Saturday, August 26, 2006


Elogio aos homens

Vão estranhar este post e achá-lo um pouco incoerente, porque já afirmei inúmeras vezes que sou feminista, que defendo muito as mulheres, que defendo muito a igualdade de direitos. Tudo isso é verdade, mas vou dedicar as minhas palavras aos homens, se calhar porque ando de coração mole, vou-me casar, e por isso, mais do que nunca, tenho de acreditar que os homens valem uma parte generosa da nossa vida.
É verdade que o machismo às vezes magoa o mais fundo de nós. Mas quem são os verdadeiros machistas? Os homens ou as mulheres? As mães falharam, ao longo de muitos anos, a educação dos seus «meninos», relegando as meninas para segundo plano, obrigando-as a fazer a cama e deixar o quarto limpo, enquanto exerciam funções de empregadas de limpeza com os meninos. Foi o que me aconteceu. Socialmente, só me apercebi do machismo mais tarde, embora nunca tenha sentido uma discriminação directa, embora nenhum homem alguma vez me tenha dito «és pior porque és mulher», isso esteve muitas vezes implícito na forma como fui tratada ou entrevistada para um emprego. E sinceramente, no emprego que tenho, quase ouvi nas minhas costas «uma mulher a estudar paleografia, a estudar latim?». O latim foi um universo estritamente religioso e masculino durante séculos, um universo vedado às mulheres. Depois tornou-se obrigatório o seu ensino, e isso ao menos abriu portas a que as mulheres soubessem alguma coisa de latim, mas raras foram as que se tornaram latinistas. A Maria Helena da Rocha Pereira é um dos raros casos de uma mulher classicista, estudiosa do latim e do grego. Na entrada para a universidade eu queria mesmo seguir estudos clássicos, mas acabei por me virar para estudos portugueses por causa da minha vontade de estudar literatura africana. E acabou por ser nessa área o meu mestrado.
Digamos que tirando a minha queda para o latim, segui sempre meios tipicamente femininos ou frequentados por mulheres, como a docência, o estudo da língua portuguesa. No meu curso as mulheres abundavam e escasseavam os rapazes.
Hoje quase todos nós concordamos que trabalhamos com pessoas e, quer sejam do sexo masculino ou feminino, o que conta é a sua competência, mas mesmo assim diferenciamos algumas pessoas pelas atitudes tipicamente feministas ou machistas. Se me dissessem para escolher e dar uma opinião, francamente prefiro trabalhar com homens, mas isso é a minha experiência negativa a falar mais alto: as mulheres são muitas vezes coscuvilheiras e trapaceiras, usam todas as informações a seu favor, manipulam e são emotivas, preferem mil vezes agir por motivos subjectivos do que reconhecer a competência de outra mulher. Os homens, surpreendentemente, dão muitas vezes a mão à palmatória. As mulheres usam argumentos como «é gorda», «é magra», «é bonita», «é feia», «é muito nova» (esta fartei-me de ouvir da boca de mulheres!). Um machista dirá simplesmente «é mulher!», sem precisar de mais argumentos e resumindo-os todos nesta frase que explicita que ser mulher é sinónimo de burrice e incapacidade.
As mulheres são óptimas gestoras, regra geral. Gerem tudo ao mesmo tempo, de todas formas, possíveis ou impossíveis. Conseguem levantar-se cedo, fazer tarefas caseiras, trabalhar todo o dia, arrumar a casa, cuidar dos filhos. Muito poucos homens foram ensinados a fazer tudo isto ao mesmo tempo, por isso muito poucos tentam, sequer, fazê-lo. As soluções dos homens passam por ter empregadas ou fazer das suas mulheres empregadas, já que antigamente eram as suas mães a ocupar esse lugar. Mas vamos falar de excepções, para que os homens que lêem o meu blogue (que eu sei que são poucos) não pensem que este comentário os discrimina ou inferioriza. Na realidade, a educação dada pelas mães é que os inferioriza. A minha avó ainda diz «coitadinho é homem!» ou «um homem nunca limpa tão bem a casa como uma mulher», ou «é feio uma mulher ganhar mais do que um homem». E de facto o meu pai nunca limpou a casa como deve ser nem vai limpar, simplesmente porque está à espera que a sua inutilidade renda e uma mulher lhe limpe a casa. Isso entra no critério dele para escolher namoradas: sabe cozinhar e limpar e está disposta a isso tudo muito bem, senão está fora de jogo, não passa de brincadeira. Portanto o meu pai não é excepção. É regra.
A excepção são os homens que fazem tudo, porque vai havendo cada vez mais casos contrários àqueles que dantes assistíamos. Como eu disse logo nos meus primeiros textos aqui do blogue, durante século as mulheres foram espezinhadas e maltratadas, por isso hoje em dia assistimos a duas atitudes por parte das mulheres: as que raivosamente se vingam e as que, entendendo o contexto histórico, se afastam desse padrão, procurando nos homens parceiros que agem por igual. Agora as mulheres mais feministas ou com experiências negativas vão-me chamar ingénua, mas é isso que procuro no casamento. Um parceiro, não alguém que se degladie comigo, mas também não alguém que me sirva de criado para satisfazer caprichos. Claro que uma pessoa se confronta com inúmeras dificuldades e pontos de vista muito diferentes ou pontos de discórdia, mas isso não faz dos homens inimigos.
Muitas mulheres não deram a volta toda. Não entenderam que não têm de ser criadas dos homens, mas também não têm de fazer deles criados ao seu serviço. Por que raio andámos tantos séculos a lutar? Não foi pela igualdade? Depois não gosto daquela atitude de parvinha insonsa «ele faz porque quer». Pois, é verdade, os homens são seres muito básicos, muito ingénuos, e por amor (ou mesmo por sexo) fazem quase tudo. Mas parece-me que manipulá-los desse modo, como se fôssemos tontinhas, não é nada abonatório para nós. Não é ser sensata nem inteligente, e muito menos interessante. Talvez a beleza seja muito importante, ou pelo menos a estética, que não corresponde necessariamente ao mesmo. O Augustus diz que qualquer mulher é bonita desde que bem arranjada. Provavelmente o senhor queria dizer que qualquer mulher é bonita com um vestido dos dele, o que também não é verdade, porque as tias de Cascais não são bonitas com absolutamente nada em cima, só lá vai com cirurgia plástica (às vezes…). Ser interessante é um conceito um bocado vago, subjectivo mesmo, mas que eu acho que depende muito mais do uma cabeça do que um corpo (vão lá dizer isso a alguns homens…).
Acho que com o crescimento das mulheres os homens tiveram de lhes seguir as passadas. Tiveram de dar um salto em frente graças à emancipação delas. Desse modo, a inteligência de uma mulher deixou de assustar. A atitude mesquinha de fugir das mulheres inteligentes dissipou-se, embora não na totalidade, sobretudo com a entrada das mulheres em massa nas universidades e por, estatisticamente, termos uma grande percentagem de mulheres em cargos outrora ocupados tão somente pelos homens. Essa conquista criou igualdade. A velha frase «se as mulheres dominassem o mundo não havia tantas guerras» não faz muito sentido para mim. Eu acho que era igual. Elas também são brutas e violentas, mesmo sem testosterona.
É quase um dado assumido que a inteligência e a estupidez estão em proporções iguais, do ponto de vista do sexo, quero dizer há tantas mulheres inteligentes como homens, há tantas mulheres estúpidas como homens. Hoje equilibramo-nos sabiamente desse modo. Na área que conheço melhor, a investigação, acho que é a mesma proporção, a mesma dose de estupidez que enforma ambos os sexos. Não vejo qualquer diferença.
Curiosamente, nos meios que conheço, e é só desses que falo porque generalizar é sempre perigoso, parece-me que as mulheres ainda ganham aos homens na habilidade de enganar, manipular, distorcer a realidade sem dó nem piedade. É para mim quase uma evidência que neste campo elas são soberanas, e isto não significa que não tenha conhecido homens muito mentirosos, a questão é que, mais tarde ou mais cedo, sabe-se que são mentirosos e corruptos (excepto as pessoas ligadas à política e ao futebol). As mulheres conseguem passar a vida inteira a mentir sem serem apanhadas. Mais facilmente se casam por interesse, por dinheiro, por conforto, por vingança, por manha. Um homem não tem paciência para andar à procura do que mais lhe convém, é um bocado o que calha na rifa. O que é muito estranho. Que se passará para sermos tão lutadoras numas coisas e tão palermas noutras? Que se passará para querermos partilhar a vida com quem não gostamos? Não sei. Mas cada vez mais desistimos de tudo em nome do conforto, o que talvez signifique esperteza saloia e pouco mais. As mulheres também são muitíssimo boas a esconder uma traição, a mentir sobre quem são e como são de verdade. Se quiserem nenhum homem as apanha (outra mulher apanha-as sempre). Talvez seja um problema do mundo actual, este cinismo global, mas na verdade quando chamamos aos homens «básicos» estamos a dizer também que eles não chegam a este ponto de malícia que nós chegamos. Se calhar não é assim uma ofensa tão grande dizermos que eles são «básicos». É um elogio. Quem me dera a mim ser «básica», descomplexada. Era mais simples a vida…


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