Sunday, January 06, 2008

Os sonhos

Três sonhos surreais investiram nestas últimas noites na minha cabeça, surgindo do meu subconsciente como se fossem pipocas a estalar. Não têm graça, não pensem…Num desses sonhos eu tinha três filhos que a família do meu marido mandava mandar. Cada um dos meus filhos (já adultos e sentados em posição de Lótus) levava uma bala na cabeça, em cheio no meio da testa. Mais tarde, tive o sonho terrível de ter a cabeça coberta de piolhos e de colocar nos meus cabelos uma pasta (com o nome de Quitoso, referência que sei bem onde fui buscar) que me fazia o cabelo mudar de cor. E hoje, que tive uma noite de completo sobressalto acerca do tema «sou ou não sou uma esposa medíocre?» sonhei com mutilações e queimaduras, um dos piores sonhos que posso ter, visto que é coisa que me transtorna e arrepia. Segundo os dicionários de sonhos que circulam na net, o sonho dos piolhos é bom, significa bons investimentos – porque será? Queimaduras significam doenças familiares, e como sonhei com o meu pai, que eu não conseguia ver na unidade dos queimados (cá fora estava também o meu avô), fez sentido, pois hoje o meu pai está constipado, coisa que, segundo ele, é rara e nunca vista, pois desde o ano de 2000 não se constipa. Serei mediúnica ou o meu subconsciente fez contrato com o David Lynch? Nunca saberei ao certo.
O sonho que também me deixa abalada e entorpecida é o dos filhos assassinados, como no filme «A Maldição da Flor Dourada». Que significará? Provavelmente perdas, medo. Sim, medo. Sou medrosa. E confesso o medo de ter filhos. O investimento para toda a vida, a falta de controlo do que hipoteticamente pode acontecer com ele/ela. Descobri hoje que o meu receio de ser mãe é terrífico, porque me sinto talhada a ter problemas dos pesados, dos graves. Mas a vida é uma caixa de surpresas, não podemos prever. Olho para o meu sobrinho e não sinto esse medo do futuro. Acho lindo vê-lo a crescer, compreendo a trabalheira que dá aos pais, e acho natural que tente espatifar tudo, se entale, se babe e caia no chão com a minha avó a baixar a voz cheia de horror a dizer-me «É perigoso…pode cair», como se isso fosse o fim do mundo, como se não fizesse parte do crescimento cair vezes sem conta.
Há um limite nas nossas próprias forças que é terrível: não podemos controlar tudo de todas as formas. Há muitas coisas na vida incontroláveis. Mas isso vale para todos. Todos estão sujeitos à mudança de planos do universo. E se o universo muda de planos, temos de mudar de planos também. Não vale espernear, emudecer, escandalizarmo-nos de não ser tudo como queríamos. Há divórcios, rupturas, doenças, filhos malcriados mesmo quando achámos que fomos pais exímios, desemprego, pobreza…e haverá sempre uma Paris Hilton na carteira do lado, na sala ao lado, ou casada com um amigo nosso, a quem basta espreguiçar para cair tudo no colo e mesmo assim é presa bêbeda e tem má conduta. A uns basta uma palavra para serem punidos, outros podem prevaricar à vontade que a punição nunca vem e quando chega é tarde.
Temos de confiar no universo, sem dúvida. Acreditar que há excepções que realmente não nos ensinam muito, mas que a regra é os pais passarem mensagens correctas aos filhos, de amor, solidariedade e capacidade de sobrevivência sem eles, bem como os pais serem autónomos o máximo de tempo possível. Mas nisto que estou a dizer, quantas variantes não existem? Centenas, milhares, milhões. Tudo pode falhar e temos de contar com isso para nosso bem.
Agradeço ao universo o sonho dos piolhos: pode ser que entre dinheiro no meu bolso e os meus investimentos dêem fruto. Agradeço o sonho dos filhos, que me mostra que, mesmo na estagnação que a vida atinge e na imutabilidade do que pensamos e achamos ser, podemos levar um tiro e morrer. E o sonho das queimaduras…mostra-me que os medos são para ser enfrentados (no sonho há gente queimada e mutilada de quem eu fujo). De resto, posso sempre vender os meus sonhos a Hollywood ou ao David Lynch.

1 Comments:

At 6:51 AM, Blogger Brisa said...

Temos medo daquilo que não conhecemos ou pensamos que não dominamos. Mas recear pode ser uma forma de reunir um exército de força. Por isso, quando entramos numa batalha todos acagaçados, quando ela acaba quase sempre nos sentimos vitoriosos e ainda com força para dar e vender! Se tens medo de ser mãe, penso que seja porque te preocupas não em ter uma espécie de electrodoméstico em casa ou porque é essa a tua função biológica, mas sim por teres a noção de que é uma vida pura que tens a responsabilidade de cuidar para formares um adulto equilibrado e feliz. É viver numa corda bamba, nunca tendo certezas de nada, mas que de tão instável que é acaba por se tornar positiva. A pessoa mais corajosa é aquela que já deixou de ter medo da morte.

 

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