Wednesday, May 02, 2007

A Bela e o Mestre – Parte 2

Está quase a acabar, podemos bem suspirar de alívio, graças a Deus ou à TVI este programa já só tem quatro casais na casa (depois de um ter sido expulso no decorrer da semana, eu sei porque estive de férias e vi tudo no Goucha). Não sei se já repararam, mas tudo o que é mau prolonga-se. É igual às doenças coronárias, à diabetes, aos joanetes, à caspa que não sai com Linic, às dores menstruais que não passam de modo nenhum. É mau, pronto. Fica ali a moer.

Antes de mais, só apanhei um episódio domingueiro, isto é, uma gala, depois de a Clara Pinto Correia sair da sua função de júri. Não vejo uma pessoa como ela ali, mas parece que primava pela arrogância. Substituíram-na por alguém pedante, uma espécie de madame da casa da luz vermelha, Paula Bobone de seu nome. Qual é a profissão dela? Nenhuma. Escreve livros sobre etiqueta. Uns livros medonhos em que ela aparece na capa com umas luvas brancas e uma roupa ditas «finas», mas que a mim só me lembra uma coisa: prostituição. Deve ser, porque o nome Bobone ela herdou do marido, provavelmente o tal dinheiro que lhe concede «status» também. Mas mesmo que já fosse para o casamento rica, nada deixa a desejar como pessoa. A mim parece-me sempre que ela finge aquela arrogância de forma torpe, para enganar o comum dos mortais. Aparentemente, nem se mostra incomodada com o cheiro a suor do Zink, as suas maneiras bruscas, as suas interrupções pueris e nulas, nem pelo argentino chamado Carlos, que fala castelhano deturpado e que custa ver porque, sendo uma pessoa bem disposta, não está ali a fazer nada. Com quem dormiu ele para ser júri? E a Marisa. A Marisa Cruz Pinto, que me parece nada dever à inteligência, mas que também não é pretensiosa, e está bem ali, foi misse e é casada com o João Pinto, duas opções que lhe concedem o estatuto ideal para ser «bela», ou «estúpida», porque ali corresponde exactamente ao mesmo.

A questão é: como é que pessoas tão estúpidas avaliam pessoas ainda mais estúpidas? Pronto. O programa é para a palhaçada, claro que é. Só pode ser. O Zink tem mais responsabilidades: é professor universitário e vai para ali babar-se cada vez que uma mulher aparece de saltos e mamas proeminentes esmagadas num decote profundo. Aquilo parece um desfile de fruta, daquela fruta boa de se ver e uma merda para se comer, daquela fruta que sabe a sabonete, mas é gira, tem um invólucro fantástico e delicioso, palavras da Bobone, que se farta de avaliar os sapatos das meninas. Eu vou ser franca: o bom do programa é as meninas serem bonitas e as vestirem bem, realmente, porque de resto…é tudo mau, é tudo, como diria a profª drª Vitalina Leal de Matos nos seus exames de Estudos Camoneanos, sofrível. Aquilo parece retirado de um sonho erótico do Zink, que deve ser o homem com mais erecções por minuto.

Passa uma menina e vem o assobio, o piropo, a boca foleira. E o que é que a menina vai fazer? Vai ser avaliada. Portanto, há muito de envolvência porno erótica naquilo tudo. A menina é chamada ao quadro. Faz contas de minissaia e saltos altos. Demora a raciocinar porque é burrinha e no fim dá saltinhos para as mamas baloiçarem e os homens vibrarem e a Paula Bobone dizer «gostei dos sapatos». É o sonho de qualquer professor de meia idade como o Zink, que nada tem para dar e à mostra só está uma barriga proeminente. Mostra-se chanfradinho, tolo, senta-se ao lado delas a ver se suspiram, mas ninguém suspira…nem a Bobone.

O que é que aprendemos com o programa? A não sermos parvos ao ponto de ver «aquilo» e mudarmos de canal logo no genérico. Só isso, porque cultura geral não há, inteligência não há. Ali avalia-se se as pessoas sabem a que artéria foi operado o Eusébio na última semana, e onde foi a actriz Margarida Villanova passar férias. Cultura geral. Ai ficamos a saber que tivemos uma ministra da educação chamada «Ana Paula Leite» (bem melhor do que Manuela Ferreira Leite) e um grande actor chamado «Soldado», pai da «Joana Soldado» (nem o parentesco a bela acertou, porque quem ouve Jesus é a filha Alexandra, não a neta Joana). Quando o apresentador, outro cromo triste, tentou ajudar dizendo à bela «troca o d pelo n» a rapariga ficou confusa. E a Bobone a rir e o Zink «é um actor que não chega a general», como se isso ajudasse…Outra muito boa foi a rapariga que tinha de adivinhar quem era o Koffie Anan, e o apresentador «como se diz café em inglês?» e ela nada. Melhor foi ainda o Anthony Hopkins, vai o apresentador, todo bondoso, a ajudar, «como se diz pele em inglês? Você sabe que estuda para esteticista», e a bela «mas eu estudo francês, e nunca soube como se diz pele em inglês». Era «skin». Já agora…ajudava alguma coisa ela saber? Eu ajudo: Hopkins= Hope+Skin. Raciocínio do apresentador, não meu. Uma única fotografia foi bem identificada: Marilyn Monroe. Porque será? Graaaande actriz, de maravilhosas pernas e decotes, como não saber? À Edite Estrela coitada, chamaram-lhe tudo: Elisabete Estrela, Ana Estrela…

A outra parte, a das contas, a da matemática, também me impressionou. Não são «elas», as belas, coitadas, que estão mal, é a sociedade que está a dar relevo a uma coisa triste: as pessoas não sabem somar, subtrair, dividir, multiplicar…nem que seja por dez. Lembram-se da conversinha dos nossos pais e professores: uma vírgula para trás, outra para a frente? Esqueçam, elas nem isso sabem…Como diria a Bobone «ai que espectáculo triste e divertido ao mesmo tempo!». O merceeiro onde eu ia com a minha avó não devia achar…E os problemas de matemática? Poder-se-ão chamar assim? Acho que não. «As belas foram comprar uma camisa de 450 euros ao Rui Zink. Quanto pagou cada uma?». E não é que a rapariga se engana…por uma vírgula? E O Zink na hora da votação diz-lhe «olha, querida, toma 2 valores, não, 20, é a diferença de uma vírgula. Dou-te 20 valores porque nunca recebi uma camisa de 450 euros, tá?». Portanto, o programa é pedagógico. Se não sabe, leva castiguinho, mas como teve graça, sai do castiguinho. Melhor ainda foi aquela conta que deu 9,6 rebuçados a cada bela. O que é 9,6 rebuçados? Cada uma recebeu um rebuçado e metade de outro comido pelo Zink? Não sei…

Também gostei muito de uma prova física de capoeira executada pelos rapazes. Não vi, mas gostei na mesma por causa dos comentários que a prova suscitou. A Bobone, cultíssima, não sabia a origem da capoeira, e o Zink, o professor, explicou «Era uma arte marcial praticada pelos escravos, mas como era proibida disfarçava-se em dança». Acho que ele inventou um bocado e depois extrapolou para a cultura geral, sim, porque o programa assim o exige. «O maior exportador de escravos era, era Port…Port…» e a Bobone completou orgulhosa «BRASIL!». Parecia o velho programa da amiga Olga (UAU!). Ficámos a saber que Portugal exportava escravos (cá para mim era intermediário, a África é que exportava, mas tudo bem) e que Brasil se escreve com «P». Depois, dizia o Zink para completar a questão, o importante é saber que o Brasil é melhor que Portugal em tudo: no tempo, na alegria de viver, nas mulheres…ah pois! É isso mesmo! Gajas! Gajas! E vem o apresentador Zé Pedro, ex da Rueff, «Mas aqui não precisamos de guarda-costas e temos mulheres muito bonitas!». E a Bobone, cultíssima: «Mas Zé Pedro, você é pobre. Os pobres no Brasil não são assaltados, são assaltantes». Pois é. Quando eu achava que os comentários não podiam descer mais, aí está um comentário que me irrita: a assimetria social. Ela vive bem e nós não. Ela tem os dentes arranjados e nós, os pobres, temos os dentes podres. Ela pode andar na moda, mas nós, gajas depauperadas que nem a Floribella, andamos a carregar sacos das compras (frase da Bobone há uns anos atrás). Ela vive em Cascais e dá um beijinho ao de leve (segundo a própria disse ao apresentador, «sem cuspo, que enoja»), nós moramos em Barcarena e Queluz de Baixo e damos dois beijinhos molhados. Ai que horror! Ai que nojo! Como é que ela fez os filhos dela? De luvas e com beijinhos secos? É que só pode…

Este apresentador-emplastro, o Zé Pedro, está mal ali: interrompe convidados, júris (não é por nada, eles não dizem nada de importante, mas é falta de educação), dá a sua opinião, ajuda umas belas e não outras. Ele não é bom actor. Não gosta de fazer aquilo e nota-se. Há uns anos atrás o Vergílio Castela apresentou o «Isto só Vídeo». Questionado numa entrevista se gostou desse trabalho, ele respondeu com sinceridade «Não, mas sou bom actor e fingi o melhor possível. Era a minha função». Está claro que um actor, um bom actor, não faz nada na apresentação de programas parvos. O Vergílio tinha mesmo de entrevistar as pessoas que ganhavam o concurso, e uma das vezes ganhou um senhor que tinha deixado cair a placa no bolo de anos enquanto cantava os parabéns a você. Eu acho que até o Vergílio Castela ficou enojado, mas lá foi ele perguntando a medo se o senhor já tinha a placa fixa (não fosse a dita cuja cair ali). Para o José Pedro deveria ser assim também: não gosta mas tem de comer. É o contrato. Só que ali anda ele às avessas, com ar de quem odeia aquilo, perdido no meio de tanta mama, tanto comentário triste, tanto barulho.

A Iva Domingues (dantes Iva Pamela, ó nome mai lindo!) vai melhor, vai na onda: para já usa decote, e lá se ouve às vezes no público um burgesso «gaja boa! Ai se fosses minha!», e todos riem, o Zink baba-se e o Zé Pedro com aquele ar de «despachem-se! Quero ir para casa!». A Bobone compõe a écharpe com modos «educados», mas faz parte daquele circo triste e desonroso até para ela, que já é avó.

Estou ansiosa pelo final do programa. Não sei se é bom se é mau, porque a seguir deve vir um pior. Agradeço a quem inventou a TVCabo, são ciganos, mas salvam-nos desta torpeza de carácter. Ganhará a Sandra e o Gil, que o Zink apelida de «a bela e o totó»? A Marina e o Lipari, que parece retirado da série «Fame»? Os novatos Paulo e Maria? Ou os veteranos Jaime e Vera que, segundo a Bobone «evidenciam uma clara desarmonia física, ela alta e ele baixo». Eu não sabia. Não sabia que as pessoas para «evidenciarem harmonia» tinham de medir o mesmo. Anda aí muito casal enganado…Fico à espera do vencedor e depois conto tudo.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home