Os papéis
Eu sei que existe um lugar mágico, tipo Disney, onde sou feliz. Não tenho sempre acesso a esse lugar, mas às vezes acontece, com coisas tão simples como um bebé, um sorriso de um estranho, uma pessoa simpática ou uma boa notícia. Um almoço ou um jantar descontraídos, divertidos são também fonte de alegria. Muitas pessoas conhecem a via rápida que as levam a esses sítios felizes que existem dentro da cabeça. Outras pessoas não conhecem via rápida, vão pela via mais longa. Outras não chegam lá nunca. Outras já lá estiveram, vieram embora e não sabem como voltar.
A felicidade é um dos maiores mistérios da humanidade. Talvez o maior. Ao contrário do que pensamos, a felicidade é responsável por imensas criações geniais, imensos recordes batidos, imensos quadros pintados, imensas paixões.
A maior parte das pessoas diz que quando era criança era tudo mais simples, ou na adolescência. Eu acho que sempre fui uma pessoa complicada. Não me lembro de alguma coisa ser simples. Fosse chatices, fosse inveja, fosse ganância, fosse abandono, fosse excesso de super protecção, tenho ideia que sempre tive consciência de que tudo isso na minha casa era um ensaio para o mundo onde haveria de viver um dia. É verdade que o mundo onde vivo hoje é ainda mais complicado, mais cheio de ambiguidades, com muito mais reentrâncias do que eu poderia supor.
No outro dia li um livro com o qual aprendi o que inevitavelmente sempre soube desde menina (eu devia ser esperta): o mundo que vemos é apenas uma representação da realidade. E todos fazemos diferentes representações, umas bem mais verosímeis do que outras. Nessa representação temos um papel. Às vezes cabe-nos um papel injusto que queremos largar: o de vítimas, ou o de violadores, ou o de tiranos e maus da fita, ou simplesmente o de patetas que os outros gozam. Inverter. Toda a nossa vida é uma história, uma luta de inversão contra papéis que não queremos desempenhar e a favor dos papéis que realmente gostávamos de ter. Eu gostava muito de ter o papel de heroína, nas histórias, mas cabe-me sempre um muito diferente desse. As pessoas precisam de mim, ou melhor, algumas pessoas precisam de mim, a minha família precisa da representação fictícia que criou para mim, um papel que eu terei aceite durante anos contra a minha própria vontade.
Os pais. Os pais representam até ao fim da vida o papel de pais, mas outras pessoas conhecem aquelas pessoas, os nossos pais, pelos nomes, enquanto colegas, no trabalho, na amizade, no dia-a-dia. Talvez as conheçam muito melhor do que nós. Os filhos. Os filhos conhecem mesmo os pais? E os pais conhecem os filhos até que ponto? Até ao ponto em que eles representam os papéis que devem representar. Quando saem desses papéis, os pais ficam abandonados àquilo que são de facto: pessoas. Com falhas gigantes, com rupturas emocionais absurdas, com erros tremendos. Abandonados àquilo que de facto são, nem sabem quem são. Todos os nosso erros dependem, única e exclusivamente de uma coisa: o medo de nos olharmos ao espelho, de nos vermos deformados pela vida, longe do paraíso que imaginámos que poderia existir fora das nossas cabeças.
Tenho odiado severamente os papéis que desempenho na vida. Detesto ser tratada como uma garota ignorante que não sabe nada, detesto ser tratada como instigadora de problemas, detesto ser tratada como pessoa passiva, detesto ser tratada como criada que só vive para os outros. Tenho tentado dar a volta a esses papéis todos até àquele ponto em que já não vou querer saber desses papéis para nada, já que são ficções, efabulações, criações da cabeça das outras pessoas. Quando não me importar, sou feliz. Porque a felicidade é também a liberdade de existirmos como queremos, sem os papéis que nos destinaram no guião inicial.
Eu sei que existe um lugar mágico, tipo Disney, onde sou feliz. Não tenho sempre acesso a esse lugar, mas às vezes acontece, com coisas tão simples como um bebé, um sorriso de um estranho, uma pessoa simpática ou uma boa notícia. Um almoço ou um jantar descontraídos, divertidos são também fonte de alegria. Muitas pessoas conhecem a via rápida que as levam a esses sítios felizes que existem dentro da cabeça. Outras pessoas não conhecem via rápida, vão pela via mais longa. Outras não chegam lá nunca. Outras já lá estiveram, vieram embora e não sabem como voltar.
A felicidade é um dos maiores mistérios da humanidade. Talvez o maior. Ao contrário do que pensamos, a felicidade é responsável por imensas criações geniais, imensos recordes batidos, imensos quadros pintados, imensas paixões.
A maior parte das pessoas diz que quando era criança era tudo mais simples, ou na adolescência. Eu acho que sempre fui uma pessoa complicada. Não me lembro de alguma coisa ser simples. Fosse chatices, fosse inveja, fosse ganância, fosse abandono, fosse excesso de super protecção, tenho ideia que sempre tive consciência de que tudo isso na minha casa era um ensaio para o mundo onde haveria de viver um dia. É verdade que o mundo onde vivo hoje é ainda mais complicado, mais cheio de ambiguidades, com muito mais reentrâncias do que eu poderia supor.
No outro dia li um livro com o qual aprendi o que inevitavelmente sempre soube desde menina (eu devia ser esperta): o mundo que vemos é apenas uma representação da realidade. E todos fazemos diferentes representações, umas bem mais verosímeis do que outras. Nessa representação temos um papel. Às vezes cabe-nos um papel injusto que queremos largar: o de vítimas, ou o de violadores, ou o de tiranos e maus da fita, ou simplesmente o de patetas que os outros gozam. Inverter. Toda a nossa vida é uma história, uma luta de inversão contra papéis que não queremos desempenhar e a favor dos papéis que realmente gostávamos de ter. Eu gostava muito de ter o papel de heroína, nas histórias, mas cabe-me sempre um muito diferente desse. As pessoas precisam de mim, ou melhor, algumas pessoas precisam de mim, a minha família precisa da representação fictícia que criou para mim, um papel que eu terei aceite durante anos contra a minha própria vontade.
Os pais. Os pais representam até ao fim da vida o papel de pais, mas outras pessoas conhecem aquelas pessoas, os nossos pais, pelos nomes, enquanto colegas, no trabalho, na amizade, no dia-a-dia. Talvez as conheçam muito melhor do que nós. Os filhos. Os filhos conhecem mesmo os pais? E os pais conhecem os filhos até que ponto? Até ao ponto em que eles representam os papéis que devem representar. Quando saem desses papéis, os pais ficam abandonados àquilo que são de facto: pessoas. Com falhas gigantes, com rupturas emocionais absurdas, com erros tremendos. Abandonados àquilo que de facto são, nem sabem quem são. Todos os nosso erros dependem, única e exclusivamente de uma coisa: o medo de nos olharmos ao espelho, de nos vermos deformados pela vida, longe do paraíso que imaginámos que poderia existir fora das nossas cabeças.
Tenho odiado severamente os papéis que desempenho na vida. Detesto ser tratada como uma garota ignorante que não sabe nada, detesto ser tratada como instigadora de problemas, detesto ser tratada como pessoa passiva, detesto ser tratada como criada que só vive para os outros. Tenho tentado dar a volta a esses papéis todos até àquele ponto em que já não vou querer saber desses papéis para nada, já que são ficções, efabulações, criações da cabeça das outras pessoas. Quando não me importar, sou feliz. Porque a felicidade é também a liberdade de existirmos como queremos, sem os papéis que nos destinaram no guião inicial.
1 Comments:
O lugar mágico de que falas existem dentro de ti. Chama-se harmonia com o teu EU, e está acessível 24x7, se assim o desejares, para viveres bons momentos de felicidade. E o que é a felicidade? Momentos de grande plenitude interior em que estás de tal forma em paz contigo que tudo o resto à tua volta é menos importante (se não for bom) ou é sublime (porque estás atenta).
Post a Comment
<< Home