Sunday, July 16, 2006


Realidade vs. (des)ilusão no amor

Muitas vezes quem dera que o mundo fosse todo ilusão…talvez seja. Talvez seja tudo aparência, e na realidade não tenhamos de nos preocupar muito nem levar tudo tão a peito. Adoro aqueles filmes que confundem realidade com ficção, que desmascaram os nossos conceitos pré-concebidos de realidade concreta, que misturam tudo aquilo em que acreditamos.
Muitas das vezes penso que as pessoas mais frias ficam a ganhar. São mais distantes, tomam melhor as suas decisões (e até melhores decisões). Não serão as pessoas mais simpáticas do mundo, nem as mais cordiais, mas são as que melhor gerem as coisas. Pelo menos na aparência. Evidentemente que eu, como o próprio blogue indica, simpatizo muito mais com a sensibilidade. Não com as coisas sentimentalóides, com os choradinhos e merdas do género. Mas gosto muito de ver sentimentos envolvidos, de discutir sentimentos, de ficar suspensa nelas, e não vejo toda a minha vida senão assim: através das emoções. O que significa que, se não fizesse um esforço, seria uma pessoa muito pouco racional. Só que, sendo mulher, o meu lado pragmático fala alto, por isso tomo decisões que creio racionais mais ou menos a toda a hora. Se a gestão da minha vida fosse feita em função de sentimentos e de emoções, de caprichos e de vontades, eu iria todos os dias passear no jardim com o meu namorado e estava os dias todos a ver filmes no cinema e de vídeo, ou passava tempos infinitos com os meus amigos, ou ia viajar se tivesse dinheiro, ou escrevia o tempo todo. Todavia, chama-me o dever e eu espero nunca bater com a parte do cérebro que o comanda e cujo nome desconheço por falta de estudo da minha parte, porque as minhas ambições ficariam pelo caminho.
É por isto que respeito muito o cérebro, mas respeito também o coração e a falta de calculismo dos sentimentos, que por vezes nos faz escolher pessoas muito diferentes de nós para nos acompanharem na jornada da vida. Isto não significa que o coração seja estúpido. Não é mesmo. Ontem o Herman José entrevistava um rapazinho (não percebi quem era, mas cantava), e dizia-lhe «um desgosto de amor só te fazia bem». Parece estúpido, mas na verdade um desgosto de amor faz crescer imenso (a quem queira aprender com ele, naturalmente). É sempre chato falarmos de rupturas amorosas, cortes, separações, rompimentos, divórcios, mas a realidade é que nunca nos cansamos de amar, a menos que a racionalidade nos domine, e também alguma frieza. Este é para mim o busílis da questão: que acontece ao coração das pessoas que só se relacionam por interesse? Empederniu? Por vezes parecem existir pessoas que acham que quanto menos sentimentos envolvidos melhor. Na realidade pensa-se com muito mais clareza, mas perde-se a doçura, o tacto. E há coisas que perdidas são difíceis de voltar a achar, exige esforço e dedicação.
A realidade é que tudo isto pode ser ilusão e eu posso não estar certa. Talvez as pessoas que contam os tostões e fazem um esquema de vantagens antes de se casarem tenham mais razão do que eu: a vida não é uma brincadeira, devemos assegurar o futuro, a nossa própria sobrevivência, o conforto. Mas se isso tudo não tiver uma larga margem para a criatividade e o amor, quem somos nós? Antes de amar, não andámos a fazer esquemas prévios do que queríamos realmente. Amámos e pronto. Porque é que essa realidade mudou tanto, e hoje em dia não é assim? Não há faísca no olhar das pessoas, excepto para notas e a para a conta no banco?
É verdade que sempre houve casamentos por dinheiro e mulheres a enganarem homens, e homens a enganarem mulheres. Mas hoje em dia vulgarizou. Parece uma partida de mau gosto, a vida. Quem se casa por amor parece ter muito mais problemas, emocionais e económicos. E quem se casa por dinheiro não tem, simplesmente, problemas, desde que se case com alguém com bom feitio, o que geralmente acontece (são as pessoas mais parvas). Há uma enorme falta de consciência. E isso impressiona-me.
As mulheres da minha família são exemplos a seguir. Quer a minha mãe quer a minha avó casaram-se por amor contra a vontade das famílias. E casaram-se para vida toda, com homens machistas e pouco dados às lides de casa, espécie que vai caindo em desuso, mas que ainda há por aí. Escasseiam exemplos disto. É evidente que hoje em dia os tempos mudaram, e é raro as famílias fazerem oposição às pessoas escolhidas pelos filhos ou filhas, é raro existirem amores contrariados e coisas dessas. Mas também é raro vermos relações genuínas, de puro amor. Como dizia um e-mail que recebi no outro dia, para se viver em conjunto não é necessário um amor fatal, desregrado, às vezes nem é preciso gostar tanto assim…basta gostar. E para viver em conjunto é necessário muito mais do que gostar: é preciso paciência, flexibilidade, jogo de cintura, saber ouvir e respeitar, mas também saber fingir que não se ouve. Por isso eu vejo relações de amor falharem. E muitas.
Com o decorrer das nossas vidas, talvez levemos as coisas menos a peito. Talvez levemos menos a sério as palavras acres das outras pessoas. Talvez deixemos de engolir sapos, ou simplesmente nos habituemos a eles. Talvez crescer seja apenas uma ilusão e nada disto aconteça, na realidade ficamos, tal como a nossa barriga, mais flácidos, mais velhos, mais sábios, e aprendemos a gerir isso com alguma mestria. Dizem os especialistas que, com a idade, o cérebro deixa de se preocupar tanto, deixam de existir tantas crises existenciais, tantas tragédias que nos afectem. A isso talvez se chame maturidade, conquista da idade e da experiência. Quem dera eu…

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