O despudor
É verdade que os anos 60 trouxeram consigo uma liberdade que dantes não se suponha, sequer, existir. Antes disso, toda a gente usava cuecas de gola alta, meias e saias acima do joelho, collantes desconfortáveis e sui generis (quando não eram ceroulas!!). A lingerie era um conceito distante das nossas casas e o mau gosto em penteados, roupas e sapatos imperava. Ainda hoje podemos olhar mil e uma fotografias dos nossos pais e avós para pecebermos que somos sortudos em ter nascido numa época de liberdade de gosto (ou de mau gosto, também, dependendo das opiniões). Eu olho para as minhas fotografias de quando era criança e só me vem à cabeça a tristeza que não devia ser usar sempre lenços esquisitos, saias horrorosas, sapatos apertados de fivela, blusas ranhosas que o meu irmão cuspia de alto a baixo e nunca nada combinar. Depois vieram os óculos, mais precisamente aos cinco anos, e com eles uma tristeza ainda maior, porque se hoje quase todos somos míopes, dantes não era bem assim, e portanto gama de óculos para mim era como encontrar tamanhos grandes em lojas de roupa. Dantes poucos eram obesos, também.
Com a era da liberdade veio também a liberdade de expressão, em todos os domínios. Repentinamente começou-se a falar de sexo e parece que hoje não há quase nada escrito ou filmado que não aborde, de forma aberta e despudorada, o tema em questão. Esta revolução também anda de mãos dadas com a liberdade feminina, que por exemplo a minha avó desconhece por inteiro de que trata. Hoje ouvimos as mulheres falarem dos mesmos assuntos dos homens, com a mesma abertura de espírito, com a mesma postura desabrigada, para não voltar à palavra despudorada. Com toda esta liberdade também veio uma outra coisa: a falta de vergonha na cara. Dantes, nós gajas, se tínhamos um amante escondiamo-lo bem. Hoje contamos umas às outras. Dantes, se casávamos por dinheiro era porque tinha de ser. Hoje não tem nada de ser. Não há casamentos fabricados por ninguém, excepto por nós próprias, que vamos à procura dos tipos mais parvos e endinheirados para lhes dizer «casa comigo, dá-me conforto, móveis caros, uma casa com vista para o mar, um carro (ou vai-me buscar onde eu quiser!), faz-me os trabalhos de casa, diz a todos que sou boa para ti, e mais tarde, quando eu arranjar um amante, não te queixes, que um par de cornos ficam sempre bem a qualquer homem, mesmo que bem intencionado». Este é o tipo de mulher proliferante, que nem os textos do Padre Manuel Antunes, tão modernos e inteligentes, supunham que alguma vez viesse a existir.
Se sempre houve gajos despudorados, sacanas, torpes, imbecis, daqueles que levavam uma mulher à ruína, à perdição, à tortura e à terapia, desde a época das famosas Cantigas de Amor que as mulheres dão cabo dos homens, só que hoje em dia deixando-os convencidos que lhes estão a fazer um grande favor em «gostar» deles. Se o mundo mudou, as mulheres mudaram, mas os homens não, qual bichinho primitivo, como dizia a minha amiga Arlinda, que nunca se casou com nenhum. Quando eu era miúda, a minha avó dava-me cantinhos do pão para eu casar cedo, porque ela dizia que, com o meu mau feitio, nunca arranjaria ninguém para me casar. Mas a minha avó estava enganada, pelo menos em parte. Eu casei-me, tarde, é verdade, mas mau feitio não põe ninguém de lado, nem mau carácter, que penso não ser o meu caso, mas o de tantas gentis fémeas que me circundam e deambulam por aí (às vezes tãoooo pertinho que até mete nojo!). Dantes havia homens mete-nojo, e nós, gajas espertas, sabíamos quem eram: os ciumentos, os parvinhos, os violentos, os que tinham outra mas diziam que éramos a única que amavam, etc. Hoje é ao contrário, se eles são muito esquisitos ficam sem nenhuma mulher, ou nem facturam (vulgo dar uma queca). Por isso, o mundo lançou esta nova moda da gaja mete-nojo, com carinha de saco de vómito, muito puxadinha para trás com ar mimado, muito cagalhona, como diria a minha amiga Diana, mas cabra que até arrepia a espinha!! Dessas que lixam as amigas, que avancalham as inimigas com sobranceria, que conquistam o gajo que tiver mais dinheiro e que morrem solitariamente, sem ninguém «porque estão fartas de homens». Portanto, fufas que se desconhecem a elas mesmas, tão cheias de si que quase rebentam. Desta tropa fazem parte as mamalhudas louras burras, as louras burras não-mamalhudas e as mimadas, que louras, morenas ou ruivas, têm pais-pagantes que lhes sustentam os vícios até vir o namorado rico, porque a existência da menina justifica isso.
O despudor das mulheres, meus amigos, não são só as senhoras de meia-idade ou mais que isso que andam nuas pelos balneários a mostrar o que já tiveram mas que a lei da gravidade tratou de atirar quase ao chão. Essas são o nosso futuro, se estivermos assim é bom, significa que chegámos à meia idade ou mais que isso e não temos vergonha, sabemos envelhecer, fomos espertas. Está bem que nem sempre é bom de ver, e que até meninas novas exibem arbustos gigantes sem qualquer preconceito, mas pronto, é um despudor agressivo do ponto de vista estético. Agora o outro despudor, o da traição descarada, o dá má língua, o do fingimento torpe, o do engano nojento, o do parzinho de cornos ao tipo bom mas parvo que teve o azar de nos encontrar pelo caminho, tenham dó, não faz de nós mulheres, mas bichos nada sociáveis. Que fazem estas pessoas no futuro? Garantem-no no presente. E como vão nadar em dinheiro e não ter preocupações nenhumas, a solução é preocuparem-se com uma casa melhor do que uma outra pessoa que invejem, por exemplo. Ou um perfume caro, ou um anel caro, ou uma roupa cara. A solução passa pelo parecer alguma coisa: fina, educada, elegante, rica, interessada nos outros. Portanto, exactamente aquilo que não se é e nunca se será, porque o dinheiro dos outros é o dinheiro dos outros, mesmo que sejam os nossos maridos, não é nosso. A elegância e a educação são dadas em casa e aprendidas com esmero fora de casa, se formos pessoas atentas e desbloqueadas de preconceitos.
Para mim, a mulher mais atraente é a que não tem medo de nada e é honesta com as suas capacidades. Portanto, eu não me incluo, já para não estarem a pensar que puxo a brasa à minha sardinha. É aquela mulher que chega e não precisa de dizer «Isto sou eu, estou bem assim». Se uma mulher chega e diz isto, então não está segura, e muitas vezes está a tramar alguma. Sim, porque nós, mulheres, passem os séculos que passarem, reprimidas ou não, somos bruxas. Umas do bem, outras do mal. Não andamos de vassoura, mas sabemos bem o que vai na cabeça das outras gajas, qual é a próxima fisgada e porquê. Esqueçam, os homens nunca nos vão entender. Lembram-se do que diziam as nossas mães? Os homens nunca ouvem nada. Pois é, é uma grande verdade. No dia em que eles nos ouvirem de verdade, dentro e fora das entrelinhas, acabou o nosso reinado de vez, porque esse é o dia em que eles vão ver a realidade em vez de olharem para sombras, e, quem sabe, passem a olhar as mulheres com os olhos da inteligência em vez de só dormirem com elas.
É verdade que os anos 60 trouxeram consigo uma liberdade que dantes não se suponha, sequer, existir. Antes disso, toda a gente usava cuecas de gola alta, meias e saias acima do joelho, collantes desconfortáveis e sui generis (quando não eram ceroulas!!). A lingerie era um conceito distante das nossas casas e o mau gosto em penteados, roupas e sapatos imperava. Ainda hoje podemos olhar mil e uma fotografias dos nossos pais e avós para pecebermos que somos sortudos em ter nascido numa época de liberdade de gosto (ou de mau gosto, também, dependendo das opiniões). Eu olho para as minhas fotografias de quando era criança e só me vem à cabeça a tristeza que não devia ser usar sempre lenços esquisitos, saias horrorosas, sapatos apertados de fivela, blusas ranhosas que o meu irmão cuspia de alto a baixo e nunca nada combinar. Depois vieram os óculos, mais precisamente aos cinco anos, e com eles uma tristeza ainda maior, porque se hoje quase todos somos míopes, dantes não era bem assim, e portanto gama de óculos para mim era como encontrar tamanhos grandes em lojas de roupa. Dantes poucos eram obesos, também.
Com a era da liberdade veio também a liberdade de expressão, em todos os domínios. Repentinamente começou-se a falar de sexo e parece que hoje não há quase nada escrito ou filmado que não aborde, de forma aberta e despudorada, o tema em questão. Esta revolução também anda de mãos dadas com a liberdade feminina, que por exemplo a minha avó desconhece por inteiro de que trata. Hoje ouvimos as mulheres falarem dos mesmos assuntos dos homens, com a mesma abertura de espírito, com a mesma postura desabrigada, para não voltar à palavra despudorada. Com toda esta liberdade também veio uma outra coisa: a falta de vergonha na cara. Dantes, nós gajas, se tínhamos um amante escondiamo-lo bem. Hoje contamos umas às outras. Dantes, se casávamos por dinheiro era porque tinha de ser. Hoje não tem nada de ser. Não há casamentos fabricados por ninguém, excepto por nós próprias, que vamos à procura dos tipos mais parvos e endinheirados para lhes dizer «casa comigo, dá-me conforto, móveis caros, uma casa com vista para o mar, um carro (ou vai-me buscar onde eu quiser!), faz-me os trabalhos de casa, diz a todos que sou boa para ti, e mais tarde, quando eu arranjar um amante, não te queixes, que um par de cornos ficam sempre bem a qualquer homem, mesmo que bem intencionado». Este é o tipo de mulher proliferante, que nem os textos do Padre Manuel Antunes, tão modernos e inteligentes, supunham que alguma vez viesse a existir.
Se sempre houve gajos despudorados, sacanas, torpes, imbecis, daqueles que levavam uma mulher à ruína, à perdição, à tortura e à terapia, desde a época das famosas Cantigas de Amor que as mulheres dão cabo dos homens, só que hoje em dia deixando-os convencidos que lhes estão a fazer um grande favor em «gostar» deles. Se o mundo mudou, as mulheres mudaram, mas os homens não, qual bichinho primitivo, como dizia a minha amiga Arlinda, que nunca se casou com nenhum. Quando eu era miúda, a minha avó dava-me cantinhos do pão para eu casar cedo, porque ela dizia que, com o meu mau feitio, nunca arranjaria ninguém para me casar. Mas a minha avó estava enganada, pelo menos em parte. Eu casei-me, tarde, é verdade, mas mau feitio não põe ninguém de lado, nem mau carácter, que penso não ser o meu caso, mas o de tantas gentis fémeas que me circundam e deambulam por aí (às vezes tãoooo pertinho que até mete nojo!). Dantes havia homens mete-nojo, e nós, gajas espertas, sabíamos quem eram: os ciumentos, os parvinhos, os violentos, os que tinham outra mas diziam que éramos a única que amavam, etc. Hoje é ao contrário, se eles são muito esquisitos ficam sem nenhuma mulher, ou nem facturam (vulgo dar uma queca). Por isso, o mundo lançou esta nova moda da gaja mete-nojo, com carinha de saco de vómito, muito puxadinha para trás com ar mimado, muito cagalhona, como diria a minha amiga Diana, mas cabra que até arrepia a espinha!! Dessas que lixam as amigas, que avancalham as inimigas com sobranceria, que conquistam o gajo que tiver mais dinheiro e que morrem solitariamente, sem ninguém «porque estão fartas de homens». Portanto, fufas que se desconhecem a elas mesmas, tão cheias de si que quase rebentam. Desta tropa fazem parte as mamalhudas louras burras, as louras burras não-mamalhudas e as mimadas, que louras, morenas ou ruivas, têm pais-pagantes que lhes sustentam os vícios até vir o namorado rico, porque a existência da menina justifica isso.
O despudor das mulheres, meus amigos, não são só as senhoras de meia-idade ou mais que isso que andam nuas pelos balneários a mostrar o que já tiveram mas que a lei da gravidade tratou de atirar quase ao chão. Essas são o nosso futuro, se estivermos assim é bom, significa que chegámos à meia idade ou mais que isso e não temos vergonha, sabemos envelhecer, fomos espertas. Está bem que nem sempre é bom de ver, e que até meninas novas exibem arbustos gigantes sem qualquer preconceito, mas pronto, é um despudor agressivo do ponto de vista estético. Agora o outro despudor, o da traição descarada, o dá má língua, o do fingimento torpe, o do engano nojento, o do parzinho de cornos ao tipo bom mas parvo que teve o azar de nos encontrar pelo caminho, tenham dó, não faz de nós mulheres, mas bichos nada sociáveis. Que fazem estas pessoas no futuro? Garantem-no no presente. E como vão nadar em dinheiro e não ter preocupações nenhumas, a solução é preocuparem-se com uma casa melhor do que uma outra pessoa que invejem, por exemplo. Ou um perfume caro, ou um anel caro, ou uma roupa cara. A solução passa pelo parecer alguma coisa: fina, educada, elegante, rica, interessada nos outros. Portanto, exactamente aquilo que não se é e nunca se será, porque o dinheiro dos outros é o dinheiro dos outros, mesmo que sejam os nossos maridos, não é nosso. A elegância e a educação são dadas em casa e aprendidas com esmero fora de casa, se formos pessoas atentas e desbloqueadas de preconceitos.
Para mim, a mulher mais atraente é a que não tem medo de nada e é honesta com as suas capacidades. Portanto, eu não me incluo, já para não estarem a pensar que puxo a brasa à minha sardinha. É aquela mulher que chega e não precisa de dizer «Isto sou eu, estou bem assim». Se uma mulher chega e diz isto, então não está segura, e muitas vezes está a tramar alguma. Sim, porque nós, mulheres, passem os séculos que passarem, reprimidas ou não, somos bruxas. Umas do bem, outras do mal. Não andamos de vassoura, mas sabemos bem o que vai na cabeça das outras gajas, qual é a próxima fisgada e porquê. Esqueçam, os homens nunca nos vão entender. Lembram-se do que diziam as nossas mães? Os homens nunca ouvem nada. Pois é, é uma grande verdade. No dia em que eles nos ouvirem de verdade, dentro e fora das entrelinhas, acabou o nosso reinado de vez, porque esse é o dia em que eles vão ver a realidade em vez de olharem para sombras, e, quem sabe, passem a olhar as mulheres com os olhos da inteligência em vez de só dormirem com elas.
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