Wednesday, January 02, 2008

Depois de 40 dias em Roma…

Roma é estupenda em dias de sol e nevoeiro, apesar dos turistas.

Os dias de chuva são fantásticos porque os turistas fogem, todavia não dá para ir a lado nenhum com a chuva a cair sobre nós.

Roma é um desatino das cinco e meia às seis e meia, hora em que o trânsito é infernal (a praça de Espanha em Lisboa vezes dez ao cubo) e os pássaros cagam toda a gente sem excepção.

Os dias são repetitivos nos trajectos por muito que os tente diversificar, só são diferentes quando me perco e mesmo assim nem sempre (a culpa é minha, não é de Roma).

Há bons capuccinos, gelados e pizzas, sobretudo porque depois de 40 dias e à 3ª viagem já sei onde beber e comer sem gastar muito.

Os dias são terríveis em solidão, embora goste da solidão, sou chata comigo mesma e estou sempre a chamar-me nomes. Estou farta da minha própria voz.

Algumas frases e palavras vão entrando no ouvido, mas ainda não sei dizer bem casa-de-banho em italiano.

Os mapas vão fazendo sentido, perco-me, mas é por outras razões, e dou com os sítios que quero quando menos espero.

Ir à compras já não é divertido, chega de nunca saber se o que está dentro dos pacotes tem bom sabor ou é uma bosta.

Não tem graça subir e descer um terceiro andar com andaimes aos dias de semana, ouvir missas aos fins-de-semana e saber que se é vigiado das janelas.

Já não tenho imaginação para comer só com um microondas disponível para cozinhar (?) e um frigorífico que não não congela nada.

O trabalho começa a parecer tão repetitivo só de olhar para a caixa que até os empregados estão fartos e põem a caixa na mesa quase sem olhar para mim, o recepcionista deixa-me o cartão em cima da mesa quando me vê e despede-se da porta enquanto fuma.

Sei quem são as pessoas que chegam antes de mim ao arquivo e as que chegam depois, mas não falo com nenhuma.

Sei de cor os trajectos com menos gente e já ninguém me tenta vender coisas porque até os vendedores sabem que passo ali todos os dias.

Continuo a enganar-me nas mesmas coisas, até a telefonar das cabines com cartões com centenas de números…míope é assim.

Se eu não abrir a boca ninguém sabe que não sou italiana.

Já não me engano a apanhar autocarros, conheço-os bem melhor do que os de Lisboa. Até sei os que cheiram mais mal, tipicamente os que fazem os trajectos para o Termini.

Já vi manifestações, acidentes de automóveis e de motas.

As pessoas dos cafés sabem o que tomo e tentam-me vender a lotaria.

Os senhores árabes da Internet sabem o meu número de cliente de cor- já agora, se eles conseguem falar italiano, porque é que eu não consigo?

Já ouvi mais canções e músicas árabes em cybercafés daqui do que em toda a minha vida.

Ainda não percebi o que vêm cá fazer tantos orientais feios – desculpem o racismo.

Já não me surpreendo com o comportamento mundano do clero.

Não consigo gostar de turistas…aqui é demais. Toda a gente anda de mapas na mão.

Detesto transportar pesos mais do que nunca. A sensação de ter caimbras nas coxas e nos gémeos vai-se tornando familiar.

As gaivotas acordam-me e não me deixam dormir.

Tenho tantas viroses na pen que até relincha quando coloco no computador.

Quando vejo tugas, eles comportam-se como anormais. Hoje mesmo assisti a uma discussão no autocarro entre marido e mulher do género «senta-te aqui, não me apetece sentar aí».

Como é que aqui têm a lata de ter rampas para deficientes nos museus e igrejas, todavia os carros estacionam por cima do passeio?

Tenho cada vez mais pena de não falar italiano…é comigo que as velhas metem conversa no autocarro.

Já me fartei de pizza, mas a lasanha continua a escorregar que nem ginja.

Estou farta de motas e bicicletas – no mínimo, são perigosas.

Ainda não percebi como é que pessoas com bebés escolhem Roma para férias.

Porque é que os japoneses gostam de tirar as mesmas fotografias nos mesmos sítios a comer gelados, e sobretudo, porque é que eu fico sempre nessas fotografias?

1 Comments:

At 7:20 AM, Blogger Brisa said...

Que dor de cotovelo!!!!!

 

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