«A Descida» Acabou o mês de Maio. Apesar de os amigos continuarem a ser amigos, agora já não vou falar tanto deles e vou-me dedicar a outros assuntos. O filme «A Descida», que classifico como um dos filmes de terror melhores que já vi, fala também de amizade. Da amizade pura e da amizade falsa, arrependida. O filme fala de um conjunto de raparigas, umas amigas desde há muito, outras recém-chegadas ao grupo, que fazem desportos radicais (uns mais do que outros). A sua especialidade, para a qual estão, aparentemente, preparadas de forma exímia, é escalar montanhas e fazer descidas a grutas (é mais provável que um grupo de raparigas juntas vá às compras ou faça despedidas de solteira, mas enfim…). Corajosas e destemidas, as raparigas encontram-se passado um ano da tragédia que uma delas sofreu, ao perder o marido e a filha num acidente de viação. É esta mesmo que, aventurando-se por onde não devia, fecha a entrada principal da gruta. Presas no subsolo, as raparigas descobrem que a organizadora da expedição, Juno (de origem oriental) resolvera explorar as grutas por nunca ninguém lá ter ido, não levando mapas nem sabendo se a gruta tem outra saída. Perante o dilema e o pânico entre todas elas, dá-se a vulgar culpabilização umas das outras nestas situações. Aparentemente, o inimigo é a própria gruta e a incúria (mais a hybris grega, o orgulho desmesurado, a tentativa de ultrapassar os seus próprios limites) das raparigas, mas na realidade o inimigo esconde-se no subsolo: um animal estranho, que ora aparece sozinho ora aparece aos magotes, mistura de homem, lagarto e morcego. Cego, o animal orienta-se pelo movimento da presa (não percebi bem se o faro lhe serve para alguma coisa, porque quando as meninas ficam quietas o monstro não faz nada), caçando carne nas redondezas e levando para a gruta. As raparigas chegam à conclusão de que o monstro leva esses bocados de carne por uma outra entrada, afinal marcada por antigos exploradores, provavelmente mortos ali. Para além do despique feminino e das acusações típicas entre mulheres («fizeste isto para teu gáudio», «a culpa é tua, querias o teu nome na gruta», etc.), há um outro despique de fundo que só no fim se descobre (embora haja diversos indícios, para um espectador atento): Juno andara com o marido da amiga recém-enlutada (lá estou eu a esquecer-me de nomes), era amante dele, e, parvalhona, em vez de disfarçar, leva um fio ao pescoço que o comprova - burra da Juno! - sobressai no filme, todo ele passado no escuro e na sujidade, a coragem das mulheres, que em vez de vítimas passam a predadoras, embora percam a luta contra o inimigo, também não se ficam, atacando-o como podem. Em situações extremas vê-se também quem é amigo de quem e quem estava a fingir, hipocritamente, ser amigo. Vence quem é, aparentemente, mais fraco, mas também quem tinha padecido do pior (um luto), e por isso se transforma numa lutadora sem tréguas e numa vingadora implacável (esta parte já é típica dos filmes americanos). Talvez não seja um filme muito original, à excepção de o núcleo de heróis/vítimas serem só mulheres. Monstros já vimos, filmes passados em buracos e cavernas também. A diferença é que em filmes como «Aliens», «A Caverna», «O Predador» todos vão armados, mas neste caso não. A surpresa é um factor constante. Também a força física e a destreza das raparigas (sem homens por perto, ok?), a coragem, a lucidez e a força de vontade. Como uma mulher deve ser. |
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