As Fadas
No outro dia vi um filme, comprado aqui em Roma, de que gostei muito, «O Labirinto do Fauno». Não esperava gostar tanto, parecia-me uma novidade em tudo o que eu tinha visto. Era um filme espanhol e eu costumo gostar do cinema espanhol, pela brutalidade e crueza da linguagem cinematográfica. Mas este filme era mesmo muito especial, misturava a linguagem dura da guerra civil espanhola com o mundo fantástico e encantado das fadas. Por isso tinha várias histórias, que se cruzavam de uma forma maravilhosa e conexa, com um sentido particular: acreditar é que dá sentido à vida, mesmo que seja a nossa morte. Isso foi o que eu li nas entrelinhas do filme, claro. Outros espectadores poderão ler outras coisas com mais ou menos sentido, consoante a experiência de cada um, e por isso um filme é como um livro, cabe lá a nossa vida toda, a que temos e a que nunca tivemos.
Ofélia, a menina do filme, acredita em fadas e em tudo o que lê. Mas é isso que a faz suportar o sofrimento, a ruína do seu mundo precoce que a obriga a ser adulta num mundo de adultos pouco dados a brincadeiras. O cenário principal do filme é a guerra civil espanhola, na época de Franco, que obriga a racionamentos, e o cenário paralelo, a história que é contada e que aparenta pouca ou nenhuma relação, é a do mundo mágico da cabeça de Ofélia, o mundo proporcionado pelos livros, que a faz vibrar com coisas pequenas, como insectos que batem as asas de forma especial e se transformam em fadas, como labirintos com faunos e pedras mágicas. Todavia, ficamos sem saber se esse mundo existe ou é só ficcional. As cenas finais deixam dúvidas se aconteceu mesmo ou se Ofélia sonhou e morreu feliz com a perspectiva daquilo em que acreditou. Na ressurreição da mãe, de um pai que era rei, de ela própria ser filha da lua e ter essa curiosa marca no ombro esquerdo.
A cena em que a mãe a confronta com a vida real é magistral, porque Ofélia colocara uma mandrágora sob a cama da mãe para que esta ficasse bem de saúde. A mãe descobre e queima a mandrágora, gritando a Ofélia que a vida é dura, cruel e que ela terá de aprender isso da pior forma possível; pouco depois a mãe passa mal e morre. Ofélia acredita nos poderes da mandrágora que lhe dera o Fauno para que ela cumprisse atempadamente as tarefas que lhe eram destinadas, todavia a mãe não. Nem Mercedes, a criada. E muito menos o Capitão, que acha que a menina lê demais. A confrontação de Ofélia com o mundo real coloca-a em negação com o mundo das fadas, porque não consegue superar as provas. Mas é o mundo real, do qual ela está tão apartada, que ela vence pela morte, sacrificando a sua vida. No final, ganha a vida eterna assim, embora eu ache que não é uma mensagem cristã, é apenas uma mensagem com valor humano. Mesmo no pior, acreditar vale a pena. Nem que seja acreditar no que ninguém acredita.
No outro dia vi um filme, comprado aqui em Roma, de que gostei muito, «O Labirinto do Fauno». Não esperava gostar tanto, parecia-me uma novidade em tudo o que eu tinha visto. Era um filme espanhol e eu costumo gostar do cinema espanhol, pela brutalidade e crueza da linguagem cinematográfica. Mas este filme era mesmo muito especial, misturava a linguagem dura da guerra civil espanhola com o mundo fantástico e encantado das fadas. Por isso tinha várias histórias, que se cruzavam de uma forma maravilhosa e conexa, com um sentido particular: acreditar é que dá sentido à vida, mesmo que seja a nossa morte. Isso foi o que eu li nas entrelinhas do filme, claro. Outros espectadores poderão ler outras coisas com mais ou menos sentido, consoante a experiência de cada um, e por isso um filme é como um livro, cabe lá a nossa vida toda, a que temos e a que nunca tivemos.
Ofélia, a menina do filme, acredita em fadas e em tudo o que lê. Mas é isso que a faz suportar o sofrimento, a ruína do seu mundo precoce que a obriga a ser adulta num mundo de adultos pouco dados a brincadeiras. O cenário principal do filme é a guerra civil espanhola, na época de Franco, que obriga a racionamentos, e o cenário paralelo, a história que é contada e que aparenta pouca ou nenhuma relação, é a do mundo mágico da cabeça de Ofélia, o mundo proporcionado pelos livros, que a faz vibrar com coisas pequenas, como insectos que batem as asas de forma especial e se transformam em fadas, como labirintos com faunos e pedras mágicas. Todavia, ficamos sem saber se esse mundo existe ou é só ficcional. As cenas finais deixam dúvidas se aconteceu mesmo ou se Ofélia sonhou e morreu feliz com a perspectiva daquilo em que acreditou. Na ressurreição da mãe, de um pai que era rei, de ela própria ser filha da lua e ter essa curiosa marca no ombro esquerdo.
A cena em que a mãe a confronta com a vida real é magistral, porque Ofélia colocara uma mandrágora sob a cama da mãe para que esta ficasse bem de saúde. A mãe descobre e queima a mandrágora, gritando a Ofélia que a vida é dura, cruel e que ela terá de aprender isso da pior forma possível; pouco depois a mãe passa mal e morre. Ofélia acredita nos poderes da mandrágora que lhe dera o Fauno para que ela cumprisse atempadamente as tarefas que lhe eram destinadas, todavia a mãe não. Nem Mercedes, a criada. E muito menos o Capitão, que acha que a menina lê demais. A confrontação de Ofélia com o mundo real coloca-a em negação com o mundo das fadas, porque não consegue superar as provas. Mas é o mundo real, do qual ela está tão apartada, que ela vence pela morte, sacrificando a sua vida. No final, ganha a vida eterna assim, embora eu ache que não é uma mensagem cristã, é apenas uma mensagem com valor humano. Mesmo no pior, acreditar vale a pena. Nem que seja acreditar no que ninguém acredita.
2 Comments:
É talvez por a maioria já não acreditar em fadas que o prozac é tão popular!
Sim...as fadas são muito importantes mesmo. Tu vê o filme e não deixes que o Ric te chateie e conte o que vai acontecer a seguir.
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