Sunday, July 01, 2007

Duas faces da mesma moeda

A revista «Sábado» publicou há bem pouco tempo um artigo intrigante acerca da princesa Diana, que faria em breve 46 anos. A princesa Diana é a 4ª figura britânica votada como personalidade importante, ou seja, no concurso «o maior britânico de todos os tempos». À frente dela ficou, pelo menos que eu saiba, Churchill. Portanto, faz parte da nata que cai no goto dos ingleses: simpática, bonita, boa pessoa, humana, sensível e…muito frágil. Uma mulher com um casamento desfeito, uma vida (e uma morte) a mil à hora, mas um coração despedaçado pelas traições do marido.
Desde há muito que se fala que Diana sabia mais do que parecia, era mais do que parecia, manipulava, abusava da exposição dos media e deitou-se na cama larga que tratou de fazer ao longo da vida. Quando os repórteres começaram a maçá-la, quando decidiu que queria ser feliz (e com quem o queria fazer) foi tarde de mais: morreu perseguida por um bando de papparazzi, que em vez de a socorrerem procuraram «a fotografia do ano»: Diana feia e despedaçada num carro onde viajava com o acompanhante Dodi Al-Fayed. Vieram a lume teses de atentado, de perseguições feita à princesa, que na altura estava de férias em Paris.
Duvido sinceramente que ela tivesse planeado um fim assim, acima de tudo por uma razão: tinha filhos. Que filhos podem alguma vez gostar de perder a mãe? Que filhos podem gostar de uma mãe exposta ao ridículo de uma panóplia de amantes e um pai que nunca largou a amante? Nunca entendi como aqueles miúdos ficaram vivos e de pé, mas custou-me imenso ver o cortejo fúnebre com eles os dois certinhos a caminharem atrás do caixão da mãe, sem esbracejar, gritar, arrancar cabelos. Dois miúdos homenzinhos para quem os pais nunca foram grandes exemplos. Talvez por isso, pai e mãe, quisessem assentar cada um para o seu lado.
A «Sábado» publica o outro lado da moeda. Quem era, afinal, Diana? Uma coitada ou uma manipuladora? Ou uma coitada de uma manipuladora que caiu nas malhas do seu próprio jogo? Mais isso. Chorava que os repórteres a perseguiam, mas oferecia-lhes almoço e combinava fotografias escandalosas com eles. Vingava-se na cunhada, Sarah Fergunson, que odiava, autoproclamando-se mais bonita, pedindo que a fotografassem mais vezes. Chorava que Carlos a traía, mas em diversos momentos importantes tirou-lhe visibilidade e…traiu-o também com diversos amantes a quem intensamente telefonava e oferecia favores. Ficou rotulada de «predadora sexual», rótulo distante da imagem tradicional de mulher boazinha, traída por um marido desinteressado e desinteressante.
A mim Diana parece-me uma mulher perdida e frágil. Hábil na sua experiência mediática de figura pública, inábil a lidar com as suas emoções e auto-estima destruída. Classificou a família real, em diversos telefonemas que fez a amantes como «uma família de merda». Por diversas vezes foi afastada de actos oficiais e praticamente forçada ao divórcio pela rainha. Instável, desequilibrada, sedutora, mas ao mesmo tempo uma figura doce, sensível, humana. Afinal, uma mulher como outra qualquer, que não soube jogar com as regras ferozes da sociedade, dos media, da exposição pública, do olhar dos outros que pesa sobre nós. Mas engraçado…nunca ninguém a classificou como má mãe, aparecia sempre de braços abertos para os filhos, corria para eles, participava despudoradamente em jogos escolares banais, acompanhava-os e mostrava-lhes um amor desmedido. Duvido muito que tenha fingido isso, se não os filhos não se teriam remetido tantos anos ao silêncio e organizado um concerto em homenagem à mãe, com as seguintes palavras «as pessoas nunca saberão o quão boa pessoa e boa mãe ela era». Uma moeda com duas faces. Como todas.

1 Comments:

At 3:54 AM, Blogger Brisa said...

A grande falha da Diana (e de muitas, muitas outras pessoas que andam por aí) é a falta de auto-estima. Podia ter todas as boas qualidades, mas o vazio interior levou-a a ter atitudes e comportamentos menos nobres e, em última instância, à morte. No fundo, ela era uma pessoa muito mais parecida com o povo, do que o resto dos Windsor, treinados para não ter emoções e reacções desde que nascem.

 

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