Tuesday, November 13, 2007

Saudades

Do que tenho saudades depois de 15 dias em Roma?

…dos amigos todos, mas sobretudo dos almoços com o Paulinho, Diana Frol, Patrícia França, e encontros manfiosos. Dos almoços inverosímeis com as três damas Paula, Estela, Sandra e das piadas mais-que-porcas que mandamos à mesa.

…de não ter de pagar tanto de selos, cartas, Internet para falar com as pessoas. Devíamos ter direito a comunicar de graça em qualquer parte do mundo.

…dos filmes de terror na casa do Ric, de me empaturrar de doces com ele, dar arrotos gigantes, tudo enquanto a Lisabete come saladas e o Pedro tenta dizer palavras em russo.

…de ter nome e não ser só «ragazza», «dotoressa» ou «prima donna» (primeira senhora a entrar no arquivo, ok?). Tenho mesmo saudades é de ser o Bino.

…do Serginho, mesmo quando se baba e dá traques no colo dos tios.

…do pai a discutir com a Helena sempre as mesmas coisas e a mandar piadas que ninguém percebe.

…do Pedro e da nossa cama gigante e mais não digo.

…de Lisboa e do seu trânsito medonho (nada pode ser pior do que Roma).

…do Eduardo aparecer de repente no meu gabinete com ideias de génio.

…de conversar com a Helena, mãe da Paula, e da Bia, sobrinha da Paula, olhar para mim à espera que lhe tire uma fotografia (devo ter cara de japonesa).

…das piadas do Paulo Vicente, mesmo as de carácter sexual (absolutamente medonhas).

…de beber café em qualquer lado, ser bom, vir «normal» sem estar a chávena vazia (italianas? O que é aquilo? Poupança de água ou de café?) e pagar 0,55€!!

…de poder lavar a roupa na minha casa, sem andar com um saco gigante às costas (qualquer dia dão-me esmola).

…de ouvir português sem ser turistas brazucas ou velhas religiosas a tentar comprar terços no Vaticano.

…dos almoços como deve ser na cantina da Católica.

…de falar a toda a gente dos meus problemas familiares: aqui falo com quem?

…de não ir no elevador com padres e frades medonhos e investigadores mal-cheirosos com sobrancelhas à Grinch (só me pergunto quem é que pega naquilo!).

…de nunca saber por onde passar, o Vaticano abre e fecha as entradas e saídas sem avisar.

…de o Pai Natal não me pedir esmola (nunca vi isso em Lisboa) e ser simpático com as crianças.

…de conseguir ouvir mais a língua do país do que outras.

…de não sonhar em italiano e latim (é verdade, sou um fenómeno, uma freak!).

…de não me doer tanto, tanto, tanto as costas, pernas e pés.

…de ter alguém do meu lado a fazer seja o que for sem ser ler documentos podres com lupas especiais e sorrisos amarelos.

…de a meio da manhã comer qualquer coisa diferente do costume (o café do arquivo é igual aos documentos: há sempre o mesmo).

…de não me abrirem todos os dias uma janela nas costas porque os documentos (ou as múmias que os lêem) são perigosos.

…de não encontrar bocados de tangerina no livro de assinaturas do arquivo (é nojento, mas é verdade).

…de não ter de andar num metro sujo, mal iluminado, pequeno, e em autocarros a abarrotar fora das horas de ponta.

…de não ter de atravessar à espera que me deixem passar por milagre e ser obrigada a enfrentar os carros, de não ter motas a fazer rasantes e bicicletas em sentido contrário ao do trânsito.

…de para ir à Internet não ter de entrar em sítios mal cheirosos, suados, quentes, com árabes a ouvir músicas em altos berros e mexicanos a discutirem que não querem pagar as chamadas para o México.

…de não me sentir uma surda-muda-autista quando falam comigo e saber responder. Já agora, cada vez que falo português, nem que seja só uma palavra, a reacção também é a de surdos-mudos-autistas. Ao menos estamos de igual para igual.

…de não ouvir sempre as mesmas músicas (é o que tenho no computador e MP3).

…de Portugal.

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