Friday, June 15, 2007



O momento

Já há uns dia para cá que reflicto sobre a vida mais do que é costume. Nunca sei se isso acontece porque estou mais em baixo, porque preciso, porque sou coerente, porque me assumo ou simplesmente porque pressinto coisas com muita velocidade e muita rapidez. Muitas vezes não durmo a pensar no momento. «E se…?». E há milhares de respostas que se abrem à minha frente.
Em 2004 fui assaltada. Uma coisa parva mesmo. Às vezes não temos a culpa, vamos distraídos na rua a alguém aparece com uma faca, saca-nos o dinheiro. Ficamos a pensar: “ Porquê? “. Não sabemos. Muitas pessoas são assaltadas e têm pior sorte. Acabamos com um certo regozijo por não ter acontecido nada de grave. Gosto pouco de falar da vez em que fui assaltada, mas foi o carro roubado. Com tanto banditismo e eu tinha de me pôr, irresponsavelmente, à beira da estrada no carro com o meu namorado. Muitas vezes penso «Porque é que fui tão estúpida?», muito mais do que «Porque é que fui assaltada?», já que dei como óbvio que ali, àquela hora, só não seria assaltada por uma grande sorte. É curioso que nos momentos seguintes é que fiquei em pânico, porque, no próprio momento, eu ouvi uma voz dentro de mim que me descreveu rapidamente a vida: “ Não te vai acontecer nada hoje, mas aprende, tudo tem consequências. Agora descansa. “ Na verdade, aprendi a ser muito mais prudente do que fora até esse momento, a temer um pouco mais andar de noite, mas acima de tudo, aprendi a ouvir a minha voz interior que distingue o certo do errado.
Por vezes um momento é decisivo na vida e não volta mais. Às vezes o momento é a casa que decidimos ter, a vida que decidimos levar ou, como diz o BossAC, em cinco minutos faz-se um filho. Não precisamos de mais de cinco minutos para ver a vida desgraçada: há acidentes que duram segundos e mudam a vida para sempre, seja deixar uma torneira aberta, não usar contraceptivo, parar o carro à beira da estrada ou brincar com fogo. No mais recente caso da Madeleine, quantas vezes acham que os pais já devem ter pensado «Porque raio deixámos os miúdos sozinhos em casa naquele dia?». Se a minha mãe tivesse decidido fazer uma mamografia há muitos anos atrás talvez não tivesse morrido, assim como muitas outras pessoas que fogem do médico a sete pés. Somos desafiados muitas vezes num momento só: uma arma apontada à cabeça, uma pessoa que nos provoca, uma decisão qualquer que temos de tomar em cima da hora. Chama-se impermanência a esta característica da vida, que é mutante, volátil, que se perde e se ganha em minutos, segundos, fracções de segundo. E só acompanhando esse ritmo podemos aprender a viver. Nada fica para sempre no mesmo sítio.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home