Tuesday, October 10, 2006


À Patrícia T., por ser diferente


Eu sei que dediquei um post à Patrícia França, porque ela é especial e viajou para longe de mim (e graças a ela sonho estar a viajar para a Madeira, graças a ela ou aos comprimidos da malária). Mas a Patrícia Torres também merece novo post, porque não há outra como ela e dá-me desgosto que muitas pessoas não tenham amigos assim, porque com ela ao pé toda a gente lava as mãos sem reclamar, come comida vegetariana e lava a casa-de-banho até ficar um brinco. Eu juro que é assim. Tenho a certeza que a Patrícia poria muita gente porca no lugar. Quem dera que ela andasse sempre no metro e no comboio a avisar as pessoas para serem limpinhas e não perturbarem o cosmos ordenado em que ela vive. Ou tenta viver, porque a desordem dos outros e da cabeça dos outros também perturba a Patrícia. Nem todos temos a ordenação e a limpeza da cabeça dela. Nem a maturidade e a determinação. Talvez por isso todos precisemos, mais tarde ou mais cedo, de uma amiga como a Patrícia, que nos recorde que há bactérias no chão e em cima da mesa, que devemos limpar as migalhas e lavar regularmente a casa-de-banho, e que há muitos alimentos tóxicos no mercado, vendidos com toxinas para saberem bem, e nós metemos cá para dentro gorduras hidrogenadas, como os donuts e dizemos «ai que sabe tão bem», em vez de dizermos «estou a entupir as minhas artérias», pois bem, a Patrícia repetirá a segunda frase vezes sem conta, freneticamente mas sem histerismos, a fim de entendermos todos que as gorduras fazem mal à saúde.
Quem se preocupa com as coisas com que a Patrícia se preocupa? Muito poucos temos a sanidade e a lucidez dela. Eu adoro donuts, mas realmente fazem mal, e quando olho para os tamanhos das roupas dos EUA recuo e não como. Claro que me lembro da Patrícia.
Uma mulher desarrumada como eu, desordenada e indisciplinada, que é capaz de correr para o emprego mas ficar pelo caminho a olhar para as pessoas ou a ver montras, admira pessoas como a Patrícia, que é disciplinada e trabalhadora, que lava sempre as mãos e lembra aos outros que têm de o fazer para não andarem a servir de transporte ambulante de bactérias.
Por outro lado, eu admiro todas as pessoas que sabem que têm um corpo e o estimam. Porque a regra é nem sequer sabermos que temos músculos, ossos e sangue. Pensamos que somos os nossos pensamentos e que vamos para onde eles nos levam, por vezes para o Inferno, e esquecemo-nos que temos algo mais, poderoso, uma espécie de arma desconhecida e sempre descarregada de força. A Patrícia sabe exactamente a força que tem e sabe que pode chegar mais longe. Sabe os nomes todos dos músculos que exercita e como exercitá-los, metendo inveja a qualquer desportista vitaminado.
Alguns de nós temos um percurso mais sinuoso do que outros. Um percurso que exige mais força e coragem, um percurso trilhado pela força, muscular e espiritual. Outros de nós não. Alguns seres humanos parecem viver num halo de imaturidade, irresponsabilidade, ausência de medição de causas e consequências para os outros, a olhar para o umbigo, mas todavia encontrando sempre quem ajude a olhar ainda mais para o umbigo. Conheço pessoas que precisam de ajuda para respirar e não colocam a hipótese de fazer seja o que for sozinhas. Conheço outras pessoas como a Patrícia, e também como eu, que tiveram partes enormes de um percurso de vida difícil trilhado sozinhas. É chato e penoso, mas aprendemos que somos capazes, que os nossos actos e palavras têm consequências e agimos de acordo com esse princípio. Infelizmente, a maior parte das pessoas não é assim. Nem aprende isso só porque trilhou um caminho sinuoso. A regra é vingarmo-nos nos outros do caminho sinuoso que fomos obrigados a trilhar. A regra é sermos destrutivos e não construtivos. Por isso, num mundo em que a maldade parece ser comum, o carácter recto, honesto e limpo (a todos os níveis) da Patrícia fá-la brilhar. Não há bactérias que a conspurquem.


2 Comments:

At 2:08 PM, Blogger XaninhA said...

A Patrícia Mânfia é fixe! Mesmo quando só come coisas verdinhas :D
Uma vez levou-me a um restaurante macrobiótico e eu pensei que ia rebentar! Acho que nunca comi tanto como naquele dia! lol
Por isso e por tudo o mais que a Patrícia Mânfia é (amiga, sincera, justa e limpinha!), um obrigado grande a ti por este post e a ela por ser ela no matter what.

 
At 2:15 PM, Blogger fercris77 said...

A Patrícia Mânfia no Arquivo era uma beleza! Acabava-se as múmias e a naftalina...

Beijinhos. Comenta mais vezes!!

 

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