As feministas Continua-se a ter, ainda hoje, uma ideia errada e errónea acerca do que é ser feminista. Se, nos dias que correm, a imagem das mulheres a queimarem os soutiens já desapareceu de cena, ainda temos o estigma de que a feminista é uma mulher frustrada, feia, barriguda, de pêlo na venta, pronta a barafustar por tudo e por nada, e, acima de tudo, pronta a castrar os homens. Em suma, uma mulher do bloco de Esquerda. Muitas das senhoras do BE faziam parte do ex-PSR e proclamavam nos panfletos, bastante zangadas: «Deixem de nos tratar como cadelas com o cio!». Embora seja exagerado dizê-lo desta forma, muitas vezes somos tratadas como carne para canhão. Por isso, este tipo de feminista, embora caída em desuso, ainda faz sentido nos dias que correm, tristemente o constato através da minha observação. Veja-se o que nos dizem as estatísticas: as mulheres são as maiores vítimas de agressão doméstica (raramente temos casos de mulheres que batam nos namorados/maridos, embora eu conheça casos desses), de violência de todos os tipos, de violações, quer sexuais quer dos direitos humanos (a prostituição e o tráfico de mulheres atinge níveis mundiais elevados). Por outro lado, na vida quotidiana, são muito mais sacrificadas. Embora as coisas já vão mudando, a mulher concilia mil e um papéis e é só uma. É a super-mulher, a super-mãe, a super-amante, a protectora da família, a gestora de carreira, da casa, da sua própria vida, do seu bem-estar. É sempre condicionada por estereótipos (como eu aqui já tinha referido), referentes a carreira/casamento/filhos, e referentes também a uma forma física que tem, muito a custo, de manter. Não é de admirar que, com tantas pressões, a mulher esteja mais sujeita a esgotamentos e depressões. São elas que inundam os centros de estética mas também os gabinetes dos psiquiatras (talvez também por exporem mais os seus problemas e serem mais capazes de falar do que os homens, ou por antigos estereótipos masculinos, que vêm o homem sempre como alguém forçosamente capaz de ultrapassar as dificuldades sozinho, o que também vai sendo cada vez menos verdade), novamente numa subversão das conquistas feitas ao longo das últimas décadas. Somos, também nós, as maiores vítimas dos piropos estúpidos dos homens (e até de outras mulheres), que nos vêem como um pedaço de carne com pernas, mesmo quando não fizemos nada para sermos vistas assim. Lembra aquele caso de violação nos EUA perpetrado por um padrasto a uma enteada, em que ele respondeu no Tribunal que a rapariga o tinha deliberadamente provocado com uma minissaia e andava despida pela casa, o que justificava, na perspectiva dele, o crime. Apesar de tudo isto que aqui ficou dito, continuo a achar que a feminista de pêlo na venta tem tendência a desaparecer. No outro dia li uma pequena entrevista a uma gestora, num artigo semanal que sai no Correio de Domingo acerca de mulheres com sucesso na carreira. A certa altura perguntavam-lhe porque é que ela, com quarenta anos, se tinha casado só há três (de novo o estereótipo…), e ela respondia que não tinha sido por causa da carreira, mas porque tinha demorado muito a apaixonar-se. Se esta resposta faz sentido, a resposta à pergunta seguinte não, porque lhe perguntavam se ela era feminista, e ela respondia que esse termo não fazia sentido porque estava apaixonada pelo marido e mulheres e homens eram iguais. Esta ideia de que a feminista castra os homens e, consequentemente, a paixão e o amor, penso ser falsa e quase perversa. Lutar pela igualdade não subestima os homens, nem sequer o pretende fazer. Hoje em dia, só uma louca completa pode defender que um homem não é preciso para nada. Os homens têm e continuarão sempre a ter o seu papel de namorados, maridos, pais, e não podem ser reduzidos a «reprodutores» (os bancos de esperma parecem-me redutores da condição masculina ao máximo). São ajudantes preciosos em todos os momentos da vida, se a vida é vivida em conjunto. Embora eu acredite que uma mulher possa viver bem sem um homem, nunca se casar, ou não ter filhos, isso não anula o papel deles. Penso também que ser feminista é uma condição que não pode pôr em causa o amor ou a paixão. Defender as mulheres não é o mesmo que dizer que elas não se podem apaixonar profundamente por um homem. Seria uma subversão à natureza defender o contrário. A paixão e o amor são naturais. Os homens adaptaram-se melhor ao feminismo do que as próprias mulheres. Ou muitos deles. Sabem que as mulheres podem ser tão competentes como eles, e ao mesmo tempo boas esposas, boas mães. Mas se forem concienciosos também saberão que elas não são super-mulheres, por isso é necessário que cheguem a casa e lhe permitam, também a ela, sentar-se numa poltrona a descansar, onde outrora o Archie Bunker se sentava aos gritos, para a mulher lhe trazer uma cerveja. As mulheres não se adaptaram ao feminismo. Querem ter os mesmos direitos do que os homens, jogando com as mesmas armas, quando dispõem de outras. Ou simplesmente não querem. No dia-a-dia, muitas mulheres comportam-se como se nunca tivessem tido direitos. São elas que sustentam a casa, vão buscar os filhos à escola, dão-lhes banho, fazem a comida, a limpeza da casa e permitem abusos constantes dos maridos, nunca puxando pelas capacidades que verdadeiramente têm, nunca transcendendo os papéis ditos «tradicionais», e ainda por cima acumulando outros, nunca transgredindo. Muitas não descansam o suficiente e morrem da falta de descanso, porque passaram a vida a aturar maridos difíceis, filhos mal-comportados, sogros e pais difícieis sem terem ajuda. Qualquer homem e qualquer mulher conscienciosos sabem que a vida em conjunto não é fácil, mas tem de ser sinónimo de cooperação. Não vale um lutar desregradamente por uma coisa sem a ajuda do outro. Não vale educar sozinho ou sozinha. Não vale casarmo-nos com o silêncio e sermos obrigadas a solucionar tudo. Se for assim, uma mulher chega sempre à conclusão, mais tarde ou mais cedo, que mais vale estar sozinha. O feminismo só vale em defesa da mulher se utlizado em proporções equlibradas, diariamente. Não vale como discurso vazio, abstracto, que leve as mulheres a praticar isolacionismos inconformados e frustrados. |
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