Depois de muito ler nos blogues dos meus amigos acerca das alianças do Paulo e do Zé (ou da aliança entre o Paulo e o Zé), queria também deixar as minhas palavras amigas sobre o facto, para mim consumadíssimo, de que ambos formam um casal maravilhoso.
Vamos lá. Que sei eu sobre a vida? Muito pouco. O Zé sabe mais, muito mais, e há coisas que sabe que não diz porque é reservado, mas que quando diz está certo e só diz se lhe pedirem com jeito. Noutras coisas é directo, incisivo e corta a direito. Comigo é muito doce. Não é incisivo ao ponto de berrar comigo ou dizer na cara o que pensa. Comigo fala pelo olhar e parece-me bem, sinceramente são poucas as pessoas que conseguem fazer isso.
Nunca aqui falei do Zé, sou uma monstra, já falei quinhentas vezes no Paulo Mongo, e gosto tanto do Zé que nem sei como lhe expressar a minha gratidão. Acho-me terrível porque nunca ter dito isto aqui, mas ainda me acho mais terrível porque nunca lhe ter dito isso a ele. Sinto-me grata ao Zé pelo Paulo, em primeiro lugar. Encontraram-se e o Paulo andava em baixo, em crise emocional, daquelas crises que eu compreendo mas nunca sei o que dizer, por isso fico ali, de olhos esbugalhados, à espera que ele grite comigo e diga que me adora e sou Monga. Se há alguém que tira o Paulo destas crises neuronais, emocionais, e não sei que mais, é o Zé. Eu diria que o salva devagar do entupimento emocional em que vive metido, do caos que por vezes o domina e o enerva tanto. O Mongo é nervoso. Como diria a Denise, o pé não pára, a pastilha elástica, o dar ordens constantes enquanto acende o cigarro, a respiração enfurecida. Uma pequena besta em delírio poético. Se não fosse domado, já me tinham saltado os óculos e as lentes ao mesmo tempo (ele vai-se zangar comigo por eu ter dito isto!).
O Zé dá-lhe a calma, a sabedoria do mais velho. Lamento dizer «do mais velho», não é depreciativo, mas a maturidade do Zé vem daí. Embora eu não sinta a distância etária vincadamente – nem ele – sabemos que isso conta muito na apreciação que fazemos do mundo e daquilo que sabemos dele, bem como da forma como participamos nele. O Zé faz do mundo do Paulo um mundo melhor, acho que mais livre, mais suave, menos carregado de dor e de estados de alma controversos.
Sempre me considerei uma pessoa bafejada pela sorte no que toca a amigos. Mas melhor do que isso, adoro os amigos dos amigos que se tornam meus amigos. Acho muito divertido e o mundo cresce com isso.
Com o Zé não tenho história parecida com a que tenho com o Paulo, todavia também temos o luto no nosso caminho, como quase toda a gente. A minha mãe morreu dois dias antes da irmã do Zé e eu um dia inadvertidamente perguntei se ele tinha irmãos, sendo logo de seguida repreendida pelo Mongo ao ponto de levar quase uma estalada, sem perceber porquê. Pronto, depois percebi a minha inconveniência e pedi desculpa. Mas naquele dia habilitei-me a uma lambada por causa da minha monguice.
Já algumas vezes desabafei com o Zé e partilho informações pessoais da minha vida com ele através do Paulo sem qualquer problema. O Zé raramente comenta ou critica, mantemos um diálogo mudo, feito de olhares de soslaio e muito tacto da parte dele, muito «não me meto, mas estou a perceber tudo». Acho que no último jantar ele percebeu tudo e sorriu-me. Apoiou-me. Entretanto andava o Mongo desvairado a fazer anos, com dezenas de amigos e amigas de diversos quadrantes, a mostrar a sua nova máquina fotográfica e a usá-la indiscriminadamente, a mandar-me comer. E não percebeu nada.
Agora eles têm umas alianças lindas que me comovem por tudo o que significam, e por tudo o que significam para eles os dois. Cada pessoa dá o valor à aliança que pretende: união, partilha, confiança mútua, amor, paixão. Aquela foi uma noite radiosa, o Paulo estava muito bonito, com um brilho nos olhos, muito nervoso com o facto de o jantar «ter de correr muito bem», e o Zé estava descontraído, muito calmo e seguro como sempre.
Gosto muito de casamentos felizes, desses que duram, que são bons, construtivos. Não precisa de haver paixão avassaladora (às vezes até perturba). Precisa de haver vontade de construir, de colocar os tijolos uns sobre os outros, de ter um tecto, uma casa, um alicerce seguro. Sabemos que a pessoa certa é certa porque vamos pesados para casa e nos encontramos com alguém que nos alivia esse peso. Sabemos que a pessoa certa nos dá as respostas certas, nos desarma e arma para um novo dia, uma nova fase, um recomeço. As alianças são isso mesmo: a construção de um caminho juntos.
Fico contente quando vejo o meu Mongo com o Zé (o Mongo-consorte…afinal conheci primeiro o Paulo), fica feliz, é mais delicado comigo (embora não se iniba de dizer o que quer), fica doce e ternurento. Nos dias em que estou com eles também eu me sinto cheia, completa, partilhando com eles a minha amizade e os meus segredos.