Tuesday, November 13, 2007

Tão neutro como a Suiça

Se eu ganhasse um euro por cada vez que alguém me diz que se vai manter isento, neutro, tão neutro como a Suiça na Segunda Grande Guerra, eu estava rica. Ouvi tantas vezes o «não me quero meter» que fiquei habituada a uma só coisa: a que ninguém se meta e eu morra sozinha no ringue, na arena, ou seja lá onde for.
É certo que temos anjos da guarda, mas daí até termos alguém que nos defenda, eu acho que vai um grande passo. Alguém que tome o nosso partido sem reservas nem medo. Mais ou menos como o grandalhão que se mete à frente do menino indefeso para ele não apanhar dos matulões lá da escola. Nunca tive isso e cada vez menos espero ter. Talvez cada vez menos precise, vou-me tornando crescida e trinta anos de vida metida em sarilhos na escola, em casa, na família, com pessoas de todo o lado ensinaram-me uma coisa importante: que se eu não me defendo, então ninguém defende. Ganhei mais essa consciência quando a minha mãe morreu. Até essa data, eu vivia numa cápsula, ela é que apanhava com as setas maiores, eu apanhava só com as pequenas, os retroactivos, os ricochetes, eu recolhia as migalhas dos desastres. Hoje em dia a cápsula já há muito se partiu e já sou eu a apanhar com as setas, algumas muito envenenadas.
Este último ano foi péssimo, foi pródigo em apanhar com setas e deixá-las cá espetadas. Algumas sangram mais do que outras.
Não posso pedir que me defendam quando às vezes está em causa mais pessoas, mais sentimentos, mais amizades ou família. É verdade que não, e salvaguardo isto. Mas também não posso evitar o facto de me sentir sozinha. Porque na vida talvez tenha sido essa a minha constante. Não se pode pedir a ninguém que pense como nós, é impossível, ou que concorde, ou que diga o que queremos, ou que nos defenda incondicionalmente. É evidente que quando as pessoas que gostam de nós nos vêem a ir para o abismo, até podem não dizer, mas não nos acompanham, tentam puxar-nos de lá, por isso não vão concordar connosco.
Nem falo em concordâncias. Ter razão acaba por ser uma grande chatice, um grande sarilho. Talvez mais valha não ter nem fazer por ter. Perante a realidade, os argumentos caem por terra. Só acho que mais uma vez a Diana tem razão: o que é estarmos isentos? Se respiramos participamos na vida, não estamos isentos. Nunca. Mesmo quando não fazemos nada estamos a tomar uma posição e a ter uma atitude. Só mortos não agem sobre o mundo – supostamente. Mas nós todos agimos, quando falamos, respiramos, interagimos, passeamos, apanhamos o metro. Poderemos ser isentos, tão neutros como a Suiça?

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