Monday, May 29, 2006


O casamento da Paula

E pronto. Maio a terminar, a Paula a casar. Foi o casamento do mês, para mim o do ano, não tenho agendado mais nenhum.
Tenho de ser franca, e já o disse muitas vezes. Odeio casamentos. Quebram o fim-de-semana, está sempre muito calor ou muito frio, são festas longas, intermináveis, com cenas risíveis que se repetem ano após ano. Nada supera o casamento a que a Patrícia foi, em que um senhor, possuído por ganas do diabo, atirou amendoins e rebuçados às pessoas à porta da igreja (mas que se passa na cabeça das pessoas?). A isso eu ainda não assisti, mas vou esperando sentada…
Eu e a Patrícia já decidimos que casamentos com festa não. É muito bom ver os amigos todos reunidos – calculo eu, que sou muito dada a reuniões de amigos – ou talvez ser a estrela da festa, com flaches fotográficos simultâneos, como as estrelas de cinema. Mas o resto é muito dispensável. Um dia inteiro de vestido e sapatos à cinderela, o noivo vestido à pinguim o dia todo, sem poder tirar a gravata, os convidados cada um mais excêntrico do que o outro, mas sobretudo…os rituais estúpidos e pouco higiénicos, como beber champanhe do sapato da noiva ou arrancar a liga com a boca. Espera-se sempre que os convidados não se embebedem até ao coma, e as convidadas tragam cuecas, para poderem cair de cu sem mostrar as partes íntimas. Cenas de apanhados nos casamentos é o que há mais. As figuras que as pessoas fazem para apanhar o bouquê deixam qualquer um de boca aberta. Quedas, escorreganços, desmaios súbitos de noivo e/ou noiva. Casar não parece ser coisa para qualquer um. Pelo menos não para mim nem para a Patrícia Mânfia.
O casamento da Paula não teve nada disto. Os convidados portaram-se bem (embora uns dancem melhor do que outros…), bebedeiras e cuecas à mostra não (pelo menos que eu tenha visto), nem rituais estranhos. Basicamente o casal explicou aos convivas como se conheceram, a razão do seu amor, e a base de tudo: a família e os amigos, através de fotos projectadas. Tudo foi sóbrio e conveniente, como a Paula e como o João, sem descambarem para a lamechice. A menos sóbria foi a Tembwa, que levava um vestido pornográfico e gritou «BRINDE!!» para todos se levantarem, mas esteve muito dentro da normalidade e do aceitável, tendo em conta o que eu descrevi da Tembwa no post anterior. Eu também ia mandando vários tralhos, por ter arriscado levar sapatos de salto agulha mesmo com joanetes (quem me manda ser parva?).
Só que um casamento ao domingo tem destas coisas…hoje é segunda e mal abro os olhos. Imagino como está quem ficou na festa…
Se eu casasse fazia um menu só para mim e para a Patrícia, com tofu, seitã e diversos vegetais (sem tempero). Não há direito de se discriminar vegetarianos ou tratá-los como extra-terrestres. Não comer carne é saudável e recomenda-se. Mas a Patrícia nem se pode queixar: foi tratada como uma rainha que não come carne, teve um prato só para ela de vegetais, queijo e maionese (não comeu porque leva ovos), e todos os empregados lhe vinham perguntar se era preciso mais alguma coisa. Como ela própria disse, foi um casamento fashion, bastante moderno, com um chefe de mesa parecido com o Paulo Gonzo (mas mais magro e novo), que servia exclusivamente a mesa dos noivos, só depois as nossas eram servidas pelos outros empregados. Não desfazendo todos os outros casamentos a que fui, aos quais fui, naturalmente, por franca amizade com os nubentes (ou não iria), este foi o que mais gostei, pela simplicidade e bom gosto, pelo toque clássico, pela ausência de convivas, bêbados e malcriados, a fazerem-se às moças solteiras. Claro que joguei em casa: estive sempre rodeada de amigos, e tenho a sorte de conhecer e gostar muito da família da noiva (hoje esposa…lindo nome!). Tudo foi genuíno, daquilo que conheço dos intervenientes. Se há pessoa que sempre quis casar assim, com bom gosto, simplicidade e a Ave Maria cantada quando entrasse na igreja foi a Paula. E se há pessoa de bom gosto é também o João, que escolheu a Paula para sua mulher.

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