e andam na praia com as bordas do cu de fora?

A banha da cobra

Muitas vezes não passa disso. Digam o que disserem, as técnicas de persuasão para vender um produto ao cliente não passam de banha da cobra. E as que são sérias, nós declinamos, porque temos o receio de sempre: ser enganado. Isso torna-nos desconfiados com tudo o que é dado – haverá retorno, o que me vão pedir em troca? Deve ser por isso que amizade e amor são genuínos (supostamente): a retribuição tem de estar dentro de um cosmos harmonioso. Vejo casais tenebrosamente incompatíveis. Onde raio se desencantou a ideia de que um dos elementos pode tudo e o outro não pode nada? É uma coisa estranha. Há pessoas que são banha da cobra, compra-se gato por lebre (com todo o respeito pelos gatos). Quando isso acontece, como diz uma amiga minha, quanto mais tempo passa menos se vê, porque no fundo adaptamo-nos a tudo o que é mau, e até achamos que, comparados com outros casais, com a vida de outras pessoas, estamos muito bem. À medida que o tempo passa, nem sempre são os laços afectivos e os projectos comuns que sustentam a relação, mas sim a dependência. Como sair dali? Muitas pessoas não vêem saída, outras não querem ver. Mas os maiores cegos são aqueles que nem se apercebem que estão mal, mesmo mal e vivem dentro de um remoinho de coisas totalmente erradas.

Já desde há uns dias para cá que me consigo distanciar o suficiente para perceber uma coisa: a história da banha da cobra estava certa. Uma vez ou outra todos somos enganados, todos nos enganamos na porta a que batemos, quer seja no trabalho, quer seja no amor, quer seja na vida do dia-a-dia. E apesar de pensarmos que quietos até estamos bem, estar quieto é uma atitude como outra qualquer, o silêncio revela muito mais do que poderíamos pensar.

No outro dia fui abordada no Saldanha por uma rapariga, ainda muito jovem, com alguma simpatia, que me pediu os dados para um sorteio de louças de porcelana, vendidos numa loja nova que estava a divulgar os seus produtos. Por «acaso» até fui das premiadas, imaginem porquê, porque era casada. Pediram-me que fosse com o meu «esposo» receber o prémio, ao que eu respondi que com os horários do meu esposo era impossível irmos os dois levantar as bem ditas porcelanas (ou o prémio que fosse, provavelmente uma caneta sem tinta…). Pensei o quão parva (ingénua) fora em aceitar tacitamente dar os meus dados pessoais a uma estranha e estar a ser telefonicamente contactada em horas de trabalho, insistentemente, para ir lá buscar a prenda. Até que, três telefonemas depois e muitas outras vezes sem atender nem responder ao contacto deles, acabei por dizer que eu e o meu marido (que nunca soube disto) não queríamos lá ir buscar nada. A senhora, suficientemente educada e sensível, disse logo «mas qual é o seu receio? Que eu venda alguma coisa?» e eu respondi, de forma sincera «Sim, claro», ao que ela retorquiu «Pois, hoje em dia ninguém dá nada a ninguém, mas o objectivo era vir à loja conhecer os nossos produtos e, caso gostasse, divulgá-los a outras pessoas». Até podia ser verdade, parece verosímil dito assim, na voz calma da senhora, mas eu disse novamente «A decisão foi não ir aí», e ela aceitou (que remédio!) e desligou. Pois é. Costuma-se dizer que pelo justo paga o pecador, ou seja, mesmo que fosse verdade, eu já estaria altamente desconfiada.

Digamos que quando nos vendem banha da cobra muitas vezes, inequivocamente ficamos desconfiados, de sobrolho carregado. Com as pessoas também acontece isso. Se muitas vezes aparecem para nos dar cabo do juízo, é natural que na próxima vez desconfiemos delas. As relações humanas muitas vezes também se baseiam na falsidade, na venda de um produto inquinado. As pessoas levam o cartão de visita, muitas vezes um cartão irresponsavelmente redigido, porque é falso e desconectado da realidade. Além do cartão, muitas apresentam-se da mesma forma que um vendedor da banha da cobra. Para mim vai sendo fácil descortinar quem são estas pessoas, mas muitos se deixam convencer com facilidade. Desde quando uma pessoa chegar ao pé de nós e dizer «Sou boa pessoa, muito humana e sensível» pode ser vulgar, comum, natural? Era suposto que actos e palavras demonstrassem isso, todavia as pessoas dão de si a melhor cara, vendem o que lhes interessa, e nem sempre sabem que se calhar eram incapazes de ajudar um amigo com a sua palavra, a sua presença. No fundo, sermos capaz e darmos o primeiro passo para ajudar alguém é um dom e não precisamos assim de tanta disponibilidade e dinheiro como pensamos. Há sempre tempo para uma palavra, pelo menos, de ânimo, de doçura, de coerência com essa faceta de «ser boa pessoa».

Porque é que toda a gente teima em ser «boa pessoa», mesmo quando não é? Porque é um bom cartão de visita. Dizemos e fazemos o que achamos que os outros vão gostar de ouvir ou ver, mas que na realidade não somos. Mas será que, segundo a lei da causalidade do universo, não haverá alguém que tope essa incoerência? Eu acho sempre que sim. Que alguém mais esperto, inteligente, sensível ou simplesmente «experiente» vai perceber a incoerência. Então andamos a lutar para salvar baleias mas não temos tempo para ajudar ninguém porque somos «pessoas ocupadas a salvar baleias». É um bocado nisto que as pessoas se baseiam. Ser boa pessoa é hoje como vender banha da cobra, gato por lebre. «Toma lá este embrulhinho bonito», por dentro vem um bomba estraga-tudo, uma pessoa miserável e manipuladora a quem basta ser boa vendedora para vencer na vida. Evidente que não falo do disfarce da segurança: nem sempre se pode mostrar fraqueza e verdade em todas as situações (embora, tal como os animais, a insegurança e o medo se pressintam). Muitas vezes ficamos entalados em situações em que não podemos verdadeiramente ser nós próprios. A minha pergunta é: como é que se vive fora de nós próprios sempre, ou melhor, mentindo a nós próprios e aos outros quem somos? Deve ser um jogo de exigência elevada, de muita mestria, e as pessoas ficam normalmente a ganhar com isso, pelo menos na aparência. A grande questão é: onde arranjam essas pessoas tempo e espaço para a verdade? Nenhures. Onde arranjam espaço para amigos verdadeiros? Não arranjam. Onde conseguem sinceridade? Sacando elogios de engraxadores iguais a elas. Onde procuram a felicidade? No fundo do bolso dos outros, no fundo da sua fraqueza e boa vontade. Qual o mérito deste jogo? Do ponto de vista moral, nenhum. Socialmente, é um jogo correcto e bem aceite.

Quando tiverem experiência de vida e sensatez identifiquem uma destas pessoas e…ponham-se a milhas. Ou então façam como o Chuck Norris: sejam a consequência dessas pessoas, a pedra no sapato, a espinha atravessada na garganta, o mau da fita. Essas pessoas não gostam e escoceiam, sentem-se acossadas no seu próprio jogo. Todavia o melhor jogo que existe é o de não jogar o mesmo jogo. É como com um idiota: nunca se consegue descer ao nível dele, nem vale a pena tentar, mais vale passar ao lado.