Sunday, May 14, 2006


S.A.W. I e S.A.W. II

Para apreciadores de filmes de terror, são dois filmes brilhantes, sob todos os pontos de vista: suspense, emoção, terror puro e duro, efeitos especiais e um jogo tenebroso no qual nos sentimos enredados do início ao fim. Quem dera que todos os filmes de terror fossem feitos com este objectivo, mas hoje em dia são filmes repetitivos, saloios, de talho. Já não temos «Aliens» ou «Predadores», uma coisa verdadeiramente nova e surpreendente. Hoje, os filmes de terror são também baseados em jogos de computador (como o «Resident Evil»), ou em velhos filmes, vendas lendas (como o Drácula ou o Lobisomem). Não são originais.
Mas S.A.W. é original, mais original que o «Seven», por exemplo, embora a encenação, a teoria por detrás do filme seja a mesma: o castigo pelo pecado humano. No caso de «Seven» os pecados estão identificados e devidamente punidos, cada morte corresponde a um dos pecados, e qual das mortes a mais surpreendente e dura de aceitar. O clímax do filme, o final, é a pior e a mais dura morte de todas. Acabar mal também é um conceito que caiu em desuso. No final, o esforço do herói costuma ser recompensado, mesmo quando o herói está todo partido e em más condições para continuar, é um herói. Mas «Seven» acaba mal, percebe-se que o herói não vai recuperar daquela punição. E em S.A.W. não há redenção, ninguém é bom, ninguém é recompensado, daí a dureza do filme e da sua sequela, igualmente brilhante. O tempo e o espaço contam muito: tudo se passa em pouco tempo, umas horas, nem chega a um dia, e os espaços são mínimos, somando o espaço subjectivo da memória. Todos saem mal, todos saem punidos, e, embora gostando de punir os outros, o próprio serial killer é dos mais originais da história: um doente terminal de cancro que, sentindo a injustiça do mundo sobre os ombros, vinga-se de quem despreza a vida não padecendo de nenhuma doença. Embora seja um assassino cruel que não inspira qualquer simpatia, embora as razões dele sejam irrazoáveis, apetece tantas vezes fechar crápulas em salas de tortura e confrontá-los com aquilo que são, de facto, punindo-os pelos pecados do orgulho, da inveja, da preguiça, da cobiça, da luxúria e da gula. Também conheço quem seja assim e não sofra de porra nenhuma. E tenho raiva. Tenho raiva de pessoas com tanta sorte e tão pouco tino. Não posso punir essas pessoas, nem tenho instintos de serial killer, mas a maior parte dos dias espero que a vingança venha num prato frio e eu ainda cá esteja para ver…

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