Wednesday, January 23, 2008

A aliança do Paulo & do Zé

Depois de muito ler nos blogues dos meus amigos acerca das alianças do Paulo e do Zé (ou da aliança entre o Paulo e o Zé), queria também deixar as minhas palavras amigas sobre o facto, para mim consumadíssimo, de que ambos formam um casal maravilhoso.
Vamos lá. Que sei eu sobre a vida? Muito pouco. O Zé sabe mais, muito mais, e há coisas que sabe que não diz porque é reservado, mas que quando diz está certo e só diz se lhe pedirem com jeito. Noutras coisas é directo, incisivo e corta a direito. Comigo é muito doce. Não é incisivo ao ponto de berrar comigo ou dizer na cara o que pensa. Comigo fala pelo olhar e parece-me bem, sinceramente são poucas as pessoas que conseguem fazer isso.
Nunca aqui falei do Zé, sou uma monstra, já falei quinhentas vezes no Paulo Mongo, e gosto tanto do Zé que nem sei como lhe expressar a minha gratidão. Acho-me terrível porque nunca ter dito isto aqui, mas ainda me acho mais terrível porque nunca lhe ter dito isso a ele. Sinto-me grata ao Zé pelo Paulo, em primeiro lugar. Encontraram-se e o Paulo andava em baixo, em crise emocional, daquelas crises que eu compreendo mas nunca sei o que dizer, por isso fico ali, de olhos esbugalhados, à espera que ele grite comigo e diga que me adora e sou Monga. Se há alguém que tira o Paulo destas crises neuronais, emocionais, e não sei que mais, é o Zé. Eu diria que o salva devagar do entupimento emocional em que vive metido, do caos que por vezes o domina e o enerva tanto. O Mongo é nervoso. Como diria a Denise, o pé não pára, a pastilha elástica, o dar ordens constantes enquanto acende o cigarro, a respiração enfurecida. Uma pequena besta em delírio poético. Se não fosse domado, já me tinham saltado os óculos e as lentes ao mesmo tempo (ele vai-se zangar comigo por eu ter dito isto!).
O Zé dá-lhe a calma, a sabedoria do mais velho. Lamento dizer «do mais velho», não é depreciativo, mas a maturidade do Zé vem daí. Embora eu não sinta a distância etária vincadamente – nem ele – sabemos que isso conta muito na apreciação que fazemos do mundo e daquilo que sabemos dele, bem como da forma como participamos nele. O Zé faz do mundo do Paulo um mundo melhor, acho que mais livre, mais suave, menos carregado de dor e de estados de alma controversos.
Sempre me considerei uma pessoa bafejada pela sorte no que toca a amigos. Mas melhor do que isso, adoro os amigos dos amigos que se tornam meus amigos. Acho muito divertido e o mundo cresce com isso.
Com o Zé não tenho história parecida com a que tenho com o Paulo, todavia também temos o luto no nosso caminho, como quase toda a gente. A minha mãe morreu dois dias antes da irmã do Zé e eu um dia inadvertidamente perguntei se ele tinha irmãos, sendo logo de seguida repreendida pelo Mongo ao ponto de levar quase uma estalada, sem perceber porquê. Pronto, depois percebi a minha inconveniência e pedi desculpa. Mas naquele dia habilitei-me a uma lambada por causa da minha monguice.
Já algumas vezes desabafei com o Zé e partilho informações pessoais da minha vida com ele através do Paulo sem qualquer problema. O Zé raramente comenta ou critica, mantemos um diálogo mudo, feito de olhares de soslaio e muito tacto da parte dele, muito «não me meto, mas estou a perceber tudo». Acho que no último jantar ele percebeu tudo e sorriu-me. Apoiou-me. Entretanto andava o Mongo desvairado a fazer anos, com dezenas de amigos e amigas de diversos quadrantes, a mostrar a sua nova máquina fotográfica e a usá-la indiscriminadamente, a mandar-me comer. E não percebeu nada.
Agora eles têm umas alianças lindas que me comovem por tudo o que significam, e por tudo o que significam para eles os dois. Cada pessoa dá o valor à aliança que pretende: união, partilha, confiança mútua, amor, paixão. Aquela foi uma noite radiosa, o Paulo estava muito bonito, com um brilho nos olhos, muito nervoso com o facto de o jantar «ter de correr muito bem», e o Zé estava descontraído, muito calmo e seguro como sempre.
Gosto muito de casamentos felizes, desses que duram, que são bons, construtivos. Não precisa de haver paixão avassaladora (às vezes até perturba). Precisa de haver vontade de construir, de colocar os tijolos uns sobre os outros, de ter um tecto, uma casa, um alicerce seguro. Sabemos que a pessoa certa é certa porque vamos pesados para casa e nos encontramos com alguém que nos alivia esse peso. Sabemos que a pessoa certa nos dá as respostas certas, nos desarma e arma para um novo dia, uma nova fase, um recomeço. As alianças são isso mesmo: a construção de um caminho juntos.
Fico contente quando vejo o meu Mongo com o Zé (o Mongo-consorte…afinal conheci primeiro o Paulo), fica feliz, é mais delicado comigo (embora não se iniba de dizer o que quer), fica doce e ternurento. Nos dias em que estou com eles também eu me sinto cheia, completa, partilhando com eles a minha amizade e os meus segredos.

5 Comments:

At 2:55 PM, Blogger Denise said...

Olá Fernanda,
Mais um vez um texto belíssimo sobre os teus afectos e tão bem escrito!
Lamento saber que algo não está bem contigo e que já no Sábado assim era. Como não te conheço bem, nem me apercebi, embora tivesse reparado que estavas mais calada do que seria suposto numa «Monga».
Desejo que tudo, o que quer que seja, se resolva pelo melhor e, se te vale de alguma coisa, alegra-te com o facto de também eu ter gostado de ti e de gostar muito muito de te ler.
Um beijinho,
Denise

 
At 3:42 PM, Blogger  said...

Confesso que fiquei "assustado" com a tua análise e por me conheceres melhor do que eu pensava. Asseguro-te que não te acho uma monstra por nunca teres falado de mim no teu blog. Há tanta coisa que não é preciso dizer! Sente-se, sabe-se, pronto! Sei que isso do "mais velho" não acarreta qualquer carga depreciativa. Digo-te que interpretaste bem o meu olhar, mas que para além do «não me meto, mas estou a perceber tudo» existe o «estou aqui para o que for preciso». Acredita que muitas vezes gostaria de ter uma varinha mágica para afastar os espinhos que se atravessam na vida dos que amo. Faço apenas o (pouco)que posso e sei, mas conheço a importância de um sorriso e um olhar cúmplice. Sobretudo, sou feliz por conhecer pessoas como tu.
E fica tranquila, enquanto eu "domar" o Mongo, a Monga manterá os óculos e as lentes no sítio certo :))

 
At 4:41 PM, Blogger João Roque said...

Perdoa-me o "atrevimento", mas é fantástica a forma como descreves o relacionamento de um casal exemplar e principalmente como mostras a enorme Amizade que por eles nutres: eles merecem-no...
Beijinho, pode ser?

 
At 3:22 AM, Blogger fercris77 said...

Denise, há momentos na vida que nos obrigam a opções tão difíceis que é quase impossível sorrir. Mesmo assim gostei muito do jantar, adorei as nossas conversas. Asseguro-te de que, como Monga, sou um espectáculo.

Zé, apeteceu-me descrever o quanto gosto de ti e és importante para mim. Acredita que vais continuar a ser fundamental na minha vida, não só por estares com o Paulo, mas por seres quem és.

Pinguim (cujos comentários leio no blogue do Paulo e do Zé), agradeço imenso o teu atrevimento, que me parece muito simpático! Beijinho pode sempre ser.

Beijinhos aos 3!!

 
At 5:25 PM, Blogger enGine throbs said...

Posso dizer que só falei uma vez com o Paulo e o Zé ao vivo, quando estivemos no QueerLisboa e a descrição aqui feita bate certo em tudo o que partilhei nesses breves momentos: a postura efusiva/emotiva do Paulo e o silêncio participativo do Zé.
Eles são o yin e yang... PONTO!

 

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