Monday, August 07, 2006


Esconder o arroz doce na gaveta

Se a longo da vida conhecemos inúmeras pessoas que rapidamente apagaríamos da nossa história de vida, conhecemos outras que vão sendo escassas raridades e que nos deixam estupefactos, seja pelo brilhantismo, pela amizade, pela diferença ou mesmo pela generosidade. Muitos vivem estranhamente à parte da maldade e da corrupção. Não aceitam sequer que exista ou que entre na sua casa tal coisa. Estranham as pessoas más como se elas só existissem nos livros. Evidentemente que há também o acto de fingir a ingenuidade, que nos protege das desgraças sentimentais. Continuar naif, ao longo da vida, tem o seu quê de artístico e fantástico. Mas o não querer ver as coisas também pode ser doentio.
As paixões fatais e absurdas fazem parte deste mundo. Quando nos apaixonamos por um perfeito anormal, ou uma perfeita anormal não vemos nada à frente, simplesmente oferecemos o que temos, e normalmente a oferta é como um produto grátis para o anormal. "Viva! Encontrei um idiota cheio de guito!" Ou viva! "Encontrei uma atrasada mental para dar umas voltas e fazê-la sentir-se lixo". Algo tem de interessar ao anormal, verdadeiro aproveitador barato. Enquanto interessar fica, quando não interessar vai embora, à sua vida, para outro pouso, fazer o mesmo ou resolver a sua vida. É mais preocupante quando o anormal resolve a sua vida com a vítima, porque a partir daí só piora. Curiosamente, muitas pessoas apreciam a mentira ou estão simplesmente doentes, à espera que alguém lhe diga «amo-te», embora seja mentira, embora seja mesquinho e doentio.
É preciso sermos vividos para topar a quem devemos esconder o arroz doce. Muitas das vezes oferecemos a tijela toda a quem não merece e ainda pomos canela a cobrir o arroz, ou seja, ainda endeusamos mais a menina ou o menino. Os filhos da puta têm sempre safa, nesta vida e na próxima.
Pessoas generosas comovem-me muito. Dão tudo à espera de nada. Mas têm sempre uma má gestão das emoções. Não distinguem que do lado de lá podem estar dois tipos de pessoas: as que irão entender sua generosidade (1%) e as que se vão aproveitar (99%). Mesmo quando somos muito generosos, temos de ter cuidado. Há filhos da puta a somarem pontos na caderneta e a lucrarem com métodos de trabalho corruptivos. E isso acontece em todo o lado e sempre, bem pertinho de nós, mesmo ao lado.

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