Sunday, July 02, 2006


Eu&os Outros

Já falei inúmeras vezes nos meus blogues de expectativas. E, de facto, são elas que gerem as nossas vidas. Por vezes as nossas expectativas são irreais, desfasadas da realidade, ou erramos as nossas escolhas, o que também estiola expectativas. Mas há pessoas que, com o tempo, a maturidade, a vivência, percebem que as expectativas devem diminuir, e que a vida deve correr por trilhos mais leves, sem esperar tanto do futuro. É assim que tenho aprendido a gerir a minha vida, nestes últimos anos, tão complicados e difíceis para mim. Tudo tem sido contra as minhas expectativas. Em vez de lutar por utopias, luto por uma realidade melhor. Não pensem que é o mesmo.
Há anos atrás eu não sabia nada. Agora sei pouco, mas o pouco que sei eu sei com alguma certeza. Há anos atrás eu pensava que as pessoas que eu amava eram eternas, que a vida era imutável e que tudo aquilo pelo qual lutava eu ia conseguir. E a vida não é mesmo nada assim. Nem as pessoas são eternas, nem as coisas vêm ter rapidamente às nossas mãos – às vezes nunca vêm. Também achava que o amor era de um deslumbramento tão grande e de uma luminosidade tão poética, que jamais seria contrariado ou molestado por outrem. Jamais achei que tomar decisões, fazer opções na vida, por mais simples que nos pareçam, fosse tão complicado e magoasse tanta gente. Não tinha noção do quão incómodos podemos ser quando pensamos pela própria cabeça e somos nós próprios. Por isso, acho que sempre fui confundida com uma impostora, uma sacana, uma filha da mãe, uma ingrata, e, no meio disso tudo, fiz asneiras em todos os campos, como filha, como irmã, como neta, como amiga, como namorada. Muitas das vezes fiz asneira porque cedi a pressões, mas outras vezes fiz asneira porque não dei o braço a torcer. Fui teimosa até conseguir. Fui insistente para me defender. Fui determinada ao ponto de permanecer como sou, sem grandes desvios àquilo que considero ser a minha personalidade, aquilo que me distingue.
Não vou dizer que o mau feitio é o dos outros. Não estaria a ser modesta, nem verdadeira comigo própria. Sei bem que posso ser uma pessoa muito difícil. Mas também sei o quão fácil posso ser. Infelizmente, por mais simples que sejam as minhas opções, todos parecem reprová-las, todos parecem ter a opinião que está mal ou que «assim está mal, deveria ser de outra maneira». Quando eu ia à psicóloga, ela reduzia tudo ao mais simples «deixe os outros falarem», mas a verdade é que afecta, e muito, estar constantemente a ser reprovado em tudo. É como o aluno que tem sempre más notas: sente-se inferior e deixa de estudar. Às vezes não respondo porque deixo de lutar contra opiniões alheias. Estou, muitas vezes, chumbada à partida. Quantas vezes…
Às vezes é bom ser pateta: não perceber bem, fingir que não se percebe, ignorar consequências, ser parvinho, fingir, mentir. Compensa tanto. A parvoíce é tão lucrativa. Mas nem todos somos assim. Nem todos desculpamos o mau feitio uns dos outros, e sobretudo nem todos julgamos os outros como «bonzinhos» o resto da vida.
A Paula diz que hoje, com a minha experiência, haveria situações (e pessoas) às quais eu saberia responder. Mas eu considero-me muito parva (sem fingimentos parvos), acho que ainda hoje há pessoas e situações para as quais não tenho resposta, as quais me torturam indefinidamente. Isso faz sempre de mim uma pessoa sem grandes expectativas de felicidades cor-de-rosa, porque sei que tenho sempre de lutar.
Classifico as pessoas em três grupos (gosto muito de taxonomia): as que se resignam e aceitam as circunstâncias da vida, as que lutam o mais possível para mudar as circunstâncias e finalmente as que manipulam as circunstâncias a seu favor. Porque são as do último grupo as mais bem sucedidas? Porque é raro sermos felizes resignados, normalmente levamos uma vida discreta e fechada em raiva e ódio. Também é raro sermos felizes a lutar contra os outros: ou nos estamos a borrifar para as opiniões alheias (e isso tem de ser feito com alguma insistência e também alguma resignação espiritual), ou estamos sempre mal, porque ouvimos, ripostamos, ouvimos, ripostamos. A vida é um palco de batalhas permanentes. Finalmente o grupo dos manipuladores. São os jogadores da vida. Os estrategas. Prevêem, vêem os passos a dar, estudam o terreno, estudam as pessoas. São os psicólogos naturalmente instruídos. Egoístas e insensíveis. Se tiverem de passar por cima de alguém, paciência, desde que atinjam o seu objectivo está tudo bem. Por vezes são pessoas dissimuladas, outras vezes são pessoas simplesmente vaidosas (se forem maus jogadores até abrem o jogo). O que é certo é que ganham porque há sempre quem acredite neles e os credibilize. Na vida, são as pessoas com mais expectativas. Podem sempre tê-las, porque a seguir a um idiota que as credibilize vem sempre outro idiota. Chantagistas e manipuladores são o pão nosso de cada dia. Odeio-os sobejamente e tenho muitos problemas por causa deles. A uns topo o jogo, a outros não.
Sempre fui má jogadora. Sempre tive a sensação de estar a ser enganada por uma miríade de pessoas. Hoje em dia menos do que antes, tornei-me mais desconfiada, mais astuta e procuro ser mais sensata quando abro a boca para falar. Há sempre jogadores que ouvem e tentam copiar os nossos gestos (corremos sempre esse risco), há jogadores que antecipam as jogadas, há jogadores que a seguir sabem jogar melhor. Como no póquer, a vida junto dos outros é um jogo de emoções, trejeitos, gestos, palavras. Excepto para os amigos e familiares em quem confiemos, nunca devemos abrir o jogo. Isto foi o que aprendi com os outros.

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