Friday, April 14, 2006


O meu aniversário

Gostaria muito de ter exactamente o que eu queria para comemorar o dia dos meus anos. Os motivos que mais me interessam, digamos assim. Mas a realidade é outra. A realidade é que nunca temos o que queremos quando somos pessoas infelizes e desorientadas. Quando vivemos no caos e não descobrimos o cosmos, a ordem, a coerência, dentro de nós. Até podemos saber, racionalmente, que possuímos tudo para sermos felizes. Mas a realidade é que não somos. E isso não nos permite comemorar o aniversário com a alegria de uma criança de cinco anos. O que é uma pena.
No dia do nosso aniversário, nunca deveríamos ter más recordações no bolso, nem motivos para chorar ou estarmos tristes e desanimados. Devia ser um dia especial. Ou então um dia igual aos outros. Sem comemorações. Porque se queremos comemorá-lo – não sejamos hipócritas – tem de haver razão para isso. Tem de haver uma calma interior, uma sabedoria qualquer que nos diga que melhorámos, de um ano para outro, como pessoas. E eu não senti melhoria nenhuma em mim. Não avancei. Espiritualmente sou a mesma do ano passado, até mais desanimada. Por esse motivo, este ano não vou comemorar o meu aniversário. Apresento-vos as minhas 29 primaveras, o mesmo é dizer, as 29 coisas que aprendi com o tempo, aquilo a que chamamos «experiência de vida». São coisas animadas e desanimadas. Como a minha vida. Como eu. Não estão por ordem de importância, fui simplesmente lembrando-me delas, ao longo deste dia.
Não subestimar as pessoas. Aprendi que fui demasiadas vezes subestimada, por isso não faço o mesmo aos outros, a menos que não lhes reconheça capacidades para coisa nenhuma, e nesse caso o melhor é ignorar;
Ser justo. Estabeleci, na minha vida, que não faço distinções baseadas na cor, beleza, forma do nariz, sexo, indumentárias, etc. de outras pessoas. Nada disso está relacionado com o talento ou o carácter. Podemos ser formais e uma merda por dentro ou vice-versa:
Comemorar as coisas boas. Esta não sei se aprendi vezes suficientes. Mas sei que as coisas boas, pequenas, médias ou grandes são sempre boas;
Lutar. Lutar sempre pelo que desejamos, independentemente de nos acharem loucos ou atrasados mentais;
Sensibilidade e bom senso em tudo, na vida. Saber gerir as palavras, os actos, o impacto das palavras e dos actos nas outras pessoas, respeitando-lhes o espaço;
Consequências. Saber que tudo tem consequências. As boas acções geram boas consequências, mas aviso já que demoram muito. As más acções geram consequências nefastas, pelo menos para aqueles que sabem o que é uma consequência;
Valor espiritual. Saber que a vida não é feita de «coisas», objectos. Do pó viemos ao pó voltamos. Somos sentidos e sentimentos;
Valorizar a nossa mãe. O pai é fixe, mas a mãe esforçou-se mais porque nos pariu. Nascemos de alguém que sofreu nove meses a carregar-nos. Quando a mãe morre, nós somos parte dela e vamos também. Nunca nos separamos da mãe.
Valorizar os amigos. Os namorados e namoradas são amorosos, mas nem sempre são eternos. Devemos ter amigos e mais amigos na manga. Ajudam, são prestáveis, porreiros e são sempre verdadeiros mesmo que doa;
Apostar na verdade do amor. Nunca namorar/casar com alguém sem amar profundamente essa pessoa. É uma perda de tempo, de dinheiro, de paciência e de sentimentos. Nesse campo, a vida é para ser levada a sério;
Observar. Nunca basta olhar. É preciso ver para entender. Ver tudo sem espiolhar ou coscuvilhar. É bom e saudável sabermos que existem pessoas mais pobres e mais desgraçadas do que nós. É um balde de água fria merecido;
Acreditar. Não sou uma optimista, como sabem, mas confesso que acreditar é a base de tudo. Acreditar ou ter fé é a base para conseguir, é a estrutura que permite um projecto ficar de pé. Acreditar em Deus, reencarnações, Nossa Senhora de Fátima, karma, tarot, não interessa. Eu acredito nos meus amigos;
Ser fiel. A princípios, estruturas, sentimentos, pessoas, animais, tudo.
Saber que só o presente existe. O passado está morto, embora nos recordemos dele como se fosse hoje, mas é o presente que nos diz quem somos. O futuro não existe. Constrói-se no presente;
Ter o optimismo (ou a ingenuidade) de percebermos que por cada pessoa estúpida que se cruza no nosso caminho aparece uma muito muito porreira que nos ajuda;
Retribuir sempre uma ajuda, mesmo que seja muitos anos depois.
Aprender a identificar mentirosos. São perigosos, insolentes e cínicos;
Aprender que há situações, na vida, que não podemos mudar, só contornar. O melhor é aceitá-las. A resignação faz parte da vida;
Não perder tempo com a mesquinhez, a nossa ou a do próximo;
Informarmo-nos. O saber é a base de uma conversa;
Sentido de humor. Rir de tudo o que nos pareça risível. Conseguir isso é um feito, para muitas pessoas;
Utilizar o sarcasmo e a ironia só com pessoas que compreendam ambos os recursos, se não é inútil «mandar piadas»;
Ter capacidade de encaixe. Há imensas pessoas cuja única função parece ser chamar-nos de estúpidos e infernizar-nos a vida. A muitas não podemos dar resposta pronta porque delas depende o bem-estar dos outros ou simplesmente o nosso emprego. É preciso saber compreender a corrente de ar que existe na cabeça de algumas pessoas;
Descansar. Dormir, não fazer nada, namorar, dizer imbecilidades, sem nos sentirmos culpados por isso;
Não fazermos as coisas só porque os outros acham que nos encaixam como uma luva. Os outros são para serem ouvidos, mas nem sempre têm razão. Falham, como nós, e nem sempre podem saber o que vai no nosso coração,
Confiar em nós próprios. É coisa que não faço muito, mas aconselho a todos, vivamente;
Defendermo-nos. Nunca cedermos às pessoas e às situações no primeiro round. Não darmos mão à palmatória;
Sabermos ganhar e sabermos perder. Não vale a pena vangloriarmo-nos muito com uma vitória nem choramingarmos muito uma derrota. É assim mesmo. Se a derrota for muito grande, é darmo-nos como vencidos. Não tem mal nenhum ser mariquinhas;
Apostarmos na liberdade. Liberdade para amar quem queremos, fazer o que queremos, andar por onde querermos. Se não for assim, de que vale a vida?

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