Paulo Post
A expressão latina significa «um pouco depois», mas para mim, neste texto, pode bem significar «o post do Paulo» ou «depois do Paulo» - uma típica tradução que qualquer aluno do secundário (ou mesmo do ensino universitário) faria com gosto e dedicação.
O Paulo é o meu amigo Mongo. Eu sou a amiga Monga do Paulo. Não sabemos bem porque é que nos tratamos deste modo. Sabemos que não há qualquer desprimor nisso. O Paulo chamava-me assim por um motivo: eu era lenta e nunca percebia nada à primeira. Eu chamo-lhe Mongo porque ele me chama Monga – uma espécie de doce vingança. O Paulo é daquelas pessoas com jeito para quase tudo, aprende rápido e bem as novas tecnologias do mundo moderno, com uma destreza muito grande, que eu nunca tive. Ainda trato o Word com as suas funções mínimas e este blogue de moderno e diversificado nada tem (é o Pedro que coloca algumas imagens).
Eu e o Paulo podemos bem dizer «o mundo é um lugar estranho!». Porque é! Todas as pessoas em nosso redor sofrem de crises da mais variada espécie, o nosso cosmos vivencial é certamente um exemplo de diversidade. Conhecemos gente com problemas, com muitos problemas e com problemas extremos. Desde doidos a semi-doidos, todos passam nas nossas vidas, alguns são conhecidos comuns, outros existem na minha vida e eu partilho e saúdo a sua existência com o Paulo. O Paulo também me conta coisas das pessoas que conhece e eu não conheço. De famílias disfuncionais. De pessoas que estão para além do meu olhar e às vezes até do meu entendimento do humano. Eu e o Paulo conhecemos uma galeria tão variada de tipos que temos mais experiência do que muitos psicólogos que se dizem experientes. Vivemos nessa diversidade, não sei eu se por escolha se por acaso, ou se porque somos abertos à diferença e a deixamos entrar, mais do que isso, a espreitamos e queremos conhecê-la. Talvez seja isso. Somos curiosos e estudiosos do ser humano. Por vezes damos connosco metidos nos problemas existenciais dos outros, do outro que somos nós, também. Talvez todos nós tenhamos uma costela de anjo que muitas vezes esquecemos, de tão doloroso que é sair dos nossos próprios umbigos. Para mim é doloroso. Sou muito enclausurada na minha concha. Faz-me bem olhar. Faz-me bem ver. Faz-me bem ajudar seja quem for e como for, desde que saiba que estou a ajudar.
O Paulo é uma espécie de ponto assente na minha vida. É como se estivesse estado sempre ali, à mão de semear. Deve estar a fazer uns dez anos que o conheci, num tempo em que eu era tão imatura que metia medo a mim mesma. E até fugia de mim, tanto como fugia do mundo. Nesse tempo o Paulo já trabalhava para pagar o curso. Nesse tempo eu já gostava muito do Paulo. Não sei se hoje gosto mais porque acho que sempre gostei muito dele, mas acho que hoje sou mais madura – pelo menos um bocadinho – e posso apreciar melhor estar com ele e partilharmos as nossas mágoas mais profundas, as nossas expectativas (ou falta delas), o nosso desencanto com este país e observar a humanidade (ou a falta dela) das outras pessoas. Há uma coisa na vida que deve fazer sentido: as pessoas que escolhemos para estarem ao pé de nós. Como diz o Paulo, se continuam na nossa vida é porque temos uma lição qualquer a aprender com elas.
A Diana costuma dizer que eu e o Paulo estamos unidos por uma ferida aberta que nunca mais vai fechar: a morte dos nossos pais, do pai do Paulo, em 2000, da minha mãe, em 2001, em circunstâncias tão semelhantes que dói só de pensar. Não falamos muitas vezes disso, sabemos que não há nada a fazer senão recordar os nossos pais com carinho, pensar que estão e estarão sempre connosco.
Sabemos que os anos que sucederam à morte dos nossos pais foram secos e áridos, foram anos passados em solidão, introspecção, virados para o nosso sofrimento sem dizer grande coisa a ninguém. Às vezes acontece-nos ficarmos suspensos nesse silêncio, quase a dizer um ao outro «bolas, que azarados!», mas depois lembramo-nos dos nossos conhecidos e amigos que não têm sequer silêncio para se encontrarem consigo mesmos, que desconhecem os caminhos que vão dar ao âmago de si, ou dos conhecidos com vidas tão estranhas que nos deixam boquiabertos e tristes.
José Luís Peixoto tem um livro chamado «Cemitério de Pianos», que eu adorei ler. Quando descreve a morte do pai de uma das personagens, ele diz e bem, que não compreende porque é que o mundo continua, completamente indiferente à perda de pessoas tão importantes para nós. Para mim e para o Paulo é um pouco assim. Andar para a frente tornou-se mecânico e necessário para a nossa sobrevivência. Sabemos que se olharmos para trás ficaremos petrificados, como estátuas de sal. E sabemos que não temos outra hipótese senão a de andarmos para a frente.
O Paulo fundou há pouco tempo um blogue: www.andmyman.blogspot.com, no qual revela o melhor de si mesmo, desde pensamentos, poemas a desenhos, fotografias, escritos e notas várias. Fundou o blogue com o Zé. Neste blogue eu acho que o Paulo revela o melhor de si mesmo, que se traduz na busca constante de quem é, e nos intervalos lúdicos dessa busca, que são afinal parte dela, também.
Tenho centenas de cartas, desenhos e tenho até alguns trabalhos feitos só para mim pelo Paulo. São privilégios que o Paulo dá aos amigos, mas só aos mais chegados. Estou certa de que eu, Monga, sou uma dessas pessoas chegadas, de partilha de silêncios, de partilha de escutas atentas, de uma partilha variada de emoções, de pessoas, de situações. Muitas pessoas se movem no tabuleiro das nossas relações. Estamos todos vivencialmente em permanente movimento. Mas dê para onde der, o Mongo está perto da Monga e a Monga do Mongo.
A expressão latina significa «um pouco depois», mas para mim, neste texto, pode bem significar «o post do Paulo» ou «depois do Paulo» - uma típica tradução que qualquer aluno do secundário (ou mesmo do ensino universitário) faria com gosto e dedicação.
O Paulo é o meu amigo Mongo. Eu sou a amiga Monga do Paulo. Não sabemos bem porque é que nos tratamos deste modo. Sabemos que não há qualquer desprimor nisso. O Paulo chamava-me assim por um motivo: eu era lenta e nunca percebia nada à primeira. Eu chamo-lhe Mongo porque ele me chama Monga – uma espécie de doce vingança. O Paulo é daquelas pessoas com jeito para quase tudo, aprende rápido e bem as novas tecnologias do mundo moderno, com uma destreza muito grande, que eu nunca tive. Ainda trato o Word com as suas funções mínimas e este blogue de moderno e diversificado nada tem (é o Pedro que coloca algumas imagens).
Eu e o Paulo podemos bem dizer «o mundo é um lugar estranho!». Porque é! Todas as pessoas em nosso redor sofrem de crises da mais variada espécie, o nosso cosmos vivencial é certamente um exemplo de diversidade. Conhecemos gente com problemas, com muitos problemas e com problemas extremos. Desde doidos a semi-doidos, todos passam nas nossas vidas, alguns são conhecidos comuns, outros existem na minha vida e eu partilho e saúdo a sua existência com o Paulo. O Paulo também me conta coisas das pessoas que conhece e eu não conheço. De famílias disfuncionais. De pessoas que estão para além do meu olhar e às vezes até do meu entendimento do humano. Eu e o Paulo conhecemos uma galeria tão variada de tipos que temos mais experiência do que muitos psicólogos que se dizem experientes. Vivemos nessa diversidade, não sei eu se por escolha se por acaso, ou se porque somos abertos à diferença e a deixamos entrar, mais do que isso, a espreitamos e queremos conhecê-la. Talvez seja isso. Somos curiosos e estudiosos do ser humano. Por vezes damos connosco metidos nos problemas existenciais dos outros, do outro que somos nós, também. Talvez todos nós tenhamos uma costela de anjo que muitas vezes esquecemos, de tão doloroso que é sair dos nossos próprios umbigos. Para mim é doloroso. Sou muito enclausurada na minha concha. Faz-me bem olhar. Faz-me bem ver. Faz-me bem ajudar seja quem for e como for, desde que saiba que estou a ajudar.
O Paulo é uma espécie de ponto assente na minha vida. É como se estivesse estado sempre ali, à mão de semear. Deve estar a fazer uns dez anos que o conheci, num tempo em que eu era tão imatura que metia medo a mim mesma. E até fugia de mim, tanto como fugia do mundo. Nesse tempo o Paulo já trabalhava para pagar o curso. Nesse tempo eu já gostava muito do Paulo. Não sei se hoje gosto mais porque acho que sempre gostei muito dele, mas acho que hoje sou mais madura – pelo menos um bocadinho – e posso apreciar melhor estar com ele e partilharmos as nossas mágoas mais profundas, as nossas expectativas (ou falta delas), o nosso desencanto com este país e observar a humanidade (ou a falta dela) das outras pessoas. Há uma coisa na vida que deve fazer sentido: as pessoas que escolhemos para estarem ao pé de nós. Como diz o Paulo, se continuam na nossa vida é porque temos uma lição qualquer a aprender com elas.
A Diana costuma dizer que eu e o Paulo estamos unidos por uma ferida aberta que nunca mais vai fechar: a morte dos nossos pais, do pai do Paulo, em 2000, da minha mãe, em 2001, em circunstâncias tão semelhantes que dói só de pensar. Não falamos muitas vezes disso, sabemos que não há nada a fazer senão recordar os nossos pais com carinho, pensar que estão e estarão sempre connosco.
Sabemos que os anos que sucederam à morte dos nossos pais foram secos e áridos, foram anos passados em solidão, introspecção, virados para o nosso sofrimento sem dizer grande coisa a ninguém. Às vezes acontece-nos ficarmos suspensos nesse silêncio, quase a dizer um ao outro «bolas, que azarados!», mas depois lembramo-nos dos nossos conhecidos e amigos que não têm sequer silêncio para se encontrarem consigo mesmos, que desconhecem os caminhos que vão dar ao âmago de si, ou dos conhecidos com vidas tão estranhas que nos deixam boquiabertos e tristes.
José Luís Peixoto tem um livro chamado «Cemitério de Pianos», que eu adorei ler. Quando descreve a morte do pai de uma das personagens, ele diz e bem, que não compreende porque é que o mundo continua, completamente indiferente à perda de pessoas tão importantes para nós. Para mim e para o Paulo é um pouco assim. Andar para a frente tornou-se mecânico e necessário para a nossa sobrevivência. Sabemos que se olharmos para trás ficaremos petrificados, como estátuas de sal. E sabemos que não temos outra hipótese senão a de andarmos para a frente.
O Paulo fundou há pouco tempo um blogue: www.andmyman.blogspot.com, no qual revela o melhor de si mesmo, desde pensamentos, poemas a desenhos, fotografias, escritos e notas várias. Fundou o blogue com o Zé. Neste blogue eu acho que o Paulo revela o melhor de si mesmo, que se traduz na busca constante de quem é, e nos intervalos lúdicos dessa busca, que são afinal parte dela, também.
Tenho centenas de cartas, desenhos e tenho até alguns trabalhos feitos só para mim pelo Paulo. São privilégios que o Paulo dá aos amigos, mas só aos mais chegados. Estou certa de que eu, Monga, sou uma dessas pessoas chegadas, de partilha de silêncios, de partilha de escutas atentas, de uma partilha variada de emoções, de pessoas, de situações. Muitas pessoas se movem no tabuleiro das nossas relações. Estamos todos vivencialmente em permanente movimento. Mas dê para onde der, o Mongo está perto da Monga e a Monga do Mongo.
1 Comments:
Minha querida Monga, este texto terá um post paulo brevemente. Hoje, se calhar já não que é tarde, mas amanhã, vais ver. Obrigado por todas as palavras! Milhões de beijos e abraços
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