Sunday, October 01, 2006


A viagem da Patrícia

Anuncio no meu blogue, para todos os que a conhecem, que a Patrícia vai viajar, durante algum tempo, para a Madeira, para trabalhar, e portanto viver, porque ainda não inventaram naves espaciais que permitam às pessoas viver no continente e trabalharem no arquipélago da Madeira. Ultimamente, e ao contrário daquilo a que estou habituada, a vida das minhas amigas todas anda num corropio danado. Bem, a minha vida também, mas são coisas de índole muito positiva. A vida das minhas amigas, da maioria, pelo menos, anda em maré de azar, com inúmeros acontecimentos retirados de filmes do David Lynch ou do Woody Allen: desde divórcios, a cortes temporários com namorados, a cortes definitivos, a mudanças de emprego, a ex-namorados que se casam com ucranianas num piscar de olhos, no meio de isto tudo estamos todas a tentar manter a sanidade mental e a perceber onde é que raio posou o ovni que trouxe os homens à terra. Na Sertã? Talvez. Nunca mais me digam que há mulheres estranhas. Os homens são estranhos, muito estranhos, e pelos vistos, quando casados, assumem comportamentos que nenhuma mulher consegue perceber. Não fomos simplesmente feitas para viver em pocilgas, mas eles sim, até acham piada, ah, ah, ah (sorrisinho cínico).
Mas a Patrícia, depois de muitas peripécias, e depois de já ter largado a ideia de ir para a Madeira, finalmente foi chamada para trabalhar lá, qual emigrante (ou migrante). Decerto levará na bagagem canções inspiradoras do Cristiano Saga sobre a vida do emigrante. Também terá dificuldades em perceber a língua da terra, aquela pronúncia é confusa. Tem a sorte de haver multibancos em português. Não sei porquê, mas acho que o facto de a Merche Romero e o Cristiano Ronaldo se terem separado recentemente há-de ter ajudado a Patrícia a decidir esta grande mudança na sua vida (pronto, ela agora não me fala mais!!).
Em primeiro lugar Patrícia, e é a primeira vez que falo directamente para alguém neste blogue, traz-me bolo do caco. Quando estive na Madeira, foi o responsável pela minha engorda, mas agora talvez dê jeito, porque o JPA diz que se eu não engordo vôo no Inverno. Um bolo do caco chega.
Em segundo lugar, prepara-te para a mudança de uma simples forma: calma interior e exterior. Mudar, seja no que for, é um desatino, mas tão depressa traz surpresas desagradáveis como coisas doces e boas. Terás saudades, e isso comprovará que estás viva (não és uma alminha penada que roga preces ao Sousa Martins), que és humana (não vieste num ovni), e que as pessoas que tu amas a sério estarão sempre contigo. Entenderás a ausência de um outro modo. E, apesar de não estar envolvida a perda definitiva de alguma coisa e simplesmente a mudança, entenderás muito melhor o valor da presença, da ausência, da transformação.
Quando te vires à rasca, também não desanimes. Certamente os cartões telefónicos não serão tão complicados como os italianos (demorei só três dias a perceber como funcionavam, e que tinha de discar mais de cem números para funcionar e mais alguns se telefonasse do arquivo secreto, se calhar por ser secreto), podes sempre pedir ajuda, verás que no continente há uma espécie de call-center 24 horas por dia a funcionar, constituído pelas pessoas que gostam de ti, e que em qualquer emergência irão ter contigo (e há o Cristiano Ronaldo, claro).
Estar sozinho numa situação nova é difícil, sobretudo se não soubermos bem ao que vamos, se formos às apalpadelas pelo escuro, como quase sempre é. Mas esse acabará por ser o grande desafio, para ti e para todos nós, porque também nos ajuda a compreender que às vezes somos mais dependentes do que gostaríamos, ou mais independentes do que julgávamos ser. Seja como for, um dia perceberás que foste capaz, e também perceberás que muitos de nós não somos, simplesmente porque não arriscamos sair do espaço que nos circunda e é familiar. É o medo que nos tolhe os movimentos. Precisarás de arrojo. Haverá coisas fáceis que te parecerão difíceis ou vice-versa. Seja como for, enche-te de dinheiro e não esqueças os amigos, que cá estarão para te apoiar.
Foi o post dedicado à viagem da Patrícia Patrícia, mulher de força, coragem e dedicação à vida. Beijinhos e boa sorte.





2 Comments:

At 1:47 PM, Blogger XaninhA said...

Estar sozinha é muito difícil. Aprendes numa semana o que levarias um mês a perceber se vivesses acompanhada. Acompanhada pela família, pelos amigos, pelo senhor da mercearia, pelo motorista da Carris que te abre a porta do autocarro todos os dias, pelo polícia que está sempre na mesma rua àquela hora.
Aqui também há amigos, merceeiros, motoristas e polícias. Mas são outros. E há famílias mas não a tua família. As tuas pessoas. As caras que tu já viste milhões de vezes (no verdadeiro sentido da expressão) e das quais nunca enjoaste.
Longe sente-se mais falta de tudo. Até do que não se fazia mas sempre se pôde fazer. Sente-se mais falta daquele livro que não se leu, do passeio que não se deu, da visita que não se fez.
"Não peças um fardo ligeiro, pede umas costas fortes" - foi o que eu fiz. Deve ser por isso que geralmente consigo tudo o que quero (mesmo que venha fora de prazo), devido às costas fortes.
E um dia Fernanda, um dia vou encostar as costas para elas poderem descansar finalmente. Ou não.

Obrigada por tudo, mas sobretudo por seres a amiga que és. Brilhante*

 
At 2:21 PM, Blogger fercris77 said...

Cousa mai linda! Aprendes tudo rápido e bem! Se tivesses conhecido o JPA como deve ser, ele dizia-te o que eram umas costas fortes. Exercícios todos os dias - que eu não faço! É assim que a vida deve ser levada, com exercícios em tudo e mais alguma coisa: treinos de pesos, de adaptação, de flexibilidade, de luta, de gestão de prazos, de tempo, de divisão de espaço,de coordenação. É isso tudo e mais alguma coisa. A tal que nos falta e que nunca sabemos bem o que é.

Obrigada tu por seres muito boa amiga!! És uma FOREVER FRIEND!

 

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