As coordenadas
Recebemos milhares de coordenadas todos os dias, às quais estamos habituados. Se está frio levamos casaco, se chove levamos um guarda-chuva, comemos porque temos fome, bebemos porque temos sede. Tudo tem o mesmo objectivo: garantir a nossa sobrevivência física. Do mesmo modo, tentamos garantir a nossa sobrevivência psicológica, uns de uma maneira outros de outra.
Como seria nos campos de concentração nazis? Como se sentiriam pessoas acossadas num sofrimento atroz? Muitas vezes tinham de viajar com a mente para outro mundo diferente, por exemplo Eu própria aprendi a fazer isso, num estado de stress pós-traumático muito diferente do dessas pessoas. Pensava nas viagens que gostava, nos sítios que gostava. Invariavelmente ia ter sempre ao mesmo sítio: o meu sofrimento pessoal, a carregar aos ombros a vida, os dias, a falta de sol ou a falta de chuva. Sou uma insatisfeita por natureza, embora tenha, há muito tempo, acabado com os perfeccionismos abstractos. Tenho algum rigor na vida, no trabalho, nos meus valores. E confesso que em muitas coisas sou fundamentalista e antiquada. Por exemplo, não concordo em garantirmos a nossa sobrevivência à pala dos outros, nem mesmo quando isso é uma troca de serviços directa. O amor, por exemplo, não é um gabinete de serviços a prestar ao consumidor. Não tem, verdadeiramente dito, um gabinete de reclamações. Podemos respingar com o amado ou a amada, mas não podemos pedir coisas de volta, sentimentos de volta, ou a vida toda de volta. Se fôssemos espertos, pensávamos que a reencarnação é como o Pai Natal: um mito. Mas como diz a Patrícia, temos de acreditar em alguma coisa, por isso possivelmente é um mito que nos adocica a alma, que suaviza as coisas. Pronto, nada de gozar com o gordifanfas do Pai Natal e muito menos, mas muito menos, com o presépio… São mitos confeccionados com amor, quanto a mim, mas, para algumas pessoas são verdades absolutas. Há que respeitar isso.
Muitas vezes dá-me aquele baque absurdo de pensar como vivem as pessoas, aqui em Roma e em Portugal, ou em qualquer parte do mundo que, por motivos de força maior, tiveram de emigrar e vendem coisas ao preço da chuva. Portanto, este é o manifesto anti-xenófobo. Indianos, chineses, paquistaneses devem sofrer imenso nas mãos de portugueses mas, sobretudo, de italianos (ai o fascismo!). Estão segregados e a sua missão é chatear os outros para comprarem produtos que garantam a sua sobrevivência. E se me acontecesse isso? E se eu fosse obrigada a emigrar? Eu sou emigrante, mas por pouco tempo, eu volto para Portugal, pagam-me a viagem e a estadia e, apesar de não entender a língua, estou num ambiente selecto, onde me ajudam a perceber umas palavrinhas. Ser investigador é uma coisa. Mas emigrar por outros motivos deve ser terrível. Deve ser uma perda de coordenadas muito grande, como quando alguém nos morre, quando perdemos a casa, o emprego, a saúde. Eu hoje sou uma pessoa e amanhã sou outra, não sei bem quem…é o olhar no espelho e não se reconhecer, de que o Vergílio Ferreira falava na sua obra Aparição.
Que coordenadas orientam a nossa vida? Existem mesmo ou são fictícias? Será que as inventámos, que as suposemos, que são falsas, que afinal não há hipótese alguma de as aplicarmos ao mundo real, cruel e determinado por coordenadas também nossas desconhecidas?
As nossas coordenadas também constituem a nossa essência, aquilo que realmente somos, quando retiramos a ganga usual do que está fora: daquilo que parecemos, daquilo que vestimos, da nossa profissão, das nossas palavras, até. As nossas coordenadas são o resumo da forma como vivemos a vida: com coragem e determinação, com cobardia, com estratégias manipulativas do outro. Somos uma mescla. Uma mescla de coordenadas: as nossas, as dos outros, as que fomos aprendendo, as que nos dão mais jeito. Todavia, no final da vida está o resumo de tudo. Todas as coordenadas se resumem a um ponto convergente, no infinito, que resume o que somos.
Recebemos milhares de coordenadas todos os dias, às quais estamos habituados. Se está frio levamos casaco, se chove levamos um guarda-chuva, comemos porque temos fome, bebemos porque temos sede. Tudo tem o mesmo objectivo: garantir a nossa sobrevivência física. Do mesmo modo, tentamos garantir a nossa sobrevivência psicológica, uns de uma maneira outros de outra.
Como seria nos campos de concentração nazis? Como se sentiriam pessoas acossadas num sofrimento atroz? Muitas vezes tinham de viajar com a mente para outro mundo diferente, por exemplo Eu própria aprendi a fazer isso, num estado de stress pós-traumático muito diferente do dessas pessoas. Pensava nas viagens que gostava, nos sítios que gostava. Invariavelmente ia ter sempre ao mesmo sítio: o meu sofrimento pessoal, a carregar aos ombros a vida, os dias, a falta de sol ou a falta de chuva. Sou uma insatisfeita por natureza, embora tenha, há muito tempo, acabado com os perfeccionismos abstractos. Tenho algum rigor na vida, no trabalho, nos meus valores. E confesso que em muitas coisas sou fundamentalista e antiquada. Por exemplo, não concordo em garantirmos a nossa sobrevivência à pala dos outros, nem mesmo quando isso é uma troca de serviços directa. O amor, por exemplo, não é um gabinete de serviços a prestar ao consumidor. Não tem, verdadeiramente dito, um gabinete de reclamações. Podemos respingar com o amado ou a amada, mas não podemos pedir coisas de volta, sentimentos de volta, ou a vida toda de volta. Se fôssemos espertos, pensávamos que a reencarnação é como o Pai Natal: um mito. Mas como diz a Patrícia, temos de acreditar em alguma coisa, por isso possivelmente é um mito que nos adocica a alma, que suaviza as coisas. Pronto, nada de gozar com o gordifanfas do Pai Natal e muito menos, mas muito menos, com o presépio… São mitos confeccionados com amor, quanto a mim, mas, para algumas pessoas são verdades absolutas. Há que respeitar isso.
Muitas vezes dá-me aquele baque absurdo de pensar como vivem as pessoas, aqui em Roma e em Portugal, ou em qualquer parte do mundo que, por motivos de força maior, tiveram de emigrar e vendem coisas ao preço da chuva. Portanto, este é o manifesto anti-xenófobo. Indianos, chineses, paquistaneses devem sofrer imenso nas mãos de portugueses mas, sobretudo, de italianos (ai o fascismo!). Estão segregados e a sua missão é chatear os outros para comprarem produtos que garantam a sua sobrevivência. E se me acontecesse isso? E se eu fosse obrigada a emigrar? Eu sou emigrante, mas por pouco tempo, eu volto para Portugal, pagam-me a viagem e a estadia e, apesar de não entender a língua, estou num ambiente selecto, onde me ajudam a perceber umas palavrinhas. Ser investigador é uma coisa. Mas emigrar por outros motivos deve ser terrível. Deve ser uma perda de coordenadas muito grande, como quando alguém nos morre, quando perdemos a casa, o emprego, a saúde. Eu hoje sou uma pessoa e amanhã sou outra, não sei bem quem…é o olhar no espelho e não se reconhecer, de que o Vergílio Ferreira falava na sua obra Aparição.
Que coordenadas orientam a nossa vida? Existem mesmo ou são fictícias? Será que as inventámos, que as suposemos, que são falsas, que afinal não há hipótese alguma de as aplicarmos ao mundo real, cruel e determinado por coordenadas também nossas desconhecidas?
As nossas coordenadas também constituem a nossa essência, aquilo que realmente somos, quando retiramos a ganga usual do que está fora: daquilo que parecemos, daquilo que vestimos, da nossa profissão, das nossas palavras, até. As nossas coordenadas são o resumo da forma como vivemos a vida: com coragem e determinação, com cobardia, com estratégias manipulativas do outro. Somos uma mescla. Uma mescla de coordenadas: as nossas, as dos outros, as que fomos aprendendo, as que nos dão mais jeito. Todavia, no final da vida está o resumo de tudo. Todas as coordenadas se resumem a um ponto convergente, no infinito, que resume o que somos.
4 Comments:
Fiquei a pensar na ideia de eu ser um ponto (que me resume). Lembrei-me das aulas de Educação Visual onde aprendi perspectiva linear. Linear, é isso mesmo. Fernanda, assim de repetente, dei-me conta que descobri uma coisa fantástica com as tuas palavras: é bom ser um ponto. Posso sempre ver-me ao longe e pensar no caminho que escolhi ou vou escolher, e assim traçar uma linha, como na perspectiva linear, para onde eu quiser. Já pensaste em leccionar Educação Visual? Tens jeito.*
Amiga, nunca pensei leccionar Educação Visual, sou míope, lembras-te?? Mas se mesmo com miopia consigo ser uma pseudo-paleógrafa, porque não ensinar educação visual?
Sim, somos um ponto, um pontinho mesmo...não passamos disso, amiga, não vale pormo-nos em bicos de pés.LOL
Gostei dessa dos bicos de pés. Muito*
Querias o quê? Olhos em bico? Olha que hoje dei informações a japoneses, estou a desvirtuar as minhas tendências xenófobas.
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