Sunday, July 01, 2007


A cama onde nos deitamos

Muitas vezes dou comigo a pensar que deve ser bom ser monge budista. Quer dizer, não me interpretem mal, eu acho que dá um trabalhão ser budista, quanto mais monge.
A vida é um lugar estranho. Por vezes incita-nos a pensar «o que ando a fazer por cá?». Inevitavelmente, se não somos felizes, achamos que merecemos ser, mesmo que isso signifique chacinar alguém. Arno Gruen estuda bem os processos de auto-desprezo reflectidos na sociedade: quem atira papéis ao chão também não parece muito preocupado consigo mesmo. A atitude que temos com o mundo é a atitude que temos connosco, disso eu não tenho dúvida, e a regra é o desprezo pelos sentimentos dos outros, que o mesmo é dizer, o desprezo pelos nossos sentimentos. No fundo, quem não indaga vezes sem conta quem é e porque é, só chega a um lugar: a solidão. Muitas vezes há alguém disposto a dar uma mãozinha, mas enfurecemo-nos porque, na realidade, não está ninguém ali. Está um autómato criado para servir, não um pai, um filho, um amigo.
Pessoas que se odeiam a elas mesmas, vão gostar de quem? Não falo de crises de auto-estima ou tentativas de descoberta de identidade tardias. Falo a sério: pessoas que se desconhecem, que desconhecem os seus erros e o quanto magoam os outros, só têm um lugar onde viver: a dor. Não quero ser má e pensar «é bem feita». Quero sim pensar seriamente numa coisa: todos nos deitamos na cama que fazemos. Por isso eu tenho tanto cuidado.

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