Saturday, March 25, 2006


Paris Hilton, a antítese

Há histórias do diabo…começa-se por aprender, na vida, a ser trabalhador, honesto, sincero, e depois, de um momento para outro, chegamos à idade adulta com a sensação de que tudo isso era mentira e estava adulterado. Afinal é melhor ser desonesto, mentiroso e manipulador do próximo. Paris Hilton aprendeu isso bem cedo. Os pais conquistaram a pulso o império dos hotéis Hilton, espalhados pelo mundo, e as filhas, Paris e Nikki, aproveitaram a deixa para…não fazer absolutamente nada à sombra dos pais. Paris é a que mais factura, embora as «manas» se metam nas coisas em conjunto. Em separado, ainda é mais divertido, porque Paris é a estupidez encarnada numa pessoa seminua. Não sabe o que diz, não tem vocabulário nenhum, é burra, veste-se à Verão, mesmo no Inverno, mas mesmo assim já escreveu livros (algum dos escravos dela escreveu-lhe o livro), lançou produtos de maquilhagem, linha de roupas, etc. e, pasme-se!, facturou com tudo isto mais do que o papá e a mamã numa vida de trabalho. Digam lá se não tenho razão, se esta geração sabe ou não sabe desenrascar-se. A menina só tem 21 anos e, em vez de estudar em escolas caras, dorme com meio mundo, rouba namorados às amigas num piscar de olhos, casa-se e descasa-se e, pior do que isso, procura dizer coisas inteligentes como «Vote or Die» escrito na camisola como forma de «obrigar» as pessoas a votarem (ela apoiava Kerry). Imaginem quem se esqueceu de votar? A própria Paris. Esse poço de brilhantismo e sabedoria. Essa pérola de menina oxigenada, anoréctica e, como diria uma amiga minha, bimbalhona. Nem mais. Paris, a bimbalhona, cuja frase mais conhecida é «That’s Hot!», traduzido por «Ai que fixe!», que ela utiliza para quase tudo. Com essa frase, ela vendeu camisolas como pãezinhos quentes, todas a dizerem «That’s Hot!».
A coisa que mais aprecio em Paris é o despudor com que se assume. Adoro isso, sobretudo numa mulher. Uma prostituta assumida é sempre melhor, sobretudo porque sabemos com o que contar. Não gosto, nunca gostei, nem vou gostar, de mulheres falsas e dissimuladas, de prostitutas escondidas em vidas ditas «normais», em trabalhos ditos «normais», que encornam a torto e a direito, mas em casa são «santas». A minha personagem favorita, no «Sexo e a Cidade», sempre foi a Samantha, porque não finge aquilo que não é. Sempre apreciei uma mulher mais brejeira, mas mais assumida, daquelas que se dizem sensuais, provocantes, descomprometidas e prontas a lixar o próximo. Paris é assim, até porque nada tem a perder. Não tem miolos, e entre as orelhas há uma corrente de ar que lhe areja a cabeça, mas não as ideias.
É verdade que o dinheiro que ela tem dava jeito a qualquer pessoa aqui em Portugal, cantinho de pouca gente rica e abastada (e os que o são nem de longe se comparam aos HIlton), mas na verdade Paris é a antítese da mulher perfeita: a carreira dela é a supracitada, não vale a ponta de um corno, valores morais não existem e ela nunca deve ter ouvido falar nisso, tem como ídolo a sua própria vagina (que por diversas vezes mostrou aos fotógrafos), e a maior preocupação é vestir o cão com uma toilette igual à dela, para não destoar. Paris é toda ela acessórios – ou a falta deles – e tem um medo gritante das coisas essenciais da vida, como o amor, a sabedoria, a verdade. Só há um valor que ela defende só por ser como é: a liberdade. Faz o que quer, diz o que quer, sonha com o que quer, tem o que quer. Não está fechada numa gaiola, todos os dias, de segunda a sexta (ou a sábado, ou a domingo), está só fechada na própria estupidez; não tem de fazer a lida da casa, nem de pagar os estudos, nem de ir à procura de trabalho, ou de namorado. A maior parte das pessoas tem se esforçar para ter seja o que for: emprego, casa, marido/mulher. A Paris basta existir. Ela bamboleia as ancas e tem um rol de tipos interessados, quando a maior parte das mulheres tem de ter jogos de sedução elaborados, com objectivos definidos à partida, como casar, ter filhos, ou simplesmente ser rica, o que aqui em Portugal corresponde a uma vida confortável. Paris não conhece a palavra «dificuldade»: não viu gente doente, sem ser em revistas, não passou horas, dias, semanas, em lares da 3ª idade ou hospitais, a morte não se atravessou no seu caminho (para além da morte dos seus neurónios). Nunca teve chatices pessoais, nunca teve de lutar, esforçar-se, e mesmo assim sair perdedora de uma luta. A coisa pior, para ela, foi ter perdido o cão, afinal encontrado na casa de uma vizinha que, nas palavras de Paris, «não lho queria devolver». Segundo os «papparazzi», o cão nem era o mesmo, Paris perdeu um e comprou outro para agradar à imprensa, para continuarem a falar dela, mesmo sem fazer nada. É assim que ela resolve os problemas, por substituição, por compra. Tudo lhe cai do céu, e ela retribui com um sorriso parvo. «That’s Hot!»

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