Sunday, January 06, 2008

O ano

Não gosto muito de assinalar passagens de ano, acho sinceramente uma parvoíce, um pretexto para festa, só isso, e um pretexto para falarmos de tudo…e não falarmos de coisa nenhuma. Há pessoas que sentem isto nos aniversários. Sentem que passaram mais um ano de vida e não lutaram pela sua felicidade como deve ser. Eu gosto muito dos aniversários porque estou convencida que com os cabelos brancos vem alguma sabedoria, pelo menos para algumas pessoas. Eu sinto essa nostalgia parva no final do ano. Afinal, o que há para comemorar? Há sempre algo, na verdade, termos saúde, família, felicidade, um trabalho novo ou mantermos o velho. Mas isso podemos fazer todos os dias. Não temos de o fazer dia 31 de Dezembro.
Sinceramente, tive um mau 2007. Foi um ano de confusão total e absoluta, de descrédito, de falta de confiança em mim e nos outros, em que acho que deveria ter desistido rapidamente de umas coisas e partido para outras, em que acho que fiz tudo mal. Não estou nada satisfeita comigo própria, mas talvez isso me ajude a conseguir alcançar metas maiores, mais altas. Até ao tarot recorri este ano, e não me envergonho muito, diria que gostei bastante de recorrer a uma ajuda «exterior» tão diferente. É bom mudarmos de ponto de vista. É bom acreditarmos em qualquer coisa, nem que seja numa mentira que nos parece verdade, e que de tantas vezes repetida se torna mesmo verdade.
Quando as coisas nos correm mal, muito para além da conta que esperávamos ter é a mesma coisa que pagar uma dívida muito superior àquela que realmente esperaríamos receber em casa. E claro que nos parece injusto, mas é isso a vida na sua forma mais realista: é olharmo-nos no espelho e perceber que cometemos erros crassos que já não podemos emendar. Tornei-me neste ano que passou muito menos moralista do que era, porque não consigo aplicar nenhuma moral coerente à minha vida, nem percebo bem para onde vou. A falta de perspectiva enerva-me muito. E este ano pareceu-me um tremor de terra, estive sempre à beira do abismo, a puxar quem estava mais perto do abismo do que eu, mas sempre a ser sugada lá para o fundo. Além disso, cheguei à conclusão de que sou ilógica: quando devia estar melhor, desço mais baixo. Sou muito dada ao stress pós-traumático.
Sinceramente, não sou pessoa de expectativas muito altas. Sou realista e sonhadora q.b. Mas também nunca sei por onde anda o inimigo, e subestimando-o, perco muito. Afinal, quem é o inimigo…senão eu própria?
Nunca tive grandes expectativas acerca de casamentos. Vi o da minha mãe e da minha avó e chegou-me. Quando era miúda, não percebia bem para que é que servia um homem sem ser para fazer filhos, porque tanto a minha mãe como a minha avó faziam tudo em casa e eles não. Com a mudança dos tempos, nitidamente os homens assumiram tarefas caseiras e as mulheres começaram a apostar noutras que dantes não estavam nos seus currículos. Pelo menos é assim com alguns casais.
À mulher é dado um papel com um relevo desmesurado: é ela que…e agora podem começar a completar a frase como quiserem. Que cuida dos filhos, que luta para manter o emprego, que luta para manter o casamento, a boa forma física, a beleza e a juventude, é sempre dela que vêm as maiores decisões e responsabilidades. Acreditem que se uma mulher se descarta, por um minuto que seja, dessas responsabilidades todas, a casa fica encharcada em lixo, a criança fica babada, o casamento ruinoso, e ninguém toma decisões. Ao longo da vida fui acreditando que isso já tinha mudado, mas acho que isso também me cai em cima e a culpa é minha: porquê deixar? Outras vezes ou lutamos ou morremos no caos, e as mulheres quase sempre optam por lutar até ao limite. Somos também as primeiras a declarar derrota e a partir para o divórcio. Porquê? Porque somos exigentes. A mim parece-me que para um homem ficar sentado no sofá é suficiente para um casamento de sonho. Para nós não. Optamos pela norma, se sonhámos, então é possível. Se é possível, porque não conseguimos lá chegar?
Referi a regra, mas há as excepções, que normalmente são constituídas pelas pessoas que reclamam «se ele não te bate, está tudo bem» ou numa versão modificada «se ele tem dinheiro, não tens que te queixar». Por isso, para algumas mulheres (como a minha avó), se um homem tiver dinheiro e não bater, então é a melhor pessoa do mundo e só nos pode fazer felizes – é que nem há outra hipótese. Por esta ordem de ideias, eu devia ser a pessoa mais feliz do mundo.
Durante este ano, senti-me esmagada por um peso inominável. Senti «agora é que é, vou-me lixar totalmente». Lixei-me na mesma, mas não totalmente. Senti-me a noiva do Kill Bill, a apanhar pancada de todos os lados – como se essa não fosse já a história da minha vida. Manipuladores, chantagistas, cobardes que pensam que são corajosos, maldosos, traidores, sacanas, todos vieram ter comigo para me saudar honrosamente e dizer «estamos aqui, puta, e vamos-te à cara». Este foi um daqueles anos em que devia ter praticado boxe, alguém devia ter ficado com a cara esmurrada, mesmo que me esmurrasse o dobro. A única merda que fiz na vida foi casar-me e proteger quem estava do meu lado como sabia. E não vale a pena dizer que foi por amor, porque como fui dada como doida ninguém iria acreditar. A certa altura o casamento já era como subir a uma montanha muito alta: faltava oxigénio mas eu sabia que tinha de continuar. E que algures, pelo meio, ia ser o meu fim, e o fim do mundo como eu o conhecia até outrora.
Mas o caminho faz-se caminhando e a aprendizagem não pára nunca. A nossa vida não pode nunca depender da falência da vida dos outros. Nada flui em constância se esperarmos que o vizinho do lado sucumba à doença, à morte ou ao fracasso.
2007 não me deixa saudades nenhumas e foi bom comemorar o seu fim.

6 Comments:

At 6:58 AM, Blogger Brisa said...

Não há arte divinatória que te ajude se tu própria não sentires quem és, o que queres e para onde desejas prosseguir. Podem ler-te o futuro de todas as formas possíveis, mas terá de ser sempre o teu trabalho interior a prevalecer. Se te conheceres melhor, gostares de ti e aceitares quem és, viveres mais em ti do que nas merdas que os outros te vão fazendo, dispensarás qualquer ajuda exterior. Ficarás tão forte e rica que os lichanços dos outros serão " just peanuts"!

 
At 2:38 PM, Blogger XaninhA said...

2007 não te deixa saudades nenhumas??

Então e os almoços nos bancos de jardim da maternidade, sua porca!?

E as batatas cruas lambidas por uma língua estrangeira vinda do leste?

E as velhas e os maluquinhos que se cruzam sempre nos nossos caminhos?

E as massagens, as viagens a Roma, o riso e a alegria dos bons momentos?

E o Serginho a berrar e a partir coisas, e o resto da tua família com quem vale a pena contar?

E o tarot, os sonhos, as "luzes", a tua mãe, os teus poemas e as tuas "crónicas"?

E as tuas amigas e as pessoas que te querem bem, e as que não te conhecem e te sorriram na mesma?

E eu??????????

Ou me mudas de atitude ou vão haver problemas!!

"Hades" cá vir! :p

 
At 3:02 AM, Blogger fercris77 said...

Lolol...Patrícia, só tu realmente! Sabes bem àquilo a que me refiro. Claro que há sempre coisas boas (outras mesmo muito boas!) mas o balanço geral não foi positivo.

Que coisa!!!

 
At 2:11 AM, Blogger XaninhA said...

Eu não quero saber ao que te referes. Quero é que te lembres mais do que não referes. ;)

 
At 7:30 AM, Blogger Brisa said...

Apoiado, apoiado!!!
Projecto para o teu 2008: ser mais optimista e deixares-te envolver mais por aquilo que te faz bem do que por aquilo que te envenena! E eu estou cá para dar uma mãozinha!!!

 
At 8:05 AM, Blogger fercris77 said...

Olha que bom, duas gajas que não me deixam ser negativa! Hehe.

 

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