Monday, October 01, 2007

As cartas da vida

Este foi um ano de muitas mudanças. Para mim, para muitos amigos meus, muitas amigas minhas. Há quem diga que 2007 é um ano de mudança e 2008 um ano de estagnação, do ponto de vista cósmico. Para mim 2007 foi sempre a andar, a mexer, a fazer, a destruir, a construir, a sistematizar e…a conseguir perceber alguma coisa da vida.
Em Agosto deste ano deu-se uma mudança radical na minha vida. Comecei a acreditar. Considero que isso foi uma das coisas mais positivas que aconteceu em toda a minha vida, porque há uma diferença grande na qualidade de vida de quem acredita em relação a quem não acredita. E quando digo acreditar digo acreditar seja no que for: em nós próprios, em Deus, no cosmos, na natureza, na vida. Sempre fui céptica e ateia. Até aí tudo bem, se isso tivesse alguma coisa a ver com o que sonho, com o que sinto, com o que sou. O ateísmo tem a ver o exílio de Deus, em quem deixei de acreditar e confiar há muito tempo. Mas o cepticismo, esse, não posso mais aplicá-lo à minha vida.
Tive e tenho grandes dificuldades em dar crédito a algumas das minhas intuições, sentimentos e emoções, mas de repente, no encontro fortuito com cartas de tarot, dou comigo a pensar: ali estou eu. O Pedro acredita nas cartas como espelho objectivo do pensamento. Eu simplesmente acredito nelas, ou porque o coração me diz que sim ou porque escolhi acreditar. E porque não? E se for uma escolha? E se as cartas forem uma espécie de talismã da sorte, um placebo escolhido? Porque não gostar delas, acreditar nelas na mesma?...
Este aspecto marca toda a diferença numa vida. Se acreditarmos em alguma coisa – e não falo em viciar-me em leituras de tarot – pelo menos temos um ponto de apoio. E sou franca: sempre me faltaram pontos de apoio, filosofias positivas de vida, optimismo ou crédito seja ao que for.
As cartas dão algum optimismo, mesmo quando são más e as leituras saem corrompidas pela negatividade das nossas mãos e das nossas energias, são caminhos apontados, soluções possíveis, passíveis de mudança, como nós. As cartas conferem dignidade a pensamentos que recalcamos porque muitas vezes sabemos ir ter problemas com as nossas decisões.
Descobri que é bom acreditar em alguma coisa: cartas, anjos, tarot, astrologia, ciências ocultas, xamanismo, etc. Talvez isso não enfraqueça o ser humano, o raciocínio lógico, mas o estruture de forma a enquadrar-se no mundo. Tenho ainda grandes dificuldades em acreditar na reencarnação. Acho sempre que as pessoas que morreram são como feixes de luz, ficam transformadas num ponto de luz no Universo gigante. É assim que vejo a minha mãe e o meu avô também. Transformados. Mas de reencarnação não percebo muito. Tenho vindo a aprender.
A coisa que mais gosto nas cartas é sentir-me perto da minha mãe, como se ela vivesse nesse feixe de luz que eu imagino e me fizesse companhia quando eu quero. Somos muito possessivos – queremos as pessoas que amamos ao pé de nós. A maior prova de humanidade (e de amor) é saber perder as pessoas, deixá-las ir, entregá-las ao universo. Durante uns tempos, as pessoas exercem determinados papéis no mundo, de pai, mãe, irmão, marido ou mulher. As pessoas largam esses papéis quando morrem, mas nós que vivemos nunca mais nos esquecemos deles. Queremos as pessoas de volta, mas sobretudo queremos os papéis exercidos pelas pessoas. Quando tenho saudades da minha mãe sou egoísta: não é tanto do ser humano que ela era que eu tenho saudades, mas sim do papel que ela exercia, porque me habituei a esse papel protector. Todavia ela, que já morreu, diz-me que ainda me protege. Portanto ainda exerce, noutro domínio do universo e de outra maneira completamente diferente, o mesmo papel de mãe. Cabe-me a mim saber lê-lo e é essa a aprendizagem a que me dedico agora.

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