Monday, April 02, 2007

A responsabilidade

Às mulheres são atribuídos os papéis mais difíceis e custosos deste mundo. Para já, porque uma mulher pode ter filhos, logo, tem de ter dores: menstruais, corporais, físicas. Dizem mesmo que as mulheres têm mais resistência à dor do que os homens, ora a natureza sabe bem o que faz, e mulher que não resista à dor não se vai meter numa de ter filhos, a menos que peça logo a anestesia (no entanto, corre sempre riscos). O meu amigo Eduardo tem uma perspectiva acerca das mulheres que eu gosto muito: vale sempre a pena dar-lhes uma oportunidade. São organizadas, decididas, trabalhadoras e, além disso, conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Enquanto um homem compra um cacho de bananas, uma mulher faz as compras, leva as compras a casa, limpa a ranhoca dos filhos e faz o jantar.

Uma mulher é um ser multifacetado. Bem, algumas…Muitas estão destinadas a fazer o que melhor sabem, o papel indesejado que ao longo dos séculos tiveram na sombra dos homens: manipuladoras, estrategas, falsárias, larápias, aproveitadoras baratas (ou caras), intriguistas. Casos como Cleópatra, Mata Hari, Lucrécia de Borgia mostram a força da mulher pelo lado pior. Muitas vezes se atribui a Yoko Ono a separação dos Beatles, que ela ainda hoje desmente. Mas será que os homens conhecem bem este poder das mulheres? Será que eles percebem a sua posição de fraqueza, mesmo quando são colocados perante a suposta «fragilidade» das mulheres? Às mulheres são atribuídas responsabilidades enormes: Eva é responsável, ou co-responsável pelo pecado no mundo, por isso não começámos bem, começámos por sussurrar aos homens que tínhamos melhores ideias do que eles, o que nem sempre é verdade.

Vemos sempre uma mulher manipuladora de forma estilizada: exuberante, bonita, muito maquilhada, malévola, inimiga de qualquer outra mulher que rapidamente não se una a ela. Vê nos outros escravos que vivem ao sabor dos seus gostos mais perversos. Todavia, quantas mulheres desenxabidas não serão manipuladoras? Quantas de nós, no melhor e no pior, não conseguimos o que queremos com armas muito menos exuberantes, bastando no fundo existir e ficarmos sentadas à espera que eles se atirem? Há um mito que diz que as mulheres são espertas e os homens parvos. Naturalmente que em parte concordo. Há uma dose de burrice muito grande num homem apaixonado, que loucamente saliva por sexo, atenção e reconhecimento (reiteração) da sua masculinidade. Com armas adequadas, qualquer um destes homens se compromete e dá tudo à mulher. Parece que enquanto alguns deles sentem vontade de dominá-las por ódio a si mesmos (Arno Gruen, novamente), outros sentem vontade de as proteger, como forma de reiteração do facto de serem homens e quererem assumir esse velho papel desde o tempo das cavernas. Os homens não percebem uma coisa: as mulheres não precisam disso, existem bem sem eles. Quando elas dependem deles é porque estão mesmo mal, ou porque estão a manipulá-los sem dó nem piedade. Também há a versão da coitadinha, da mulher preguiçosa que não quer aprender a fazer nada.

Sou uma pessoa amarga no que diz respeito ao amor. Continuo a achar que as relações durarem mais ou menos tempo não tem a ver com isso. Há gente que se casa para toda a vida e vive na mentira e no erro. Acho que a durabilidade dos casamentos depende da verdade, do querer ou não viver com a nossa verdade, aceitando a verdade do outro. Talvez se viva mais feliz na mentira, não invoca tanto sofrimento. Talvez pessoas frias e desapaixonadas sejam as mulheres «ideais»: elas ficam à espera de terem tudo o que querem, eles ficam à espera de lhes darem tudo. No fundo, o objectivo de vida é exactamente o mesmo: enganarmo-nos a nós próprios. A dependência, o apego e a manipulação afectiva são bem mais hábeis e seguros do que o amor, que é volátil, etéreo, irónico até, porque muitas vezes nos faz perder a noção do concreto e cometer a loucura de nos casarmos. Tudo isto é uma grande responsabilidade, mas a responsabilidade está no domínio da consciência, e essa sim, vai escasseando.

1 Comments:

At 8:34 AM, Blogger Brisa said...

O dom da maternidade confere logo o poder à mulher. No entanto, esse dom é aquilo que se quiser fazer dele. Existe em estado latente, até que queiramos recorrer a ele, para o melhor e para o pior. Esta questão da maternidade em potência transforma-nos e deixa-nos preparadas para a absoluta sobrevivência. Umas, usam essa força para a reles sedução de machos cheios de testosterona e vazios de cérebro, com o intuito de lhes sacarem uma confortável sobrevivência. Outras, recorrem a essa mesma força para crescerem como pessoas, assumirem a responsabilidade de tratar dos filhos (quando os têm), de construir uma relação sólida com um marido (por mais que isso acarrete um esforço adicional!). Somos, sim, o sexo forte. Mas, como sucede com qualquer energia, tanto pode resultar em bem como em mal...

 

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